Em 2025, a primeira Faculdade de Medicina de Alagoas celebra 75 anos de história. Uma data significativa que não apenas marca a trajetória de uma das instituições mais renomadas do estado, mas também honra o legado daqueles visionários que, com coragem e determinação, a fundaram em 1950. Para entender a grandiosidade dessa história, é preciso voltar ao passado, à época em que a medicina alagoana precisou de figuras que, com visão e audácia, criaram as bases para uma nova era.

Nesta quarta-feira, 24 de setembro, a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) encerrou as festividades com a palestra “Panorama Histórico da Faculdade de Medicina de Alagoas: Jubileu dos 75 anos”, ministrada pelo professor doutor João Batista Neto. O palestrante, que é membro do quadro oficial da Ufal e Titular da Cadeira Estêvão Pinto do Instituto Histórico de Alagoas, tem sido uma das vozes mais respeitadas no estudo da história da medicina alagoana.

A data marca não apenas o encerramento das celebrações, mas também o resgate e a reflexão sobre os marcos históricos que levaram à criação da instituição. A história da Faculdade de Medicina de Alagoas remonta a um dos capítulos mais importantes da educação no estado, sendo símbolo de inovação e ousadia em um período de grandes desafios para a saúde pública e o ensino superior no Brasil.

Sonho começou no Café com conversas

A criação da faculdade não foi fruto de uma simples decisão, mas de um processo de intensa articulação entre intelectuais, médicos e políticos da época. Em 1947, o renomado médico Abelardo Lima e outros grandes nomes da medicina alagoana começaram a discutir a necessidade de um centro de ensino que formasse profissionais de saúde mais preparados para o estado e para o Brasil.

Mas foi só em 1950, após um longo período de articulações e planejamentos, que a ideia começou a tomar forma. "Doutor Ib, um dos principais articuladores, teve um papel central nesse processo. Sua visão para o futuro da medicina em Alagoas era clara: fundar uma faculdade que colocasse o estado na vanguarda do ensino médico no Brasil. No entanto, ele sabia que para isso seria necessário mais do que boa vontade; seriam necessários parceiros e pessoas dispostas a investir no futuro", ressaltou o professor João Neto.

"Com a ideia na mente, Ib passou a articular com figuras chave da política e da medicina local. Foi em um café, na madrugada de um dia qualquer, que a semente foi finalmente plantada. Após muitas discussões e um trabalho em conjunto, o grupo decidiu que a reunião para formalizar a fundação da faculdade aconteceria em dois dias. Eles convocaram médicos e outros profissionais para um encontro secreto na Sociedade de Medicina de Alagoas, sem revelar o verdadeiro motivo do evento. Sabiam que, se divulgassem a ideia antes, o burburinho seria grande e poderiam perder o apoio necessário", explicou.

No dia 3 de maio de 1950, o projeto tomou forma definitiva. Quinze médicos e intelectuais se reuniram na Sociedade de Medicina de Alagoas para selar a fundação da instituição que se tornaria a primeira faculdade de medicina do estado. Dentre os presentes, estavam nomes como o próprio doutor Abelardo Lima, doutor José Lages, e outros como Sebastião Hora, que, com sua veemência, conseguiu transformar o encontro na fundação formal da faculdade.

De acordo com João Neto, a história conta que a princípio, havia um temor de que a ideia não fosse bem recebida. Porém, com o comprometimento dos presentes, a decisão foi tomada de forma rápida e certeira. Com a assinatura de todos os presentes, a Faculdade de Medicina de Alagoas estava oficialmente fundada. "Foi uma decisão ousada, com o apoio de nomes que, mesmo sem saber, estavam dando um passo fundamental para o futuro da medicina no estado e no país", destacou.

O legado de 75 anos de ensino e excelência

A Faculdade de Medicina de Alagoas, desde sua fundação, não apenas formou profissionais de excelência, mas também contribuiu significativamente para o desenvolvimento da saúde no estado. A instituição se destaca entre as 20 melhores do Brasil, e ao longo desses 75 anos, formou centenas de médicos que atuaram e ainda atuam em diversas áreas da medicina, tanto no Brasil quanto no exterior.

Um dos grandes marcos da faculdade é sua capacidade de se reinventar. De uma ideia ousada, gerada a partir de uma conversa informal entre amigos, a instituição tornou-se um centro de ensino referência, formando médicos que contribuem para a medicina alagoana e nacional. Além disso, a faculdade se destaca pela criação de cursos especializados e pela sua contribuição para o desenvolvimento de pesquisas e inovações no campo da saúde.

A história da Faculdade de Medicina de Alagoas é marcada também por figuras que se destacaram em outras áreas. Uma dessas figuras é Merisa Garrido, a primeira mulher a assumir a presidência da Sociedade Brasileira de Angiologia. Ela teve uma participação fundamental na consolidação do ensino médico em Alagoas, sendo uma das grandes referências do campo da angiologia no Brasil. Sua liderança e atuação evidenciam a qualidade dos profissionais que a instituição formou ao longo das décadas.

"Merisa é apenas uma das muitas mulheres que hoje ocupam posições de destaque no campo da medicina, uma realidade que se deve, em grande parte, ao pioneirismo de instituições como a Faculdade de Medicina de Alagoas, que abriram portas para uma educação de qualidade, permitindo que mais mulheres entrassem para o mercado de trabalho médico", salientou o professor João neto.

Futuro da medicina em Alagoas

À medida que a Faculdade de Medicina de Alagoas celebra seus 75 anos, o olhar se volta para o futuro. A história construída por aqueles visionários de 1950 é apenas o início de uma trajetória que continuará a formar médicos e contribuir para o avanço da saúde no Brasil. "O legado deixado por doutor Ib, doutor Abelardo Lima, doutor José Lages e tantos outros está refletido no ensino de qualidade que a instituição oferece e na relevância que ela mantém dentro do cenário nacional", pontuou.

"Em 2025, 75 anos após a fundação, a instituição continua sendo um exemplo de excelência no ensino e na prática médica. Cada geração de médicos formados carrega consigo o compromisso de manter vivo o legado de seus fundadores e de sempre buscar a melhoria contínua, seja na sala de aula, seja nos hospitais e clínicas de Alagoas", mencionou João Neto.

Para ele, o jubileu de 75 anos é um momento de celebração e reflexão, não só sobre o que foi conquistado, mas também sobre o que está por vir. A Faculdade de Medicina de Alagoas segue com o compromisso de formar profissionais que não apenas atendam às necessidades do presente, mas que também estejam preparados para os desafios futuros da medicina e da saúde no Brasil.

O docente afirmou que a Faculdade de Medicina de Alagoas é a história da persistência, da união de forças e da determinação de alguns visionários que, com coragem, desafiaram as normas de sua época para criar uma instituição que faria toda a diferença na saúde e na educação do estado.

"Hoje, ao completar 75 anos, a faculdade se prepara para novos desafios, mas com o orgulho de um legado que é símbolo de excelência e transformação. Sem dúvida, os próximos 75 anos serão tão grandiosos quanto os primeiros, pois o futuro da medicina em Alagoas está sendo construído desde o momento em que aquela ideia nasceu em uma conversa que começou com um simples café e terminou com a fundação de uma das maiores instituições de ensino do Brasil", completou.