Economia

Preço da carne vermelha se mantém em alta na capital

Mesmo com embargo da China ao produto brasileiro, fornecedores não baixam preço para o mercado interno

Por Texto: Sirley Veloso – Colaboradora com Tribuna Independente 13/11/2021 09h07
Preço da carne vermelha se mantém em alta na capital
Reprodução - Foto: Assessoria

A alta dos preços da carne vermelha tem sido sentida pela maior parte da população. No período de um ano, a inflação da proteína está entre 25% e 35%.

Conforme Victor Barbosa, gerente de supermercado em Maceió, apesar dos preços elevados serem sentidos de forma mais forte nas famílias com menor poder aquisitivo, toda população sentiu a alta de preços da carne vermelha. “Isso reflete na mudança de hábitos e cada um se ajusta conforme a possibilidade. Ou compram cortes menos nobres, ou mudam o tipo de proteína”, diz ele.

A empregada doméstica, Andressa Evelin diz que reduziu bastante o consumo de carne vermelha em sua casa. “Não tem como suportar. Os preços estão absurdos. A alternativa está sendo recorrer a salsichas, hambúrgueres e ovos”, afirma.

Rosivânia Raimundo, que também trabalha como doméstica, fala que vinha consumindo mais frango. “Mas encareceu muito também. Então a saída tem sido ovos, salsichas e a carne suína, que ainda está dando para comprar”.

Luiz Geraldo, proprietário de açougue, diz que com os elevados preços da carne vermelha, subiu o consumo do frango, o que resultou em aumento de 80% no preço dessa proteína também. “Essa situação passa por mudanças na política brasileira. Tem que mudar tudo. A ministra da Agricultura é pecuarista”.

Com a alta de preços, a comerciária Iasmim David também reduziu o consumo de carne vermelha. Iasmim tem procurado diversificar com a bisteca suína e coxas de frango. “Eles estão com preço mais acessível.”

Economista: descentralização da produção e distribuição pode ser a saída

A economista Luciana Caetano disse que a estimativa de perda diária dos produtores de carne vermelha do Brasil, com o embargo da China, provocado pelo aparecimento de casos da doença da Vaca Louca em Minas Gerais e Tocantins, é de 10 milhões de dólares diários, e mesmo assim, os produtores não cedem no preço para o consumidor interno.

Luciana afirmou que, nos últimos doze meses, a inflação da carne vermelha já é de 25% a 35%. “E eu não vejo nenhum movimento no sentido de redução de preço dessa proteína, mesmo com um estoque bastante elevado, pois a China responde por 60% da exportação brasileira de carne. A gente poderia ter uma redução aí pelo menos de 20% que eram os preços de um ano atrás, e já eram bem elevados”, avalia.

Luciana Caetano avalia que, mesmo com a alta do dólar e com a utilização de produtos importados na pecuária, os preços praticados não se justificam. “Essa trajetória de alta nos preços da carne vermelha já vem acontecendo há mais de dois anos. O Brasil é o maior produtor mundial de carne e esses preços não se justificam. Estamos enfrentando uma hiperinflação, salários defasados e grande parte da população vivendo abaixo da linha da pobreza”, afirma a economista.

Para Luciana, a regularização e reativação de matadouros locais poderia ser uma saída para descentralizar a venda do produto. “A desativação desses matadouros concentrou o abastecimento de carnes em pouco mais de oito empresas no país inteiro. Se fosse criada uma legislação específica regulamentando o funcionamento dos matadouros nos municípios, muito provavelmente a gente teria um aumento na concorrência e uma queda no preço dessa mercadoria”, destaca.

Luciana afirma também que, a descentralização da distribuição de carne no país seria uma solução razoável, que poderia se resolver em doze meses. “Nós temos uma comódite, que é a carne, produto valorizado pelo mercado internacional e que consome uma quantidade exorbitante de água. O pasto sai muito caro para qualquer país, compromete inclusive do ponto de vista ambiental à sustentabilidade do desenvolvimento, e a população local não se beneficia dessa produção. Esse modelo serve aos interesses do mercado internacional, não serve ao povo brasileiro. Tem que revisar essa concentração da produção nas mãos de oito, dez empresas”.