Política

Grande quantidade de votos nulos, brancos e abstenções mostram insatisfação

Rui foi reeleito com 60,25% dos votos válidos, mas inválidos somaram 30,78% do total

Por Tribuna Independente 01/11/2016 08h18
Grande quantidade de votos nulos, brancos e abstenções mostram insatisfação
Reprodução - Foto: Assessoria

Com 241.977 votos, Rui Palmeira (PSDB) foi reeleito prefeito de Maceió no último domingo (30). Sua votação corresponde a 60,27% dos votos válidos. Entretanto, o alto índice de pessoas que não votaram em ninguém no 2º turno na capital alagoana chama a atenção. Se somados os votos brancos, nulos e as abstenções temos 30,78% dos eleitores maceioenses que optaram por não validar o voto.

Dos 579.961 eleitores maceioenses, 155.760 se abstiveram. Isso corresponde a 19,96% do total. Aqueles que anularam seu voto somaram 45.990, e 16.665 votaram em branco.

No 1º turno, as abstenções representaram 17,08% do total de eleitores. Votos Nulos, 8,65% e em branco, 3,86%. Mesmo com a boa margem do tucano em relação a Cícero Almeida, cuja votação no 2º turno foi de 159.542 (39,73% dos votos válidos), o prefeito se reelegeu com menos da metade da totalidade possível de votos. A soma dos votos no peemedebista com as abstenções, votos nulos e em branco dá 337.957.

Para a cientista política Luciana Santana, nenhum dos candidatos foi capaz de convencer boa parte dos eleitores – insatisfeitos com as opções de voto ou com o processo eleitoral – a votarem em um deles.

“Além de insatisfação, há votos de protesto e de desencanto com a política. Esse aumento é um recado para a classe política e é preciso compreendê-lo. Buscar novos caminhos, novos nomes, propostas e um choque de realidade”, analisa Luciana.

A escolha por não validar o voto não se deu somente em Maceió. No Rio de Janeiro, a soma dos votos brancos, nulo e das abstenções atingiu 45,93%. Para Luciana, várias são as hipóteses para esse comportamento do eleitorado, como o tempo de campanha e o não financiamento de empresas.

“Uma conjuntura política complicada, com crise econômica e casos de corrupção também influenciaram”.

Cícero teve desempenho melhor no 2º turno

Apesar de Cícero Almeida não ter conseguido superar seu adversário, Rui Palmeira, no 2º turno em Maceió, sua campanha obteve um resultado melhor que a do tucano se considerado apenas os votos conquistados a partir de 2 de outubro.

No 1º turno, Rui Palmeira obteve 197.384 votos e no dia 30 de outubro, 241.977. O tucano, portanto, conquistou 44.593 novos votos. Já o peemedebista obteve no dia 2 de outubro 104.036 votos e no 2º turno, 159.542, ou seja, Cícero Almeida conquistou 55.506 novos votos. A diferença de votos a mais conquistados a partir de 2 de outubro entre os candidatos foi de 10.913 a favor de Cícero Almeida.

Para Luciana Santana, isso é resultado da mudança de postura adotada pela campanha peemedebista no segundo turno. “As mudanças na campanha no segundo turno e novas estratégias para se aproximar do eleitor como o corpo a corpo, uso de redes sociais, e novos apoios”, analisa.

A margem que faltava a Rui para conquistar a vitória eleitoral neste ano foi pequena se comparada com a de Cícero Almeida. O tucano obteve 46,86% dos votos válidos no primeiro turno enquanto o peemedebista somente 24,73%. Portanto, quase o dobro em termos percentuais.

Além disso, a coligação encabeçada por Rui Palmeira elegeu 11 vereadores e ganhou a adesão de mais dois – de outras coligações – no segundo turno.

Viradas eleitorais do primeiro para o segundo turno são algo raro nas eleições no país. Este ano, entre as capitais, isso só ocorreu em Belo Horizonte com a vitória de Alexandre Kalil (PHS) contra João Leite (PSDB).

Só em 14 cidades houve virada eleitoral

Dos 57 municípios com disputa no segundo turno das eleições deste ano, apenas em 14 delas ocorreu uma virada eleitoral. O segundo colocado no 1º turno acabou por vencer a eleição. A única capital onde isso ocorreu foi Belo Horizonte, em Minas Gerais. Também em Minas, na cidade de Contagem, Alex de Freitas (PSDB) superou Carlin Moura (PCdoB).

O Rio Grande do Sul foi o estado com mais viradas eleitorais. Foram três ao todo. Em Caxias do Sul, com Daniel Guerra (PRB) vencendo Edson Nespolo (PDT); Canoas, com Busato (PTB) derrotando Beth Colombo (PRB); e em Santa Maria, onde Pozzobom (PSDB) venceu Valdeci Oliveira (PT).

Os estados de São Paulo, Espírito Santo e Pernambuco tiveram duas cidades – cada um – com a eleição do segundo colocado no primeiro turno.

Já os estados do Rio de Janeiro, Paraná e Goiás tiveram apenas uma cidade com a eleição do segundo colocado no primeiro turno.

Em Maceió, única cidade de Alagoas onde há segundo turno nas eleições municipais, somente nas eleições de 1992, o segundo colocado no 1º turno conseguiu se eleger. Na ocasião, Ronaldo Lessa (então no PSB) derrotou José Bernardes, então no PFL, segundo o Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

Nas capitais brasileiras, 14 prefeitos foram reeleitos nas eleições deste ano. Desses, sete foram para o segundo turno e todos venceram a disputa. Em Maceió, nunca um candidato à reeleição saiu derrotado das urnas.

REELEIÇÃO

A emenda constitucional da reeleição foi aprovada pelo Congresso Nacional em 1997 e passou a vigorar a partir de 1998. Em maio de 1997, o país tomou conhecimento da compra de votos de parlamentares para aprovar a medida que beneficiaria o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (PSDB).