Economia

Uber: aumento de mais de 64% não é repassado a motoristas

Transporte foi popularizado na capital, mas serviço tem colecionado reclamações com preços cada vez mais “salgados”

Por Emanuelle Vanderlei – colaboradora com Tribuna Independente 10/12/2022 08h39
Uber: aumento de mais de 64% não é repassado a motoristas
Em um ano, alta no valor da corrida pelo Uber foi de 64,03%, mas reajuste não chega a motoristas - Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

Em poucos anos, o transporte por aplicativo se tornou o meio de transporte de grande parte da população. Inicialmente com preços competitivos e um serviço diferenciado, o Uber tornou-se hábito. Mas o cenário parece estar mudando, com os preços cada vez mais salgados, o serviço coleciona reclamações.

Segundo reportagem do O Globo, o IPCA-15 trouxe uma alta de 64,03% em 12 meses nos transportes por aplicativo.

Os motoristas dizem não ter sentido o aumento chegar a eles. Lucélia Nascimento trabalha 12h por dia, “para conseguir pagar manutenção de carro, aluguel de casa, escola de filho e alimentação”. Ela diz que não melhorou em nada sua renda. “Infelizmente esse aumento pesou no bolso dos passageiros, porém nós motoristas não vimos diferença alguma. Pra você ter ideia, tem corrida que o passageiro paga R$ 20 e a gente só recebe R$ 13, R$ 14. Ou seja, a Uber cobra mais de 30% da sua taxa”.

Na percepção de Lucélia Nascimento, há uma evasão da clientela. “Hoje os passageiros preferem andar de ônibus do que de aplicativo”.

Vladimir Barboza também sente a insatisfação do público. “Muitos passageiros começaram a reclamar a respeito do aumento da taxa para eles no valor das viagens, só que a Uber não nos repassa. Não está nos repassando esse valor diretamente”. Ele explica que a empresa oferece promoções quando atingem um número alto de viagens, como um bônus. “Não teve um impacto tão positivo para a gente”.

Mas ao contrário de Lucélia, Vladimir não sentiu redução na procura. “Com toda a deficiência ela ainda é a plataforma mais segura, tanto para o motorista como para o passageiro. Então houve muita migração das outras plataformas para o Uber. Então houve até um aumento”.

Passageiros veem renda comprometida e começam a buscar alternativas

Por outro lado, os usuários relatam sofrer com valores exorbitantes, principalmente nos momentos que mais precisam. O jornalista Jean Albuquerque tem o Uber como único meio de transporte. Segundo ele, o serviço não vale tanto a pena como antes, mas usa por falta de opção. “Sinto esse aumento quase todos os dias, gasto quase 10% da minha renda com o Uber. Eu faço por necessidade. Eu preciso me deslocar e o transporte público não me atende, não me contempla. Aí eu por conta disso acabo ficando sem opção e usando Uber pra me locomover na cidade”, diz.

Jean relata um episódio recente para exemplificar. “No domingo passado em Maceió choveu muito. Eu estava na Amélia Rosa [Jatiúca] e precisei ir para minha casa no Jacintinho. Eu paguei um pouco mais do dobro do valor por conta disso, porque estava dinâmico. Ninguém queria me pegar, foi o maior estresse para conseguir veículo, além de que eu percebo que o serviço está bem precário ultimamente, muitos motoristas não respeitam os passageiros”.

Insatisfeito, ele está tentando que tirar habilitação e pretende comprar um carro para não depender mais do Uber. “Por mais que equipare o gasto, ou seja um pouco maior o gasto de ter um veículo, gasolina... Eu tenho a comodidade de não precisar passar por algumas situações. Se eu for pra rua e pegar Uber 10h30, 11h da noite eu vou ter um pouco de dificuldade para encontrar motoristas que se disponham a vir me deixar em casa, por possivelmente ser uma área considerada de risco”.