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ONU adverte que mudanças climáticas levam humanidade a catástrofe sem precedentes

Relatório mostra que 2021 teve recordes de concentração de gases, aumento do nível do mar e acidificação de oceanos

Por R7 18/05/2022 12h07
ONU adverte que mudanças climáticas levam humanidade a catástrofe sem precedentes
Derretimento de geleiras é um dos graves efeitos das mudanças climáticas - Foto: EFE

Quatro indicadores-chave da mudança climática bateram recordes em 2021, informou a ONU, com a advertência de que o sistema energético mundial conduz a humanidade para uma catástrofe.

As concentrações de gases do efeito estufa, o aumento do nível do mar, o conteúdo de calor dos oceanos e a acidificação deles "registraram valores sem precedentes" no ano passado, afirmou a Organização Meteorológica Mundial (OMM) no relatório "Estado do clima mundial em 2021".

O documento é uma "confirmação sombria do fracasso da humanidade para afrontar os transtornos climáticos", afirmou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.

Guterres advertiu que o mundo se aproxima cada vez mais de uma "catástrofe climática" devido a um "sistema energético mundial" que está quebrado. Ele pediu a adoção de medidas urgentes para uma transição para energias renováveis, que é "fácil de alcançar" e permite o afastamento do "beco sem saída" que os combustíveis fósseis representam.

A OMM declarou que a atividade humana provocou mudanças em escala planetária: na terra, no oceano e na atmosfera, com ramificações nefastas e duradouras pelos ecossistemas.

O relatório confirma que os últimos sete anos foram os mais quentes da história, de acordo com os registros disponíveis.

Os fenômenos meteorológicos vinculados à La Niña no início e fim de 2021 tiveram um efeito no resfriamento das temperaturas do planeta no ano passado. Mas, apesar disso, 2021 foi um dos anos mais quentes da história, com uma temperatura mundial média quase 1,11 grau Celsius acima do nível pré-industrial.

O Acordo de Paris pretende limitar o aumento da temperatura no planeta a +1,5°C na comparação com a era pré-industrial.

"Nosso clima está mudando diante de nossos olhos", declarou o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.

"O calor retido na atmosfera pelos gases do efeito estufa de origem humana aquecerá o planeta durante muitas gerações. O aumento do nível do mar, a acidificação dos oceanos e o aumento de seu conteúdo de calor continuarão durante séculos, a menos que sejam inventados mecanismos para eliminar o carbono da atmosfera", acrescentou.

Entre as quatro "mensagens cruciais" em termos de indicadores está o volume de concentração de gases do efeito estufa, que atingiu um novo recorde mundial em 2020, com 413,2 partes de dióxido de carbono (CO2) por milhão (ppm) no mundo, ou seja, 149% a mais que o nível pré-industrial.

Os dados revelam que a alta prosseguiu em 2021 e no início de 2022, com uma concentração média mensal de CO2 em Mona Loa, no Havaí, que alcançou 416,45 ppm em abril de 2020, 419,05 ppm em abril de 2021 e 420,23 ppm em abril de 2022.

O nível médio do mar em escala mundial atingiu um novo máximo em 2021, depois de aumentar a média de 4,5 milímetros por ano durante o período 2013-2021.

"Esse número, que é mais que o dobro do registrado entre 1993 e 2002, deve-se principalmente a uma perda de massa mais rápida dos mantos de gelo", indica o documento.

A temperatura dos oceanos também chegou a um nível recorde no ano passado, e o calor "está penetrando em áreas cada vez mais profundas". "A camada superior dos oceanos, até 2.000 m de profundidade, permaneceu aquecendo em 2021 e tudo indica que isso continuará no futuro, uma mudança irreversível em escalas de tempo de centenas a milhares de anos", afirmou a OMM.

Os oceanos absorvem quase 23% das emissões anuais de origem humana de CO2 que se acumulam na atmosfera. Embora isso desacelere o aumento das concentrações atmosféricas de CO2, este reage com a água do mar e leva à acidificação dos oceanos.

Durante esse período, o relatório mostra que o buraco na camada de ozônio sobre a Antártida foi "extenso e profundo", atingindo o máximo de 24,8 milhões de km², uma superfície equivalente ao tamanho da África.

António Guterres propôs cinco ações para estimular a transição para energias renováveis, incluindo incentivar um maior acesso a tecnologias e materiais de energia renovável, triplicar os investimentos privados e públicos em energias renováveis e acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis.

"Se agirmos em união, a transformação das energias renováveis poderá ser o projeto de paz do século 21", concluiu Guterres.