Política

Único prefeito eleito pelo PMDB em Maceió, Djalma Falcão morre aos 83 anos

Velório acontece na capela três do cemitério Parque das Flores; sepultamento ocorre no local às 17h

Por Tribuna Hoje com Tribuna Independente e FGV 24/03/2017 11h18
Único prefeito eleito pelo PMDB em Maceió, Djalma Falcão morre aos 83 anos
Reprodução - Foto: Assessoria

Atualizada às 13h16

Morreu na manhã desta sexta-feira (24), o ex-prefeito de Maceió, Djalma Marinho Muniz Falcão. Ele foi o primeiro e único prefeito da capital alagoana eleito pelo PMDB. Ele estava internado há pelo menos uma semana no Hospital Unimed, em Maceió, com problemas respiratórios e não resistiu. O velório do político acontece na capela três do cemitério Parque das Flores e seu sepultamento está marcado para às 17h, no mesmo local.

O jornalista, advogado e professor era também conselheiro aposentado do Tribunal de Contas do Estado de Alagoas (TCE-AL).

Rui Palmeira decreta luto oficial de três dias

O prefeito de Maceió, Rui Palmeira, vai decretar luto oficial de três dias em homenagem ao ex-prefeito. “Quero expressar minhas condolências à família do ex-prefeito. Ele nos deixou, mas fica o seu exemplo de vida, ensinamentos e contribuição para a cidade. Em meu nome, em nome de minha família e de todos que fazem a Prefeitura de Maceió, externo nossos pêsames”, ressaltou o prefeito Rui Palmeira.

Tribuna Independente o entrevistou há pouco mais de um mês

Na edição de final de semana dos dias 4 e 5 de fevereiro, o repórter Carlos Amaral da Tribuna Independente conversou com Djalma Falcão sobre o PMDB e sua eleição à prefeitura de Maceió em 1985. A entrevista foi realizada na quinta-feira, 2 de fevereiro.

CONFIRA TRECHOS DA REPORTAGEM

Com 83 anos de idade, ele se lembra de muitos detalhes de sua trajetória política. Para ele, o PMDB, quando eleito prefeito de Maceió, contava com o apoio popular, reflexo da luta pela redemocratização do país. Hoje, segundo Djalma Falcão, o partido ficou descaracterizado, fruto de um processo que iniciou ainda na década de 1980.

“Nossa campanha mobilizava as pessoas e foi uma vitória bonita, com uma grande ‘boca de urna’. Mas desde então o PMDB se descaracterizou. O [José] Sarney inchou o partido e o transformou num ‘bonde’, abrindo as portas para os egressos da ditadura, que estão todos aí, como esse Romero Jucá. O Sarney também veio da ditadura. Essa gente só vive de governo. O mesmo ocorreu em Alagoas por causa do Renan Calheiros, que pôs no PMDB pessoas como Fernando Collor [eleito governador em 1986 pelo PMDB], Geraldo Bulhões e João Lyra”, exemplificou Djalma Falcão ao comentar a situação política com a Tribuna Independente.

Outro ponto enfatizado pelo único peemedebista a sentar no gabinete da Prefeitura de Maceió é que até meados da década de 1980, muitos militantes de partidos de esquerda, até então ilegais, atuavam no MDB/PMDB.

Mesmo fazendo questão de demonstrar antipatia pelo senador Renan Calheiros, Djalma Falcão afirma torcer pelo governador Renan Filho.

“Enxergo nele características que, com certeza não herdou do pai e, ao que consta, seu governo é de regular para bom”.

Questionado sobre o fato de Renan Filho ter sido o mais votado em Maceió, mesmo o PMDB não conseguindo eleger prefeitos na cidade, Djalma diz que essa relação não é direta.

“Ele [Renan Filho] só enfrentou anticandidatos. O mais próximo de ser realmente um candidato foi o Benedito de Lira”, afirmou Falcão.

Histórico

Djalma Marinho Muniz Falcão nasceu em Araripina (PE) no dia 31 de dezembro de 1933, filho de Lídio Marinho Falcão e de Florípedes Muniz Falcão. Radicado em Alagoas, formou-se em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

Seu irmão Sebastião Marinho Muniz Falcão (1915-1966), filiado ao Partido Social-Progressista (PSP), destacou-se na vida política alagoana como deputado federal por Alagoas (1951-1956 e 1963-1966) e governador do estado (1956-1961).

Como governador sofreu um processo de impeachment deflagrado em razão dos embates sangrentos entre aliados e opositores. Em 13 de setembro de 1957 foi marcada a votação do impedimento, entretanto um novo confronto onde houve mortos e feridos de parte a parte suspendeu a sessão.

Djalma Falcão, em seu livro Episódios, revela que o deputado Humberto Mendes se dirigiu à Mesa, “apalpou os sacos de areia. Ao retornar às cadeiras do plenário, recebeu um tiro nas costas e caiu. Ato contínuo, teve início a fuzilaria”.

A gravidade do fato foi levada ao presidente Juscelino Kubitschek que decretou intervenção federal no estado em 15 de setembro e no dia 18 os deputados estaduais aprovaram o impedimento do governador que foi substituído pelo vice-governador Sizenando Nabuco. Inconformado, Muniz Falcão foi ao Supremo Tribunal Federal que o repôs no cargo em 24 de janeiro de 1958.

Iniciou sua vida administrativa em 1958, durante o governo de seu irmão, como secretário de governo de Alagoas. Em 1959, tornou-se secretário da Educação e Cultura do estado.

Em 31 de março de 1964, ano em que eclodiu o movimento político-militar que depôs o presidente João Goulart, tornou-se conselheiro e presidente do Tribunal de Contas de Alagoas. Após a extinção dos partidos políticos pelo Ato Institucional nº 2 (27/10/1965), e a posterior instauração do bipartidarismo, sua família teve participação decisiva na organização em Alagoas do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição ao governo militar em cuja legenda elegeu-se deputado federal no pleito de novembro de 1966.

Iniciou seu mandato em fevereiro de 1967, quando se tornou vice-líder do MDB na Câmara em maio de 1970. No mesmo ano compareceu, como delegado, à LIX Conferência Interparlamentar, realizada em Haia, na Holanda. Deixou a cadeira no fim da legislatura, em janeiro de 1971, sem se ter candidatado à reeleição no pleito de novembro do ano anterior.

Entre 1971 e 1975, foi diretor-geral do Departamento Estadual de Educação e da Rádio Difusora de Alagoas.

Membro do Tribunal de Contas de Alagoas a partir de 1975, candidatou-se novamente à Câmara no pleito de novembro de 1978, obtendo apenas uma suplência, embora tenha sido o terceiro candidato do MDB mais votado no estado. Escolhido para assumir a presidência regional da agremiação a partir de agosto de 1979, em abril do mesmo ano declarou pretender reforçar o MDB em seu estado com a adesão de líderes políticos e empresariais alagoanos.

Com a extinção do bipartidarismo em 29 de novembro de 1979 e a consequente reformulação partidária, filiou-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), pelo qual se elegeu à Câmara dos Deputados pelo estado de Alagoas, no pleito de novembro de 1982. Assumiu seu mandato em fevereiro de 1983. Nessa legislatura, foi membro da Comissão de Constituição e Justiça e suplente da Comissão de Relações Exteriores.

Em 1985, Djalma Falcão foi indicado pelo partido para disputar a prefeitura de Maceió pela União das Oposições — PMDB, Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e Partido Socialista Brasileiro (PSB) —, depois de uma acirrada disputa com os outros dois pré-candidatos, o deputado federal Renan Calheiros e o deputado estadual Ronaldo Lessa. Teve como companheiro de chapa (vice-prefeito) o ex-deputado José Costa, presidente do PMDB alagoano.

Embora prejudicado durante o começo da campanha pela indefinição partidária, acabou saindo vencedor no pleito realizado em novembro, recebendo 38,7% dos votos válidos, contra os 35,2% dados a João Sampaio, candidato da coligação entre o Partido da Frente Liberal (PFL) e o PDS. Empossado no cargo em janeiro de 1986, exerceu o mandato até 31 de dezembro de 1988. Sua vaga na Câmara dos Deputados foi ocupada pelo primeiro suplente do PMDB, Júlio Sérgio de Maia Pedrosa Moreira.

Integrou, na condição de suplente, a chapa vitoriosa do senador Renan Calheiros para o senado. Em outubro de 1994, tornou-se membro do diretório nacional do PMDB e presidente do partido em Alagoas. Em 1997 e 1998, foi chefe da Casa Civil do governador Manuel Gomes de Barros. Em abril de 1998, assumiu a vaga no Senado em virtude da posse do titular no Ministério da Justiça. Ainda em 1998, integrou as comissões de Fiscalização e Controle e de Constituição e Justiça, e foi vice-presidente da Comissão Especial da Seca. Permaneceu no exercício do mandato até julho de 1999, quando o titular retornou ao Senado.

Casou-se com Denise Jambo Muniz Falcão, com quem teve três filhos. Seu sobrinho Cleto Falcão foi deputado federal entre 1991-1995.

Publicou os livros Um homem e seu destino (1959), Episódios — coleção Machado de Assis (1980), Resistir é preciso (1983) e Um brasileiro envergonhado (discursos, 1998).