Economia

“Pobreza gera ainda mais pobreza”

Com 20 milhões de brasileiros passando fome e metade em situação de insegurança alimentar, sociólogo avalia prejuízos para sociedade

Por Evellyn Pimentel 16/10/2021 10h53
“Pobreza gera ainda mais pobreza”
Reprodução - Foto: Assessoria
Dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) indicam que na última década 9% da população do país ou cerca de 20 milhões de brasileiros estão passando fome. Além disso, mais da metade da população vive em situação de insegurança alimentar, que é quando há incertezas se poderão suprir as necessidades da família. A problemática que vem se arrastando há alguns anos pela falta de políticas públicas eficazes para as classes menos favorecidas foi potencializada com os efeitos da pandemia. O empobrecimento da população é uma dura realidade. Na avaliação do sociólogo Carlos Martins é preciso intervenção do poder público, em especial da União que detém a responsabilidade de viabilizar ações e programas que alcancem os mais vulneráveis. “Se você tem uma sociedade que não tem acesso aos direitos básicos, cabe ao Estado fazer essa transferência. Quando o Estado não faz, ocorre o empobrecimento, a ‘enfavelização’”, afirma. Este cenário também de aumento de favelas é resultante da desestruturação do suporte as pessoas de baixa renda e que Atualmente figuram em extrema pobreza. Segundo Martins, o cenário já vem sendo desenhado há alguns anos. “Eu disse isso há uns quatro anos que a tendência é cada vez mais o empobrecimento da população e quanto mais a população empobrece mais há uma grande camada que não compra que não consome e se não consome gera um efeito em cadeia que é a desaceleração da economia. E um efeito em cascata de quem vende, não vende. Tem o produto, mas não tem o comprador. A pobreza gera pobreza. Poder aquisitivo gera poder aquisitivo, poder de compra gera poder de compra. E o inverso também. A falta de poder de compra cria um efeito dominó”, pontua. Inflação alta pressiona a piora do cenário Com a inflação na casa de dois dígitos, acima de 10%, e em setembro o Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) dos alimentos a 64% de alta, a tendência de piora é latente. O sociólogo explica que o nosso modelo de sociedade prioriza o poder de consumo, o que gera a exclusão. “Essa é uma equação antiga. Nosso modelo de sociedade é economicamente orientado e o consumo é um elemento medido do quanto uma pessoa ou um grupo de pessoas tem acesso ou está inserido socialmente ou não. É a sua capacidade de consumo. O acesso à alimentação, transporte, moradia, saúde, educação e todos os elementos importantíssimos para manutenção da existência passa pelo poder aquisitivo da pessoa ou grupo. É uma realidade cruel e que nesse período da pandemia se debateu sobre o que se daria prioridade a vida ou a economia com as pessoas achando isso algo normal. Porque sendo o elemento econômico um elemento importante para acumulação de riqueza é legítimo que o poder de exploração de mão de obra, que é selvagem, é travestida de emprego. É um elemento que endossa essa exploração selvagem da mão de obra e numa sociedade como a nossa isso é extremamente nocivo”, destaca. A saída segundo Carlos Martins é criar um cenário favorável a retomada do poder de compra da população e isso só é possível por meio de políticas públicas de geração de emprego e renda. “Em governos anteriores você tinha uma política de transferência de renda que deu elevação de poder de consumo da população e isso faz com que a economia gire positivamente. Então quem compra ganha, quem vende ganha e isso dá uma certa estabilidade. E aí você vai retirando cada vez mais as pessoas da linha de pobreza. Em função disso, o Estado se torna um elemento importantíssimo nas políticas de geração de emprego e renda e na transferência de renda”, diz.