Polícia

Empresário alagoano é alvo da PF como chefe da 'Máfia da Mineração'

Alan Cavalcante: da pobreza em Arapiraca à liderança do esquema R$ de18 bilhões que deixou rastro de destruição em Minas Gerais

Por Editoria de Política / Tribuna Independente com agências 19/09/2025 08h26 - Atualizado em 19/09/2025 09h53
Empresário alagoano é alvo da PF como chefe da 'Máfia da Mineração'
Alagoano Alan Cavalcante do Nascimento fez fortuna em Minas e é apontado como chefe da Máfia da Mineração - Foto: Reprodução

Alan Cavalcante do Nascimento nasceu em Arapiraca, no agreste alagoano, e sempre fez questão de lembrar que veio “do nada”. A juventude, marcada pela precariedade, tinha como diversão corridas de motocross e encontros no quintal de uma edícula simples. Pouco mais de uma década depois, a realidade já era outra: o ex-motociclista transformou-se em dono de um conglomerado de empresas, com capital social superior a R$ 100 milhões, espalhadas entre mineradoras, construtoras e imobiliárias, principalmente em Minas Gerais.

Preso na última quarta-feira (17), durante uma operação conjunta entre a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU), Alan é apontado pelas autoridades policiais como o líder de uma organização criminosa, uma espécie de ‘Máfia da Mineração’, responsável por um suposto esquema de corrupção envolvendo servidores públicos e empresários de Minas Gerais.

O esquema rendeu fortuna para Alan. Do nada, ele se revelou rico, milionário. O salto social foi acompanhado de um estilo de vida extravagante. Em Maceió, ele promove festas de fim de ano que duram semanas, com shows de artistas famosos, pool parties e passeios de catamarã. Sua mansão no condomínio Laguna Heliport, área mais valorizada do estado, é palco de viradas de ano com até 500 convidados. Em 2023, chegou a arrematar por R$ 1,2 milhão um blazer, um cordão de ouro e diamantes e um Rolex em um leilão beneficente organizado pelo jogador Neymar, gesto que ampliou sua visibilidade nas redes sociais.

A versão de sucesso contada pelo próprio empresário – “trabalhei de segunda a segunda, mais de doze horas por dia” – contrasta com relatórios oficiais. Em 2020, fiscais flagraram uma de suas empresas realizando extração ilegal de minério na Serra do Curral, em Belo Horizonte. Documentos da Secretaria de Meio Ambiente de Minas e da Polícia Federal indicaram que vários dos sócios formais das companhias ligadas a Alan seriam “laranjas”, sem capacidade financeira ou conhecimento técnico para gerir mineradoras.

Além disso, parte de suas empresas apresenta sedes fictícias: em Maceió, duas estariam registradas em endereços inexistentes, e uma terceira, em Arapiraca, funcionaria em uma casa simples cujos moradores sequer sabiam da existência da firma. A casa dele no Laguna, um condomínio de luxo em Marechal Deodoro, tem lago artificial, piscina e carpas.

INVESTIGAÇÃO

A investigação aponta que empresários pagavam propina para liberar projetos e fraudar licenças ambientais, para empreendimentos em Minas e outros Estados. Segundo a PF, o alagoano construiu fortuna no setor mineral, mas deixou atrás de si um histórico de devastação e negócios nebulosos.
Ao investigar o grupo liderado por Alan, a PF revelou a existência de um conglomerado com mais de 40 empresas, a principal delas a holding Minerar S/A, responsável por viabilizar fraudes em licenciamento ambiental mediante pagamento de propina. No entanto, a investigação identificou projetos em andamento, vinculados à organização criminosa, com potencial econômico superior a R$ 18 bilhões.
Durante a Operação Rejeito, foram cumpridos quase 80 mandados de apreensão e mais de 20 mandados de prisão preventiva para o chefe da organização criminosa e demais envolvidos no esquema. Foram expedidos mandados de prisão para Alagoas, mas não foram cumprimento porque os alvos já haviam deixado a capital alagoana e as prisões ocorreu em Belo Horizonte.
A PF de Alagoas não confirmou, mas esse mandado de prisão seria para Alan Cavalcante, preso na capital mineira.
Também foram presos o diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM), Caio Mário Seabra, e o ex-chefe da Polícia Administrativa da Polícia Federal, Rodrigo de Melo Teixeira, que, até o fim do ano passado, ocupava o cargo. Atualmente, Teixeira era diretor de Administração e Finanças do Serviço Geológico do Brasil (SGB), vinculado ao Ministério de Minas e Energia.

Justiça sequestra e bloqueia R$ 1,5 bilhão da organização criminosa

A Justiça Federal determinou o sequestro e o bloqueio de bens no valor de R$ 1,5 bilhão. Em Minas, foram 17 alvos, sendo que alguns deles possuíam mais de um mandado, e 15 presos, segundo apuração da TV Globo (veja quem são mais abaixo). Duas pessoas estão foragidas.
Conforme a investigação, mais de R$ 3 milhões foram pagos em propina a agentes públicos. Alguns dos alvos são suspeitos de receber mesada para favorecer os interesses da quadrilha.

ENVOLVIDOS

• Alan Cavalcante do Nascimento, apontado como chefe do grupo criminoso.

• Caio Mario Seabra, diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM) desde 2020. Advogado especialista em direito ambiental. O Senado aprovou, em 2023, a nomeação de Caio para a diretoria da ANM.

• João Alberto Paixão Lages, sócio de Alan na mesma empresa e articulador do esquema. Foi suplente de 02/2015 a 05/2016 na Assembleia de Minas Gerais. Entre 2013 e 2014, foi secretário nacional de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
• Rodrigo de Melo Teixeira, delegado da PF de Minas. É suspeito de ser sócio de uma empresa de mineração que fazia parte do esquema. Foi secretário adjunto da Secretaria de Defesa Social de Minas (2015-2016) e presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente (2016-2018). Em 2018, assumiu a Superintendência da PF e, posteriormente, atuou como secretário adjunto de Segurança da Prefeitura de Belo Horizonte (2019-2022). Até 2024, foi diretor de Polícia Administrativa da PF.

• Breno Esteves Lasmar, diretor-geral do Instituto Estadual de Florestas (IEF). Também foi diretor de Gestão das Águas e Apoio aos Comitês de Bacias da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), superintendente de Fiscalização Ambiental Integrada e chefe de Gabinete da Fundação Estadual do Meio Ambiente.

• Fernando Benício de Oliveira Paula, membro do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). Fernando é conselheiro da Associação Ambiental e Cultural Zeladoria do Planeta.

• Fernando Baliani da Silva, diretor de Gestão Regional da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM). Baliani também atuou como superintendente de Apoio à Regularização Ambiental e presidente da Câmara de Atividades Industriais, em 2023.

• Helder Adriano de Freitas, sócio de Alan na empresa mineração Gute Sicht e apontado como articulador com servidores públicos e representantes de órgãos ambientais para manipular processos de licenciamento.