Cidades

Alagoano desconhece cordão de girassol

Engenheira lembra da ocasião em que foi “barrada” em fila de prioridade mesmo usando acessório e mostrando cartão

Por Valdete Calheiros - colaboradora / Tribuna Independente 08/03/2024 09h02 - Atualizado em 08/03/2024 15h52
Alagoano desconhece cordão de girassol
Engenheira Juliana Queiros lembra que foi “barrada” em fila de prioridade mesmo utilizando o cordão - Foto: Acervo Pessoal

A engenheira sanitarista ambiental Juliana Alves Queiros, 44 anos, portadora de fibromialgia é um “girassol” e como tal usa o cordão que a identifica.

Por ter uma doença invisível aos olhos de terceiros, adquiriu o cordão de girassol há uns três anos e, desde então, percebe-se sendo curiosamente observada pelas outras pessoas quando usa o acessório.

“As pessoas, por não verem sintomas a olhos nus, não costumam acreditar na doença e mais que isso, a imensa maioria simplesmente desconhece o cordão de girassol”, explicou.

Segundo Juliana Alves Queiros, mesmo diante das suas explicações sobre o cordão, as pessoas continuam a olhá-la com estranheza ou por desconhecerem totalmente a doença ou por procurarem de forma insistente algum sintoma visível que justifique o uso do acessório que a diferencia das demais pessoas.
A engenheira sanitarista ambiental recordou de uma determinada vez em que foi abordada pela funcionária de uma loja porque estava na fila preferencial, como de direito.

“A funcionária me explicou que ali era uma fila de prioridade. Mostrei-lhe o cordão de girassol e expliquei que tenho prioridade por ser portadora de fibromialgia. Em outra oportunidade, usei o cartão de prioridade no estacionamento de um restaurante e também fui abordada”, relatou ao acrescentar que, por conta de situações, como estas, muitas vezes fica constrangida e abre mão do direito de prioridade apenas para não ser “julgada” pelo olhar incrédulo e curioso das pessoas.

Juliana utiliza o cartão de prioridade emitido pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau). Perguntamos à Secretaria quantos cartões foram emitidos no Estado. Não obtivemos retorno até o fechamento desta edição.

O cordão

O cordão de girassol identifica pessoas com deficiências que não são facilmente perceptíveis no cotidiano. O acessório objetiva promover a conscientização e o respeito a direitos previstos, como atendimento prioritário. A Lei n° 14.624, sancionada em 17 de julho de 2023, altera o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n° 13.146, de 6 de julho de 2015) que passou a reconhecer o acessório como símbolo nacional de identificação de pessoas com deficiências ocultas.

A ideia é que, ao utilizar o cordão de girassol, as equipes dos estabelecimentos públicos e privados fiquem cientes de que a pessoa pode necessitar de suporte especial, devido a uma doença invisível ou deficiência oculta.

Fita de girassol identifica pessoas com deficiências não aparentes, como o transtorno do espectro autista (Foto: Divulgação)

Doenças permitem uso do acessório para atendimento preferencial

Segundo a lei, o uso do cordão ou fita com girassóis desenhados é opcional, “e sua ausência não prejudica o exercício de direitos e garantias previstos em lei e sua utilização não dispensa a apresentação de documentos comprobatórios quando solicitados por atendentes e autoridades”.

Podem usar o cordão de girassol pessoas com deficiências auditivas, intelectuais, paralisia cerebral ou de pessoas que estão dentro do espectro autista, entre outras possibilidades como asma, baixa visão, câncer, deficiências cognitivas, depressão, diabetes, dificuldades de aprendizado, doença cardíaca, doença de Parkinson, fibromialgia, HIV, incontinência urinária, intolerância à lactose, lúpus, reumatismo, TDAH (Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade), transtornos mentais, como depressão e transtornos ou alergias alimentares, além da doença de Crohn, colite ulcerosa, epilepsia, fobias extremas, neuro divergências, esquizofrenia e esclerose múltipla.

A fibromialgia é uma doença cuja principal característica é dor e fraqueza muscular generalizada. A fibromialgia costuma ser acompanhada por fadiga e alterações no sono, na memória e no humor. Medicamentos, psicoterapia e redução do estresse podem ajudar no controle dos sintomas.

A fita com desenhos de girassóis foi usada despretensiosamente por uma companhia aérea em um aeroporto de Londres e acabou tornando-se o símbolo para identificar pessoas com deficiências não aparentes. A imagem estampada lembra a resistência e a resiliência dos girassóis, atributos igualmente necessários na luta por acessibilidade.