Economia

'Redução do ICMS não muda constantes altas dos combustíveis'

Economista faz críticas sobre a fome em um dos países que mais produz alimentos no mundo

Por Thayanne Magalhães com Tribuna Independente 09/08/2022 07h24 - Atualizado em 09/08/2022 14h13
'Redução do ICMS não muda constantes altas dos combustíveis'
Renan Laurentino: “a gente ainda vai sofrer muito com essa forma de reajuste que está acontecendo” - Foto: Edilson Omena

O economista Renan Laurentino foi o entrevistado desta semana do TH Entrevista, do canal Portal Tribuna no YouTube. O especialista explicou sobre a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em Alagoas e se isso influencia na melhoria da economia local.

“Nesse primeiro momento a gente comemora. O ICMS estava em 27,5% no valor da gasolina, e agora fica igualizado em 17% em todo país. Há uma redução clara, mas temos que entender que ao mesmo tempo que reduziu, o valor está atrelado ao valor internacional do barril”, explica.

O economista explicou que o sucessivo aumento do combustível no Brasil se dá pela política de preços atual, onde os preços cobrados nas refinarias se orientam pelas flutuações do preço do barril de petróleo no mercado internacional e do câmbio.

“Embora o dólar possa estar baixo, o barril do petróleo está em alta, principalmente em detrimento da guerra descompensada da Rússia contra a Ucrânia. Isso afeta cada vez mais o processo inflacionário”, opinou.

Renan afirma que não tem como o cenário mudar. “A partir do momento que uma empresa como a Petrobras põe ações no mercado, nas bolsas de valores de Londres, dos Estados Unidos e na Bovespa, fica difícil acontecer uma mudança do dia para a noite. A gente ainda vai sofrer muito com essa forma de reajuste que está acontecendo”.

Hoje a redução do ICMS ganhou uma euforia, uma animação. Mas como isso será compensado no futuro? Renan Laurentino acredita que o Estado irá buscar a compensação em outros impostos, como no IPVA, por exemplo.

ALIMENTOS

“Quando eu diminuo preço do combustível, diesel, por exemplo, porque o nosso modal logístico é o rodoviário, isso faz diminuir o valor dos fretes e consequentemente o valor dos alimentos. Mas estamos com a inflação alta, inclusive por conta também dos problemas climáticos. Aqui em Alagoas tivemos muitas chuvas, e muitas lavouras foram perdidas e por isso aumentam de valor”, explica.

O economista acredita que o Governo Federal poderia influenciar no impacto que a inflação traz para as famílias mais pobres, aumentando o assistencialismo.

“Nós temos programas de governo de ajuda financeira para essas famílias, mas não são o suficiente. Somos a 4ª economia, maior produtora de grãos. Como que eu produzo tanto e deixo a minha população passando fome? Temos que entender a intervenção do governo federal frente ao Ministério da Agricultura, para que seja liberada a venda para outros países, mas que não desabasteça o mercado local”, opina.

Renan Laurentino destaca o uso do fogão a lenha como opção para economizar o gás de cozinha, que também teve um aumento considerável.

O fogão a lenha é muito bonito, muito romântico nas cidades do interior e nos sítios, mas tem gente fazendo uso para economizar o gás de cozinha. Isso não é desenvolvimento! Como que eu sou o país que mais produz e deixo a minha população passar fome? Cadê a sensibilidade, a humanização também na economia? Precisamos estar atentos e levar essa discussão em consideração nas eleições”, disse o economista.