Interior
Nossa Senhora dos Prazeres, a história da igreja que encantou Dom Pedro II
Templo fica localizado no Povoado de Barra do Ipanema, em um ponto que se impõe entre os municípios de Belo Monte (AL) e Porto da Folha (SE), à beira do Rio São Francisco

Histórias que mesclam relatos de assombrações, milagres e muita fé. Isso é o que o jornal Tribuna Independente e o portal Tribuna Hoje vão contar a partir desta sexta-feira (17), em reportagem especial sobre a história da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres.
Localizada no Povoado de Barra do Ipanema, em um ponto que se impõe entre os municípios de Belo Monte (AL) – a 209 Km da capital Maceió - e Porto da Folha (SE), à beira do Rio São Francisco - o Velho Chico -, a Igreja Nossa Senhora dos Prazeres é uma construção do século 17, que resiste no alto de um morro chamado Ilha do Ouro, na foz do Rio Ipanema, que deságua no São Francisco, e que atrai milhares de fiéis ao longo de mais de 300 anos, uma vez que a construção ocorreu em 1694.
Entre as histórias que o povo conta, o leitor saberá sobre os túmulos localizados na parte interna da igreja eram divididos por categorias: pecadores, anjos e virgens e que a coroa do imperador Dom Pedro II e o símbolo dos jesuítas estão presentes na igreja e que a imagem de Nossa Senhora dos Prazeres foi achada por um caçador debaixo de uma pedra.
A capela foi construída em duas etapas: a primeira quando a imagem foi achada e a segunda após o milagre de uma menina que sumiu e foi encontrada na margem do rio.
A pesquisadora Girlene Monteiro, profissional responsável por ter entrado com processo de tombamento junto ao Iphan, explica seu envolvimento na preservação da Igreja do Século XVII.
“Nossa intenção é defender a restauração para preservar as características originais. Fiz uma pesquisa extensa em Lisboa, Recife, São Paulo e Salvador e entrei com o processo de tombamento pelo Iphan e pelo Estado devido à pesquisa realizada”, diz Girlene.
E por falar em Dom Pedro II, a série de reportagens que abre essa série traz relatos sobre a visita do imperador a Alagoas no ano de 1859, fazendo parte de uma grande viagem que ele fez pelas províncias do Norte (atual Nordeste) do Brasil. Essa visita foi bastante significativa e está bem documentada em seu diário e que inclui, como revela a Tribuna nesta reportagem, o município de Belo Monte, de modo específico o Povoado de Barra de Ipanema, onde ele tece elogios.

O DIÁRIO DO IMPERADOR E
UMA CERTA LAGOA FUNDA
Quando esteve na então província de Alagoas naquele longínquo outubro de 1859, a parte mais notável da viagem do imperador foi a expedição pelo Rio São Francisco, começando pela então vila de Piaçabuçu, na foz do rio. Nesta reportagem, a Tribuna revela alguns detalhes.
A expedição durou cerca de dez dias e ele percorreu povoados ribeirinhos por barco e a cavalo, cobrindo cerca de 220 km de barco e 87 km a cavalo. O roteiro incluiu diversas cidades alagoanas e também trechos em Sergipe, Pernambuco e Bahia, como a visita à famosa Cachoeira de Paulo Afonso (na divisa entre Alagoas e Bahia).
Em um dos documentos a que a Tribuna teve acesso do Diário do Imperador, Dom Pedro II relata com entusiasmo as belezas naturais que ele encontrou no lugar onde atualmente localiza-se o Povoado de Barra do Ipanema, no município de Belo Monte e que ele denomina de “Lagoa Funda”, conforme explica a pesquisadora.
Na publicação, em um trecho de seu diário, Dom Pedro chama o rio que desemboca no São Francisco de “Panema”.
Veja abaixo as transcrições.

“Admira-se a Serra das Mãos, cujos picos representam dedos. O Monte Ayol, a fazenda da Jacobina do senhor Manuel de Lemos Gonzaga, que nos acompanhou do Traipu, a do Mundo Novo, a Vila Curral das Pedras, de Sergipe, que tem capela, duas ou tais ruas regulares da Lagoa Funda desta província, que, além de uma capelinha, tem umas 80 casas de telhas, sendo distrito de subdelegacia sujeito à delegacia do Traipu, a povoação do Limoeiro, cuja elegante igreja é dedicada a Jesus, Maria, José, tendo duas ruas com mais de 60 casas...”
E se refere ao Monte dos “Prazeres”, onde está localizado o Morro da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres.
...“Mas o panorama mais encantador é o que ofereceu o Monte dos Prazeres, em cujo cimo há uma capela de elegante construção e edificada, segundo dizem, em 1694. O panorama mais encantador é o que ofereceu o monte dos prazeres, em cujo cimo há uma capela de elegante construção, edificada, segundo dizem, em 1694...”
“De fronte da Lagoa Funda, volto ao vapor, fui à capela que é pequena e com morcegos, e depois à aula de meninos que estavam no desembarque com os lenços arranjados como bandeiras de condísticos, trazendo também o seu, o professor, que deu vivas desesperadamente assim como o outro. O professor serve há mais de dois anos e os mais adiantados apenas sabem ler e dividir sofrivelmente. Ainda não deu catecismo e o menino que o professor chamou de cimal o credo. 25 matriculados e 16 frequentes. Notei uniformidade entre os livros desta escola e os da de menina e do pão de açúcar.

E o relato do Diário é ratificado e “bate” com o desenho feito à mão por Dom Pedro II justamente da sua percepção do morro onde está localizada a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, na Ilha do Ouro, na margem esquerda do Rio São Francisco, cujo trajeto a Tribuna teve acesso.
“Lagoa Funda era o antigo nome de Belo Monte”, explica a pesquisadora Girlene Monteiro.
“Tem um detalhe, o desenho do punho do Imperador, no documento diz que é Pão de Açúcar. Mas como conheço meu gado, não há dúvida de que é aqui em Belo Monte”, diz a pesquisadora.
“Isso está tudo no diário. A primeira data foi 17 de outubro de 1859. E a outra parte, quando ele voltou de Paulo Afonso, foi em 23 de outubro”, informa.
Outro destaque no Diário do Imperador é que faz elogio a um juazeiro, em que escreve:
...“Gastamos 20 minutos na visita à povoação na Barra do Panema. Quer dizer ruim, segundo o Melo. Rio de Água Salobra. É uma rua à margem esquerda arenosa do rio, com poucas casas de pobre. Vi um bonito juazeiro...”.
Sobre esse ponto específico, a pesquisadora Girlene Monteiro, que também é proprietária de uma pousada defronte ao Velho Chico e a cerca de 30 minutos de onde está a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, revela:
“Eu juntei as crianças por conta desse pronunciamento de Dom Pedro. Arranjei uma muda de juazeiro e plantei aqui na frente da pousada. Já tem cinco anos que eu plantei e contei para as crianças esse momento histórico aqui de um imperador parar aqui e se admirar de um juazeiro. É lógico que ele não existe mais, mas eu quis preservar esse momento histórico e que as crianças ficassem sabendo disso”, conclui.

Mais lidas
-
1'Violência vicária'
Ninguém Nos viu Partir: uma história real e emocionante sobre amor, separação e poder
-
2True Crime
Final explicado de Monstro: Ed Gein na Netflix: 'Os monstros nascem ou são feitos?'
-
3Entrevista coletiva
Barroca lamenta empate em casa e projeta reação do CRB contra o América-MG
-
4Cinema
'Tron: Ares' estreia em 1º lugar no Brasil, mas tem bilheteria abaixo do esperado nos Estados Unidos
-
5Oportunidade
Prefeituras alagoanas aceleram para realizar concursos públicos: veja os municípios envolvidos