Interior
Assombrações e milagres em igreja à beira do Velho Chico
Templo aguça imaginário popular em povoado de Belo Monte

Na segunda reportagem sobre as histórias, lendas e assombrações da igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, construída em 1694 e que funcionava como cemitério entre os municípios de Belo Monte (AL) – a 209 Km da capital Maceió - e Porto da Folha (SE), à beira do Rio São Francisco - o Velho Chico -, a Tribuna mostra que nem sempre de histórias bonitas como a do Imperador Pedro II (contada na primeira reportagem) vive o templo encravado no Povoado da Barra do Ipanema, em pleno sertão de Alagoas.
A Tribuna conversou com alguns moradores e eles juram que, além dos milagres, há também fatos estranhos e assombrosos que circundam o imaginário da população desse templo de 331 anos de história. Não à toa, há vários túmulos no interior da igreja, na parte externa e, de quebra, ainda existe um cemitério a poucos metros dessa mesma capela.
Um desses personagens é Antônio Silva, 71 anos, nativo da Barra do Ipanema, povoado de Belo Monte que garante ter presenciado um fenômeno de assombração pertinho da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres.

“Eu tinha por volta de 13 ou 14 anos e não tinha ninguém por lá essa hora. Nesse dia fui catar umas bombinhas de festa lá na igreja por volta de umas 5 horas da tarde. E o que aconteceu quando estava catando é que ouvi um baque enorme cujo som vinha de dentro da igreja. Olhei e não vi ninguém, meu coração bateu forte. Me assustei e corri com medo daquele baque forte, porque pensei que tinham derrubado as portas da igreja e saí correndo de morro abaixo”, garante Antônio.
Depois de algum tempo, ele diz que tomou coragem e voltou ao local. “Não tinha ninguém lá dentro, mas estava tudo bonitinho, tudo direitinho. Não tinha nada quebrado, não tinha nada bagunçado”, completa.
Já adulto, Antônio conta que foi pescar à meia-noite com um colega no Rio São Francisco, no entorno da Igreja, e diz que ouviu muitas palmas fortes vindas de um juazeiro perto do cemitério, que também fica pertinho da Igreja. Assustados, eles soltaram a rede e voltaram para casa, sem saber a origem das palmas.
“Olha, não é história de pescador, realmente vi e ouvi as palmas, assim como meu colega, mas tenho certeza que era algo diferente naquele juazeiro”, atesta.
Outro que jura ter visto coisas estranhas no entorno da Igreja é José Ferreira, 67 anos. Ele relembra um incidente de pesca noturna no canal dos Prazeres, onde ele e um amigo avistaram um fogo estranho que se movia e mudava de forma. “O fogo perseguiu a gente, mudando de forma e cor, e tivemos medo de que ele entrasse no barco”, relata Ferreira.

Ele também descreve uma luz misteriosa que costumava aparecer no morro da igreja, movendo-se sobre a água e desaparecendo em seguida.
“Olha, sei que as pessoas podem pensar que isso é coisa da imaginação, mas não é”, garante Ferreira, ao fazer questão de enfatizar que sua avó contava histórias semelhantes por aquelas bandas. “Minha avó também falava de um milagre de Nossa Senhora dos Prazeres, onde uma criança que caiu na água foi encontrada salva em uma pedra após a mãe fazer uma promessa”, emenda. “Moradores locais e pessoas de Sergipe fazem promessas à santa, e muitos testemunham a realização de suas promessas, por isso tenho certeza que Nossa Senhora dos Prazeres é uma santa milagrosa”, conclui.
FÉ E A CONQUISTA DA CASA PRÓPRIA: NOSSA SENHORA DÁ AQUELA FORÇA
Se por um lado as histórias de assombração ocupam o imaginário de boa parte da população do povoado de Barra do Ipanema, em Belo Monte, por outro essa mesma população acredita fielmente nas coisas boas, nos milagres, tendo como autora Nossa Senhora dos Prazeres, a padroeira do lugar.
É o caso de Josineide Lima, que nasceu no povoado. Ela conta que por muitos anos queria se livrar do aluguel e pediu a Deus por uma casa perto da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres.

“Eu rezava o terço todas as madrugadas e ia à igreja, pedindo por um teto e para fazer uma cirurgia na tireoide que me incomodava muito”, conta Josineide. “Eu falava com Nossa Senhora em silêncio pedindo esses desejos, não contava para ninguém, passei seis anos rezando em segredo”, relata.
E certo dia, já em Salvador, onde fez a cirurgia e passou um tempo morando, uma das cinco filhas ligou dizendo que a casa que ela tanto desejava perto da igreja estava à venda. O dono do imóvel era um senhor conhecido. “Quando ele soube que eu desejava comprar, disse a minha filha que para me venderia pela metade do preço. Ele pedia 40 mil e pra mim faria por 20 mil. Olha, isso foi um milagre de Deus, de Nossa Senhora dos Prazeres, ela atendeu minhas preces”, se emociona. No fim das contas, Josineide vendeu um terreno que tinha para conseguir o dinheiro e comprou a casa a prazo.
Quem também dá graças à Nossa Senhora dos Prazeres é Ediene Santana Nunes, que foi zeladora da Igreja por 40 anos. Hoje com 80 anos de idade, ela conta que teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC), enquanto rezava o terço na igreja. “Tive um AVC e não conseguia falar nem andar. Pensei que tinha chegado meu fim, mas orava muito e alcancei a graça de voltar a andar”, diz Dona Ediene. O AVC foi em 2013 e passou 12 anos se recuperando. Todo o seu lado direito do corpo ficou dormente.
Com o AVC, Dona Ediene chegou a ser levada para o hospital de Porto da Folha, do lado de Sergipe. “Mas o médico disse a meus filhos que não tinha condições de eu ficar lá por causa da precariedade. Aí me trouxeram de volta aqui pra casa, passamos a noite, e aí no outro dia um sobrinho meu me levou para Maceió. Aí me internaram no HGE de Maceió e passei muitos dias lá e me recuperei”.
Ela conta que rezava para Nossa Senhora dos Prazeres pedindo socorro. Um dia, sua voz voltou e ela começou a rezar o ofício. As enfermeiras e o médico ficaram admirados. Começou a andar com a ajuda das enfermeiras e recebeu alta. Por conta desse episódio, teve que abandonar a função de zeladora. “Por causa desse milagre, hoje estou aqui andando e dando entrevista para vocês”, brinca a ex-zeladora da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres.
“A igreja não é mal-assombrada, mas um lugar de espiritualidade”, defende a pesquisadora Girlene Monteiro, responsável por ter entrado com processo de tombamento junto ao Iphan.
A IGREJA DE NOSSA SENHORA DOS PRAZERES
• A Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, que fica no alto do morro na região da Barra do Ipanema (próximo à Ilha do Ouro), é destacada como um importante patrimônio histórico.
• Ela é considerada por alguns como uma das igrejas mais antigas de Alagoas, com uma inscrição na fachada que remete a 1694.
• A igreja está localizada em um ponto que se impõe entre os municípios de Belo Monte (AL) e Porto da Folha (SE), no Povoado de Barra do Ipanema (do lado alagoano), entre o Rio São Francisco e a foz do Rio Ipanema.
• Na parte interna os túmulos eram divididos por categorias: pecadores, anjos e virgens.

• Já na externa, existem três túmulos em frente à igreja de Nossa Senhora dos Prazeres.
• O túmulo maior pertence a Francisco Pereira do Bonfim, que seria da família do Dr. Jason de Jaume, possivelmente bisavô.
• Há um túmulo de criança, referido como o “do anjinho”, sobre o qual não se tem informações.
• O terceiro túmulo é de Piduca Lima, da família Rodrigues da Barra, que trabalhou na região e pediu para ser enterrado em frente à igreja.
• A festa da padroeira no povoado ocorre em 27 de agosto.
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