Economia

Depósitos de bebidas têm queda nas vendas

Comerciantes do setor relatam redução superior a 40% e que estão trabalhando como podem por meios remotos e disque entrega

Por Texto: Lucas França com Tribuna Independente 23/05/2020 09h56
Depósitos de bebidas têm queda nas vendas
Reprodução - Foto: Assessoria
O mercado de bebidas também está recebendo o impacto pela paralisação das atividades causada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Com o fechamento dos principais pontos de venda como bares, restaurantes e depósitos de bebidas, as vendas em Alagoas, segundo donos de depósitos, caíram em alguns estabelecimentos mais de 40% desde do primeiro decreto. “Aqui reduziu entre 35% a 40%. O setor está em queda desde o primeiro decreto porque o povo está em casa, e toda vez que saí um decreto desses queira ou não inibe as pessoas vir comprar porque estamos trabalhando de portas fechadas, apenas com entrega. E tem uma série de fatores. Acredito que a insegurança financeira também inibe o cara comprar, pois não sabe o dia de amanhã. Acredito que a questão econômica agrava mais que a preocupação com a saúde, ele até quer tomar a bebida, mas para vir buscar ele tem ‘medo’, e a insegurança financeira conta mais - está instável e isso faz as vendas caírem’’, ressalta Rodrigo Rocha, dono de depósito de bebidas em Maceió. Rocha diz que está trabalhando via meios remotos como aplicativos de mensagens e redes sociais, além do disque. “Mesmo com tudo isso, a queda é considerável. Estamos pagando as contas virando o mês sem ter nenhum sonho de lucro. E quem paga aluguel, funcionários, e tem compromissos fixos tem que se virar. Temos que tirar de onde não tem porque o incentivo do governo federal ao pequeno e médio empresário não saiu do papel. Ou seja, não temos nem para aonde correr. Ou a gente tem alguma reserva para usar nesse momento ou estamos fadados a quebrar”. No interior do estado a situação não é diferente. A comerciante Lúcia Silva, que tem um estabelecimento em Paulo Jacinto, Zona da Mata alagoana, diz que a comercialização caiu drasticamente. “Com a pandemia e os decretos, a venda de bebidas caiu bastante, não consigo nem calcular os prejuízos. Só Deus mesmo para mostrar os caminhos’’. Já no estabelecimento de Ana Clara, a venda de bebidas alcoólicas só começou a cair nas duas últimas semanas. “Assim que o decreto foi publicado ainda haviam muitas reuniões de amigos e familiares, principalmente para assistirem as lives. Parece que só agora, pelo menos aqui em Paulo Jacinto, as pessoas começaram a entender a gravidade do problema. De todo modo, as vendas estão longe do que era esperado pra esta época do ano. Datas festivas como Semana Santa e Dia das Mães, em que o número de pedidos e entregas eram altas, foram menores em torno de 50% em relação ao ano passado. Para manter o negócio funcionando precisei usar algumas estratégias como a demissão de funcionários e diminuir o horário de funcionamento, além de me manter através de outras rendas, sem precisar retirar dinheiro do caixa nesse momento. Também priorizei compra de outros produtos, como álcool em gel e borrifadores pra alavancar as vendas um pouco”. A reportagem da Tribuna Independente tentou saber da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Alagoas (Abrasel/AL) qual o percentual da queda nos bares e restaurantes do estado em relação ao consumo de bebidas, mas até o fechamento da edição não obteve retorno. Cervejaria artesanal tem redução drástica na comercialização Com a pandemia, o mercado cervejeiro brasileiro amarga uma crise sem precedentes nas artesanais. Em Alagoas, a queda está sendo drástica segundo Rodrigo Inojosa - um dos sócios da Hop Bros Cervejaria. “No nosso caso 90% de vendas são para bares e restaurantes da cidade, portanto sentimos muito o impacto desde o decreto. Como forma de amenizar isso, investimos em uma maior comunicação com nossos clientes tanto para nosso delivery quanto para coleta na nossa fábrica, no sistema pegue e leve. Apesar do volume de vendas dessas modalidades, não chega nem perto do volume que tínhamos antes, estamos conseguindo manter todos os empregos, que é nosso foco nesse momento’’, explica. De acordo com o empresário, o apoio dos clientes está sendo fundamental para que a Hop Bros continue a operar. “Uma boa notícia para quem mora em Maceió é que em breve estaremos lançando nosso Clube Hop Bros, onde o cliente fará uma assinatura mensal e receberá em casa cervejas, taças, camisetas e outros itens com preços promocionais, além de cervejas exclusivas para os assinantes!’’. QUEDA NACIONAL Um levantamento da Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) mostra que houve uma queda média de 71% no faturamento das empresas de bebidas alcoólicas em abril.  A queda de faturamento registrada de 1 a 15 de abril nas empresas do ramo é maior que a da última pesquisa. A queda média no faturamento da segunda quinzena de março foi de 52%. A pesquisa foi feita junto às empresas associadas para acompanhar a evolução do impacto econômico devido ao Covid-19. A The Coca-Cola Company também sente o impacto do coronavírus com o encerramento de restaurantes e bares em todo o mundo. O gigante global do setor das bebidas divulgou recentemente os resultados do primeiro trimestre, reconhece que, “desde o início de abril, houve uma queda mundial nas receitas em cerca de 25%, com a maior parte dessa queda a vir do decréscimo do consumo nos canais fora de casa”. CONSUMO EM CASA Por outro lado, um estudo da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), mostra que desde a decretação da quarentena houve alta de 136% nas vendas de bebidas alcoólicas por meio online em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a Compre&Confie, empresa de inteligência de mercado focada em comércio eletrônico. Em lojas focadas apenas em vinho, o aumento também foi bem expressivo. O número de pedidos totais subiu 20% entre fevereiro e março em uma loja especializada. E a quantidade de novos clientes cresceu 72% no mesmo intervalo. A reportagem entrou em contato com a Associação dos Supermercados de Alagoas (ASA) para saber como estão as vendas nesses estabelecimentos, mas até o fechamento do material não teve respostas. As médicas Margareth Monteiro e Vânia Simões alertam para o uso excessivo de bebidas alcoólicas durante o isolamento social. Segundo as especialistas, pode comprometer a imunidade das pessoas. “O excesso de álcool é prejudicial à saúde física e mental e até influenciar nas medidas de proteção de higiene individual que é um fator recomendado para evitar contaminação pelo vírus. Para algumas pessoas, o consumo do álcool tem a finalidade de aliviar as tensões ou buscar relaxamento e nesse momento de isolamento junto com a família, pode levar as agressões doméstica e consequências futuras para a saúde. O álcool pode agravar a depressão e, neste momento do Covid -19, traz efeitos tóxicos para saúde’’, pontua Monteiro. Já Vânia salienta que a ingestão de bebida alcoólica mesmo no convívio social leva ao risco de redução dos níveis de prevenção. “Os cuidados de prevenção (uso adequado de máscaras, higienização e distanciamento pelo menos de 2m) são relaxadas com o uso abusivo de bebida alcoólica’’.