Cidades
Alagoas registrou 19 feminicídios no ano passado
Psicóloga atribui aumento nos casos de violência contra a mulher no Estado à herança do sistema patriarcal

Alagoas registrou 19 casos de feminicídio no ano passado, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de Alagoas (SSP/AL). Em 2022, 31 mulheres foram mortas simplesmente por serem mulheres.
A psicóloga Andrezza Abreu explicou que a herança arraigada do patriarcado e suas ideologias machistas podem tentar explicar o alto índice de feminicídios como uma prática ainda bastante comum no Brasil.
Em Alagoas, o caso de feminicídio mais recente e que chocou a sociedade foi o que vitimou a gerente de loja Valkíria de Brito, 40 anos.
Assassinada no dia do seu aniversário, com um tiro na cabeça, pelo seu ex-companheiro, Edvaldo Bemvindo Silva, 52 anos, enquanto trabalhava como gerente em uma loja de cosméticos no Shopping Pátio.
Instantes depois, ele atentou contra a própria vida. Ele era guarda municipal na cidade de São Miguel dos Campos. Ambos morreram no local, antes mesmo de o socorro chegar.
Amigos e familiares da Valkíria de Brito estão convidando, através das redes sociais, a população a participar de um ato em sua homenagem, na próxima sexta-feira, dia 1° de março, a partir das 15 horas, nas imediações do Shopping Pátio. No mês de março, são iniciadas as comemorações alusivas ao Dia da Mulher, dia 8.
Conforme a psicóloga, por conta dessa crença, a mulher é vista como objeto de uso e propriedade, onde o homem se vê no direito de querer a submissão total da mulher, com isso, não aceitando que a mulher se imponha, não aceitando separações e opiniões contrárias. Onde crê que a mulher lhe deve devoção. Criando uma relação onde só o homem está correto e pode agir da forma que quiser, inclusive trair, agredir e matar”, esmiuçou a psicóloga.
Na avaliação de Andrezza Abreu, faz-se necessária a implementação de mais políticas públicas voltadas para a mulher, trabalhando e discutindo como identificar um relacionamento abusivo. Assim como, explicou ela, ensinar e mostrar onde a mulher vítima de um relacionamento abusivo pode encontrar essa ajuda. “A vítima nunca havia feito denúncia contra o ex-companheiro”, lembrou a psicóloga.
A informação de que Valkíria de Brito, apesar do medo que sentia, nunca procurou ajuda policial foi confirmada pela filha mais velha da vítima, Evelyn Brito, 21 anos.
“Nunca tive conhecimento de agressões físicas, mas ela era ameaçada e agredida verbalmente por ele. Em términos anteriores com ele, minha mãe tinha medo porque ele ficava vigiando-a, perseguindo-a no trabalho, no ponto de ônibus”, contou a filha ao acrescentar que a mãe iria iniciar o curso superior de Administração de Empresas.
No TJ/AL
Concessões de medidas protetivas mostram violência
Na semana passada, a reportagem do jornal Tribuna Independente revelou que cerca de 15 mulheres recebem, em média, por dia, medida protetiva do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL) em uma tentativa de seguir suas vidas longe do agressor que a vitimou com violência doméstica.
Nos meses de janeiro e fevereiro, o poder judiciário alagoano concedeu mais de 760 medidas protetivas a mulheres vítimas de violência doméstica. O número é bastante superior ao total de medidas expedidas nos dois primeiros meses do ano passado, quando foram expedidas 492 medidas protetivas.
Em todo o ano passado, 3.862 mulheres precisaram de medida protetiva do poder judiciário para tentar se livrar da violência praticada por seus companheiros. Alguns casos são tão graves, que as vítimas precisam receber o botão do pânico e seus agressores a tornozeleira eletrônica. Em Alagoas, cerca de 50 vítimas de violência receberam o botão do pânico.
Ao ser alvejada mortalmente com um tiro na cabeça, Valkíria de Brito perdeu, de forma abrupta, a convivência com seus três filhos. Além de Evelyn Brito, Valkíria era mãe de dois filhos, um de 18 e um de oito anos.
Sonhadora e querendo melhorar de vida, Valkíria de Brito era empreendedora e estava alcançando, recentemente, o tão almejado sucesso.
Ela fazia bolos temáticos. Inclusive, estava tentando refazer a vida, em um novo relacionamento. Nenhum dos três filhos era fruto do relacionamento com o assassino.
Ao chegar à loja do shopping, conforme testemunhas, o criminoso disse que iria levar um presente para a ex-companheira, pois se tratava de seu aniversário. A intenção dele, na verdade, era assassinar a vítima, que foi sepultada ontem (26), no Memorial Parque, no bairro Benedito Bentes.
Relação conturbada, mas sem registro de queixa
Valkíria e o ex-companheiro tinham uma relação conturbada, segundo amigos e familiares da vítima, marcada por idas e vindas que durou 10 anos, fora encerrada há quatro meses e lhe tirou a vida no dia do seu aniversário.
Apesar das diversas ameaças que vinha sofrendo desde que rompeu seu relacionamento, Valkíria de Brito não havia formalizado nenhuma denúncia contra o ex-companheiro, segundo a Polícia Civil. O criminoso teve acesso à vítima, dizendo que lhe entregaria um presente.
As imagens do circuito interno da loja mostram ambos conversando.
Ele, de forma insistente. Valkíria se afastou. Edvaldo a segue e puxa a pistola.
Por ser guarda municipal, Edvaldo Benvindo Silva tinha posse e porte de arma de fogo. Aos amigos e familiares de Valkíria de Brito ficarão as últimas palavras, postadas em sua rede social, horas antes de ser assassinada. “Enfim chegou os meus 4.0. Gratidão a Deus por mim (sic) permitir chegar até aqui, que Deus mim (sic) abençoe a cada dia mais com saúde e forças para continuar lutando, pois almejo as melhores coisas nessa vida”, escreveu.
O delegado Nivaldo Aleixo confirmou que não havia nenhum registro da vítima contra o assassino. Apesar de todos os problemas, a filha da vítima disse quee nunca teve “conhecimento de agressões físicas, mas ela era ameaçada e agredida verbalmente por ele. Em términos anteriores com ele, minha mãe tinha medo porque ele ficava vigiando-a, perseguindo-a no trabalho, no ponto de ônibus”, contou, ao acrescentar que a mãe iria iniciar o curso superior de Administração de Empresas.
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