Cidades

Estudo alerta para riscos em torno da mina 18

Laudo encomendado pela mineradora é entregue à ANM, com dados sobre avanço da subsidência na lagoa

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 22/07/2025 08h13 - Atualizado em 22/07/2025 08h29
Estudo alerta para riscos em torno da mina 18
Imagem divulgada pela Prefeitura de Maceió, em dezembro de 2023, mostra movimento ao redor da Mina 18, na Lagoa Mundaú, considerada uma das áreas mais críticas da subsidência do solo em Maceió - Foto: Prefeitura de Maceió

Um relatório, encomendado pela Braskem e elaborado pela empresa de consultoria ambiental Tetra Tech, revela os riscos provocados pelo afundamento do solo, cada vez mais avançado, nas proximidades da mina 18, localizada na região de Bebedouro, em Maceió.

Apesar de ter sido entregue à Agência Nacional de Mineração (ANM), em abril de 2025, o documento, intitulado “Estudo para Identificação e Avaliação de Impacto Ambiental do Colapso da Cavidade Mina 18”, só foi revelado no último final de semana, graça à lei de acesso à informação.

O relatório traz o resultado dos estudos realizados pela Tetra Tech, com a finalidade avaliar os impactos ambientais decorrentes do colapso da mina 18 na Laguna Mundaú em Maceió, ocorrido em dezembro 2023. Empresa de consultoria ambiental multinacional, a Tetra Tech presta serviço para a Braskem e é responsável por diversos estudos técnicos contratados pela mineradora.

Embora a Tetra Tech possua reconhecida experiência técnica, ela tem sido objeto de questionamentos quanto à imparcialidade, especialmente quando contratada diretamente pela parte potencialmente causadora do dano, como é o caso da Braskem.

Por isso, para a bióloga Neirevane Nunes, doutoranda no programa de pós-graduação da Unima e integrante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), é necessária uma leitura crítica do conteúdo do relatório e de suas omissões. Ela destaca que apesar de extremamente importante, o estudo não leva em consideração a situação social dos moradores da área de risco de afundamento do solo.

“O estudo em questão traz um importante volume de dados por meio do uso de ferramentas modernas de sensoriamento remoto, modelagem geofísica e bioensaios laboratoriais. Mas, apesar do mérito técnico, observa-se uma escolha discursiva que merece reflexão: ao invés de explicitar, de forma direta, transparente as possíveis relações entre os impactos observados e as atividades de extração mineral, o relatório recorre com frequência ao uso de expressões como ‘evento geológico’. Isso é um ponto problemático, pois esse recurso linguístico pode contribuir para uma narrativa que desvia do foco da atividade de mineração de sal-gema e da responsabilidade da Braskem”, explicou Neirevane.

Segundo ela, dada a complexidade do assunto, o relatório foi encaminhado à Defensoria Público do Estado e está sendo analisado pelos movimento em defesa das vítimas da Braskem, para manifestações futuras.

O documento, protocolado junto à Agência Nacional de Mineração (ANM) em abril de 2025, faz uma avaliação minuciosa dos impactos ambientais decorrentes do colapso da mina 18, na Lagoa Mundaú, ocorrido em dezembro 2023.

Neirevane Nunes: análise crítica do relatório solicitado pela Braskem (Foto: Edilson Omena)

Relatório confirma impactos decorrentes da mina 18

Na abertura do relatório, que tem 1.136 páginas, a Tetra Tech explica que é responsável pelo conteúdo do documento, incluindo: tecnologias, metodologias, especificações técnicas, desenhos, figuras, cópias, diagramas, fórmulas, modelos, amostras e fluxogramas.

A empresa diz ainda que a utilização do material deverá ser compatível com o escopo do projeto contratado pela Braskem, fazendo-se expressa a menção ao nome da Tetra Tech como autora do estudo.

Segundo uma análise crítica feita pela bióloga Neirevane Nunes, o documento técnico aponta, ainda que com reservas, impactos significativos sobre o meio físico e biótico. Entre os mais relevantes estão:

- A formação de uma depressão com mais de 30 metros de profundidade no leito da Laguna Mundaú, alterando o regime hidrodinâmico e os padrões de sedimentação;

- A interconexão forçada de aquíferos subterrâneos antes isolados, representando risco real de contaminação hídrica;

- A degradação da qualidade da água subterrânea com aumento de cloretos, sulfatos e salinidade;

- A contaminação das águas superficiais e sedimentos da Laguna Mundaú com metais pesados e substâncias tóxicas;

- O impacto sobre comunidades aquáticas, incluindo espécies de valor ecológico e econômico, como caranguejos, camarões e moluscos.

Após o colapso da Mina 18, pescadores denunciaram a morte de peixes na Lagoa Mundaú, nas proximidades da região de colapso da mina.

Em resposta à pressão popular, pesquisadores da Ufal e técnicos do Instituti do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) realizaram coletas e análises da água. Em coletiva de imprensa os resultados apresentados indicaram que não foram identificados impactos ambientais relevantes associados ao colapso da mina.
Neirevane destaca ainda que representantes da Ufal e do IMA afirmaram que “não houve comprovação de impacto relevante relacionado ao colapso da mina” nas análises. As mortes de peixes foram atribuídas à poluição histórica da lagoa, incluindo esgoto, efluentes domésticos e industriais, além das condições climáticas locais.

“Embora o laudo técnico descarte relação direta com a mineração, a desconfiança persiste”, argumentou a bióloga. “Agora, os estudos realizados pela Tetra Tech demonstram os impactos reais e relevantes decorrentes do colapso da mina 18”, acrescentou.

OUTRO LADO

A Defesa Civil de Maceió informou, por meio de nota, que “tem conhecimento da existência do estudo, porém não o recebeu de forma oficial pois, não é o órgão responsável pelo monitoramento da água da Laguna Mundaú. Os estudos realizados devem ser (ou já foram) enviados às instituições pertinentes, como, por exemplo, o Instituto do Meio Ambiente (IMA)”.

Por meio de nota, a Braskem informa que, nos termos da Cláusula 41 do Termo de Acordo Socioambiental, contratou empresa especializada e independente para a realização do diagnóstico ambiental decorrente do evento relacionado à cavidade 18.

“O estudo concluiu que os efeitos identificados estão restritos ao entorno da cavidade 18, limitando-se à área diretamente afetada pelo evento, e demonstra que não houve impacto na qualidade das águas superficiais da laguna. A Companhia reforça que segue atendendo a todas as obrigações legais estabelecidas pelos órgãos competentes.

O referido diagnóstico, recebido pela Companhia no dia 31 de março de 2025, foi protocolado junto ao Ministério Público Federal (MPF), ao Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas (IMA) e à Agência Nacional de Mineração (ANM)”.