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Tuvalu: país pode ser 'engolido' pelo mar e quer sobreviver como nação digital

Por g1 10/12/2023 21h05
Tuvalu: país pode ser 'engolido' pelo mar e quer sobreviver como nação digital
Ministro de Tuvalu grava vídeo para COP26 de dentro do mar para alertar que ilha está desaparecendo - - Foto: Governo de Tuvalu/Redes Sociais

Um conjunto de ilhas paradisíacas no meio do Oceano Pacífico... corre o risco de ser um dos primeiros países do mundo a desaparecer por causa das mudanças climáticas.

O ponto mais alto de Tuvalu, pequeno território no sul da Oceania, está a apenas cinco metros do nível do mar — nas próximas décadas, toda a região pode ser engolida pela água.

Como resistir?
Os cerca de 11 mil habitantes tentam continuar existindo como povo. Para isso, buscam o título de "primeira nação digital do mundo": o governo do país quer digitalizar desde a configuração física das ilhas até as danças tradicionais dos moradores. A ideia é que, digitalmente, a população possa inclusive participar de eleições.


"Nossa nação digital fornecerá uma presença on-line que poderá substituir nossa presença física e nos permitirá continuar a funcionar como um Estado", disse o ministro Simon Kofe, de Justiça, Comunicação e Relações Exteriores.

Alertas para o mundo: 'O país está na mão de vocês' - Em novembro, a Austrália fechou um acordo para receber os refugiados climáticos de Tuvalu que perderão seu território.

A crise não é uma surpresa: há anos, as autoridades tuvaluenses tentam alertar a comunidade global da urgência de ações pra combater a crise climática.

Em 2009, na Conferência do Clima (COP 15), com lágrimas nos olhos, o representante das ilhas, Ian Fry, pediu aos países em desenvolvimento que assumissem um compromisso quanto à redução de suas emissões. "O destino do meu país está nas mãos de vocês", disse Fry, à época.

Doze anos depois, em 2021, o ministro Simon Kofe exibiu um vídeo na COP 26 com um figurino inusitado para o cenário: discursou de terno e gravata, dentro do mar e com a água até o joelho.

“Estamos afundando, mas o mesmo está acontecendo com todos. Não importa se sentimos os efeitos hoje, como Tuvalu, ou daqui a 100 anos”, afirmou.

País no metaverso? Como assim?
Apesar dos alertas e dos pedidos de metas mais ambiciosas de combate à crise climática, as previsões de aumento da temperatura do planeta e de subida do nível do mar não mudaram.

"O mundo não agiu, e por isso nós, no Pacífico, tivemos de agir", disse o ministro Kofe.

Foi quando, no final de 2022, o governo anunciou que iria "transferir" o país para o metaverso.

“À medida que a nossa terra desaparece, não temos outra escolha além de nos tornar a primeira nação digital do mundo. Nossa terra, nosso oceano e nossa cultura são os bens mais preciosos de nosso povo. Para mantê-los protegidos de danos, não importa o que aconteça no mundo físico, iremos movê-los para a nuvem”.

Nesta semana, enquanto acontece a COP 28 (a cúpula do clima da ONU) em Dubai, Tuvalu anunciou o que já foi feito no projeto chamado "Future Now" (Futuro Agora). Simon Kofe informou que o país:

mapeou tridimensionalmente as 124 ilhas e ilhotas que compõem o território;
está criando um passaporte digital para que as pessoas possam continuar casando ou participando de eleições de forma on-line; investiu na infraestrutura nacional de comunicações.

"Um cabo submarino fornecerá a largura de banda necessária para mover o nosso país para a nuvem", informou Kofe.

Além de mapear digitalmente o país, as autoridades também estão perguntando ao povo tuvaluano o que eles gostariam de "salvar".

Para ser uma nação digital, Tuvalu precisa de apoio - E como fica a soberania de um país que existe apenas no mundo digital?A Convenção de Montevidéu sobre os Direitos e Deveres dos Estados, de 1933, diz que um Estado consiste em um território definido e em uma população permanente.

Em setembro deste ano, Tuvalu mudou a definição de Estado na sua Constituição. Os novos termos dizem que "o Estado de Tuvalu, dentro do seu quadro histórico, cultural e jurídico, permanecerá perpetuamente no futuro, apesar dos impactos das alterações climáticas ou de outras causas que resultem na perda do território físico" [veja imagem abaixo].

Segundo Kofe, doze nações, como as Bahamas e o Gabão, já assinaram comunicados conjuntos com Tuvalu reconhecendo essa nova definição de estado.

O primeiro-ministro de Tuvalu, Kausea Natano, disse que o país continuará existindo e que sua soberania não é negociável.