Política

Para Procurador-chefe do MPT em Alagoas, reformas não atendem ao trabalhador

Rafael Gazzaneo lembra que nenhum projeto em debate hoje no Congresso foi discutido na eleição de 2014

Por Tribuna Independente 14/04/2017 08h33
Para Procurador-chefe do MPT em Alagoas, reformas não atendem ao trabalhador
Reprodução - Foto: Assessoria

Somadas à terceirização irrestrita recém-sancionada pelo presidente Michel Temer (PMDB) e as reformas trabalhista (Projeto de Lei 6.787/2016) e da Previdência (PEC 287/2016), que tramitam no Congresso Nacional poderão quebrar o Regime Geral da Previdência Social e muitas Entidades Fechadas de Previdência Complementar. Esse assunto e a defesa de que as mudanças na legislação trabalhista propostas pelo governo federal são inconstitucionais estão entre os temas da entrevista concedida pelo procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho (MPT) em Alagoas, Rafael Gazzaneo para o jornal Tribuna Independente.

 

Tribuna Independente – Com as decisões vindas do Congresso Nacional sobre a terceirização, além da reforma da Previdência, pode se dizer que o parlamento está contra o trabalhador brasileiro?

Rafael Gazzaneo – Essas duas reformas, a Trabalhista e a da Previdência, além da Lei da Terceirização que foi inclusive promulgada e está em vigor são medidas tomadas pelo governo que assumiu após o impedimento e que quando ele [Michel Temer] assumiu foi com o compromisso, pois já havia uma promessa anterior de que assumindo colocaria essas três reformas em andamento. Está cumprindo e essa promessa não foi feita para os trabalhadores, foi obviamente para o mercado. O mercado financeiro cobra do atual governo que essas reformas sejam feitas e ele está realizando o que prometeu. Para gente relembrar historicamente, o impedimento passou pelo parlamento e o parlamento quando afastou a presidente eleita lá em 2014 o fez nesse sentido de aprovar a chamada ponte para o futuro, que já era uma espécie de esboço de programa apresentado pelo então vice-presidente e que já apontava na realização dessas reformas. Obviamente que o parlamento está inserido neste contexto porque não tem compromisso nenhum com a vontade popular, já que nenhuma dessas matérias foram discutidas na eleição de 2014 que reelegeu a então presidente Dilma. E ainda assim essas matérias sendo aprovadas realizam uma alteração bem radical em relação a vida dos trabalhadores de uma forma geral.

Tribuna Independente – As leis brasileiras são consideradas arcaicas e necessitam de revisão. Mas, a solução encontrada foi um projeto de terceirização quando Fernando Henrique Cardoso era presidente. Os atuais deputados têm condições de revisar leis?

Rafael Gazzaneo – Em princípio teriam, mas o problema é que como falei e repito, na eleição de 2014 esses temas não foram discutidos e debatidos. A ausência de legitimidade nasce exatamente desse contexto histórico. Existe um problema muito sério que no Congresso Nacional está, atualmente, composto de dezenas de políticos que estão encrencados com a Operação Lava Jato, acusados de cometerem atos de corrupção. Vários ministros do atual governo também envolvidos na operação e não acho que esse governo em razão de não ter havido discussão na eleição de 2014, em razão com toda essa relação com a Lava Jato tenha condições de levar a diante várias reformas que rompem com anos e anos de conquistas da classe trabalhadora.

Tribuna Independente – O Ministério Público do Trabalho entende que a reforma previdenciária vai proporcionar graves prejuízos aos trabalhadores rurais?

Rafael Gazzaneo – Sem dúvida. Tanto isso é verdade que o próprio presidente da República já propôs algumas alterações em relação aqueles aspectos que dizem respeito ao trabalhador rural. Se exigir, por exemplo, 25 anos de contribuição para o trabalhador rural é praticamente impossível, pois a informalidade no campo é vexatória.

Tribuna Independente – Em outra oportunidade, o presidente da Câmara de Deputados, Rodrigo Maia, disse que a justiça do Trabalho não deveria existir. Há quanto tempo existe perseguição ao Judiciário que atua nesta seara?

Rafael Gazzaneo – Os mercados de uma forma geral não gostam da atuação da justiça do trabalho e não gostam por quê? Por que a justiça do trabalho aplica um direito que foi imaginado e criado para proteger o trabalhador. O direito do trabalho sem dúvida nenhuma é um direito protetivo, tutelar e assim o faz porque imagina que na relação jurídica entre trabalhador e empregador, o trabalhador é a parte fraca dessa relação. Quando o juiz do trabalho aplica esse direito esse juiz está agindo de forma imparcial, porém aplica um direito que é claramente parcial. Ele fez essa opção de proteger o trabalhador porque entende que é a parte fraca dessa relação mantida com o empregador. Então de forma que a justiça do trabalho merece existir porque esse problema da relação com o empregador e trabalhador persiste e continuará existindo por muitos anos no Brasil. Quando o presidente da Câmara de forma irresponsável faz esse tipo de declaração, ele demonstra desconhecer completamente esse contexto em que a justiça e o direito do trabalho existem e desconhece também um número absurdo de demandas trabalhistas que chegam ao judiciário da categoria todos os dias. Outro fato é que o presidente da Câmara é filiado atualmente ao partido Democratas que cuja origem é o PDS e Arena que inclusive sustentaram o regi-me militar. Ele é um político identificado com as teses de direita então não existe muita surpresa na declaração.

Tribuna Independente – Para evitar mais desgaste ao trabalhador brasileiro, somente em contato com parlamentares no Congresso e partindo para a mobilização nas ruas?

Rafael Gazzaneo – Não tenha dúvida. A única maneira do trabalhador se defender dessa onda conservadora é se mobilizando, protestando e se organizando e demonstrando para sociedade que o direito de trabalho ainda tem espaço para continuar existindo e diria por muitos e muitos anos, considerando a realidade brasileira. Nas próximas eleições esses assuntos serão cobrados daqueles que se apresentem para ser candidatos. Naturalmente, a classe trabalhadora deve estar atenta e identificar quem de alguma forma colaborou ou poderá colaborar para a aprovação dessas leis que não atendem ao interesse da categoria.