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Putin passa recado para o Ocidente com teste de míssil balístico

Por Correio Braziliense 21/04/2022 13h20
Putin passa recado para o Ocidente com teste de míssil balístico
Rússia testa míssil balístico intercontinental de nova geração capaz de transportar ogivas nucleares - Foto: Ministério da Defesa da Rússia

O aviso do Kremlin veio em forma de lançamento do Sarmat, um míssil balístico intercontinental de nova geração capaz de alcançar alvos a 18 mil quilômetros de distância e de carregar ogivas nucleares. Às 15h12 de ontem (9h12 em Brasília), o projétil alcançou o céu no cosmódromo de Plesetsk, 800km ao norte de Moscou. 

Enquanto os bombardeios prosseguiam na Ucrânia e pouco depois do teste bélico, o presidente russo, Vladimir Putin, comemorou o sucesso do disparo em tom de intimidação. "Ele (Sarmat) não tem análogo no mundo e não terá por muito tempo. Essa arma verdadeiramente única reforçará as capacidades de combate das nossas forças armadas, protegerá de forma confiável a segurança da Rússia contra ameaças externas e fará aqueles que ameaçam nosso país com uma retórica desenfreada e agressiva pensarem duas vezes", declarou Putin.

O major-general russo Igor Konashenkov, porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, explicou que o míssil atingiu o objetivo a mais de 5 mil quilômeros de Plesetsk: a Península de Kamchatka, no extremo leste. "Uma vez finalizado o programa de provas, o Sarmat passará a fazer parte das forças estratégicas russas", assegurou. Os Estados Unidos minimizaram a importância do teste. Segundo John Kirby, porta-voz do Pentágono, Moscou "notificou devidamente" Washington sobre o lançamento, em virtude de obrigações impostas pelo Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). Ele também disse que o Sarmat não representa uma ameaça para os EUA e seus aliados.

Diretor de Estratégia, Tecnologia e Controle de Armas do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos (em Berlim), William Alberque afirmou ao Correio que a Rússia tinha realizado os chamados "testes de ejeção", nos quais o míssil é empurrado para fora do silo e há o acionamento do primeiro estágio do lançamento. 

"Essas operações ocorreram em dezembro de 2017, em março de 2018 e em maio do mesmo ano", lembrou. "O teste de hoje (ontem) é, supostamente, o primeiro completo de todos os estágios, com a Rússia relatando que as ogivas alcançaram a Península de Kamchatka, a cerca de 5.700km. Vale destacar que Moscou pretendia realizar este teste na primavera de 2019, mas os mísseis somente começaram a ser posicionados no silo em 2021. O programa está significativamente atrasado."

Por sua vez, Nikolai Sokov, especialista do Centro para Desarmamento e Não Proliferação de Viena (VCDNP), considerou o lançamento do Sarmat como "um evento rotineiro". "O programa estava em andamento desde 2011 e chegou a uma conclusão lógica após um atraso de aproximadamente 42 meses", disse à reportagem. 

Ele vê "provável coincidência" no fato de o teste ter sido feito no momento em que a Rússia trava uma guerra. "É óbvio que declarações propagandísticas inevitáveis foram dadas por ocasião do teste, mas não são diferentes de afirmações similares sobre a conclusão de outros programas bélicos anteriores."

De acordo com Sokov, o Sarmat foi desenhado com o propósito de penetrar o sistema de defesa antimísseis dos Estados Unidos, além de ser parte da capacidade dissuasiva nuclear da Rússia. 

"A escolha por um míssil balístico intercontinental pesado foi determinada por sua versatilidade: ele pode carregar muitas variantes de carga útil — várias ogivas, além de auxiliares de penetração de defesa projetados para enganar um sistema de defesa antimísseis e manobrar ogivas supersônicas", comentou.