Cidades

Especialista alerta para o sumiço das areias em boa parte do litoral alagoano

Por Claudio Bulgarelli - Sucursal Região Norte / Tribuna Hoje 19/01/2024 14h20 - Atualizado em 19/01/2024 17h49
Especialista alerta para o sumiço das areias em boa parte do litoral alagoano
Pontal do Coruripe é uma das praias que está perdendo muita areia em Alagoas - Foto: Divulgação

Em artigo publicado em maio de 2023, o The Guardian Journal alerta para a escalada alarmante de dragagem de areia marinha em escala global. Um milhão de caminhões de areia por dia estão sendo extraídos dos oceanos do mundo, representando uma ameaça para a vida marinha e para as comunidades costeiras que enfrentam a subida do nível do mar, de acordo com a primeira plataforma de dados global para monitorar a indústria. A nova plataforma de dados, desenvolvida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep), rastreia e monitora a dragagem de areia no ambiente marinho por meio de dados AIS (sistemas de identificação automática) dos navios.

É um problema tão sério em escala global que nenhum país do mundo com litoral pode se dar ao luxo de não se preocupar. No Brasil, centenas de cidades estão nesta lista. E em Alagoas, que já sofre com o avanço do mar em mais da metade de suas praias, tem algumas que sofrem ainda com o risco duplo, agora com a perda de areia. O alerta, feito pelo especialista em erosão costeira e recuperação de praias, engenheiro Marco Lyra, CEO da Ocean Protections, coloca que as áreas mais sensíveis e com maior risco de erosão costeira são aquelas com maior densidade demográfica.

Marco Lyra lista que os casos das cidades de Maceió, Marechal Deodoro, Coruripe e Maragogi estão perdendo mais areia do que o normal em suas áreas litorâneas. ``É preciso planejamento e ação por parte dos municípios litorâneos de Alagoas, garantindo a adaptação e a recuperação de suas praias, devolvendo à população a praia natural recreativa´´, analisa o especialista.

Utilizando dados de 2012-19, a Marine Sand Watch estima que a indústria de dragagem está desenterrando 6 mil milhões de toneladas de areia marinha por ano, uma escala descrita como alarmante. Em muitos locais onde a extração é mais intensa, incluindo partes da Ásia, a areia marinha está sendo extraída muito além da taxa a que é abastecida pelos rios. A escala dos impactos ambientais das atividades de mineração e dragagem em águas rasas é alarmante, incluindo a biodiversidade, a turbidez da água e os impactos do ruído nos mamíferos marinhos, escreveu em um artigo Pascal Peduzzi, diretor do GRID-Genebra da Unep.

Areia e cascalho constituem metade de todos os materiais extraídos no mundo. A nível mundial, são utilizadas anualmente 50 mil milhões de toneladas de areia e cascalho – o equivalente a um muro de 27 metros de altura e 27 metros de largura que se estende por toda extensão da linha do equador. As embarcações de dragagem funcionam como um aspirador gigante no fundo do mar, e durante o processo todos os microrganismos da areia são triturados e nada fica para trás.

``O trabalho do PNUMA/GRID-Genebra segue uma resolução da assembleia ambiental da ONU para fortalecer o conhecimento científico, técnico e político e para apoiar políticas e ações globais sobre extração e uso ambientalmente corretos de areia. Todo cuidado deve ser adotado na escolha do projeto de engenharia para proteção costeira. É importante fazer uma análise do custo-benefício da obra, buscando sempre soluções sustentáveis de defesa costeira´´, finaliza o engenheiro Marco Lyra.