Cidades

Alagoas tem mais de 400 mil idosos e maioria vive em cidades do Agreste

Dados são do Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Por Valdete Calheiros – colaboradora / Tribuna Independente 18/11/2023 09h24 - Atualizado em 18/11/2023 18h32
Alagoas tem mais de 400 mil idosos e maioria vive em cidades do Agreste
Idosos vivem em diferentes situações econômicas e a maioria é responsável pelo sustento da família - Foto: Adailson Calheiros

Alagoas tem 409.221 pessoas com 60 anos ou mais, segundo dados do Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Do total, 229.035 são mulheres.

Proporcionalmente, os municípios com maior contingente de idosos estão no Agreste e são Estrela de Alagoas (66,38 idosos a cada 100 crianças); Mar Vermelho (62,93 idosos a cada 100 crianças) e Minador do Negrão (57,60 idosos a cada 100 crianças).

Esses dados são do índice de envelhecimento que calcula a quantidade de pessoas com 60 anos ou mais a cada grupo de 100 crianças de 0 a 14 anos.

Ainda conforme o IBGE, os municípios com menor número de idosos estão no litoral ou em áreas próximas. São Luís do Quitunde (26,06 idosos a cada 100 crianças), Maragogi (24,33 idosos a cada 100 crianças) e Roteiro (22,92 idosos a cada 100 crianças).

A capital Maceió ocupa a 22ª posição no ranking dos 102 municípios alagoanos em quantidade de idosos. A média é de 44,25 idosos a cada 100 crianças.

De acordo com dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua 2022, cerca de 50 mil idosos (60 anos ou mais) moram sozinhos na capital alagoana, sendo 18 mil homens e 33 mil mulheres.

No Brasil, são aproximadamente 4,9 milhões de idosos que vivem sem outras pessoas. A maioria também é mulher. São 3 milhões.

Também de acordo com a Pnad Contínua 2022, o rendimento médio mensal habitual das pessoas com 60 anos ou mais é de R$2.524,00 em Alagoas.

Cerca de 343 mil idosos com 60 anos ou mais fazem uso regular de algum medicamento contínuo no Estado, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019.

Médico Lívio Tito Pereira, aos 80 anos, permanece em plena atividade e diz que continuará enquanto tiver condições (Foto: Arquivo pessoal)

O economista Cícero Péricles citando o IBGE, em uma recente pesquisa Pnad, colocou que 60% dos idosos sustentam suas famílias. “Como o Censo de 2022 encontrou 32 milhões de brasileiros com idade acima de 60 anos, podemos afirmar que 19 milhões de domicílios são sustentados por pessoas idosas”, destacou ele.

Em Alagoas, o economista calcula que 250 mil domicílios são mantidos financeiramente por pessoas consideradas da “terceira idade”.

Conforme Cícero Péricles, a Previdência Social em Alagoas paga, mensalmente, a 560 mil beneficiários. São os aposentados e pensionistas, na sua ampla maioria pessoas com mais de 60 anos. “Neste imenso conjunto de mais de meio milhão de famílias, metade delas seguramente, são de responsabilidade financeira dos idosos que têm essa renda”, completou.

Casal “oitentão” curte pagode, samba e caminhada na orla

Lilian Méria Albuquerque, 74 anos e Marcondes Maurício Albuquerque, prestes a completar 80 anos em fevereiro próximo, são casados há 52 anos. Ela esteticista, ele pesquisador e agrônomo. Juntos tiveram três filhos e quatro netos, dois dos quais de coração.

A vida social do casal deveria ser tema de novela. Vivem ativamente. Pagode, samba, caminhada na orla, pilates, cuidam da horta orgânica. Tem tempo livre também curso de pintura em tela.

A receita? O casal ensina: não se preocupar com o dia de amanhã e, de quebra, ser feliz. “Porque não existe vida feliz. Existem momentos felizes. E a gente tem que curtir, aproveitar esses momentos. Eu não sou da terceira idade. Eu tenho todas as idades. Nós procuramos nos atualizar, usamos Internet, estamos sempre atualizados. Quem faz a idade somos nós”, ensinou Lilian Méria.

Para manter a saúde, exames médicos em dia. Alimentação regrada. Sem bebida alcóolica durante a semana. Quanto à conectividade com o mundo virtual, o casal também é referência.

Os idosos estão cada vez mais conectados. No último ano, mais de metade (50,4%) da população alagoana que tem 60 anos ou mais teve acesso à Internet.

A comparação com a série histórica indica um avanço substancial na inclusão dessa população no meio virtual. Em 2016, apenas 53 mil idosos fizeram uso da internet em todo o Estado, o que correspondia a um percentual de cerca de 14%.

Em Alagoas, cerca de 261 mil idosos possuem telefone celular para uso pessoal. Ao comparar com a série histórica, também houve crescimento do acesso à telefonia: no ano de 2016, o uso de celular estava presente para 52,4% da população idosa, com contingente de 199 mil pessoas; em 2022, esse percentual é de 64,7%.

A médica e professora Ercília Nunes Rodrigues, 81 anos, compara a terceira idade a uma primavera que se prepara durante todo o ano – em uma analogia à vida – para desabrochar no momento oportuno.

“Agradeço o privilégio de estar viva. Ser independente. Ser idosa não me trouxe nada de negativo. Participo de coral, estudo Francês, participo de grupos de psicoterapia, contemplo o céu, o mar, a areia fina da praia. Faço academia. Tenho o meu personal trainer. O que vivo hoje construí ao longo da vida, com muito amadurecimento”, relatou encantada com a vida como quem acabara de nascer ou, no caso de Ercília Nunes, florescer.

Ercília Nunes está no rumo certo. Segundo o IBGE, o número de idosos deve ultrapassar o de jovens até 2031.

Com 71 anos, aposentada já percorreu Brasil inteiro

Viajar, curtir a vida, aproveitar o tempo livre, reunir filhos e netos, papear com os amigos são o maior sonho de consumo dos idosos. E alguns felizardos conseguem passar pela terceira etapa da vida “brincando” de viver. E ter a saúde em dia é o melhor ingrediente da receita de viver bem a vida.

Que o diga Dulce Souza, 71 anos. Ela se define como uma “gatosa”, aposentada que dedicou mais da metade da vida ao turismo de Alagoas, atuando na extinta Ematur/atual Setur.

Mãe de um casal, tem quatro netos. A família, frisou, é seu combustível de vida. “Gosto muito de viajar, encontrar as amigas para uma tarde de chás, ir a praias, cinema e shows”.

Dulce Souza conversou com a reportagem da Tribuna enquanto viajava à Gravatá para assistir ao show do cantor Daniel, de quem é fã. O programa foi combinado através do grupo de WhatsApp “As Donzelas”, que reúne seis amigas de Dulce Souza.

Quando não está viajando, ela frequenta academia de segunda a sexta, faz musculação, aulas de zumba, ritmos e GAP (sigla para glúteos, abdômen e pernas. A aula mistura exercícios cardiorrespiratórios e de fortalecimento). Cansou? Dulce Souza não! Aos finais de semana, caminha na orla.

“Já fui três vezes à Europa. Visitei Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Holanda, Inglaterra, com as principais cidades turísticas desses países”, relacionou. Os Estados Unidos receberam a alegria da Dulce “apenas” uma vez, onde passeou por Miami, Flórida e Disney.

Brasil já recebeu sua visita de norte a sul. Assim como já esteve em cada um dos 102 municípios alagoanos.

O médico Tito Lívio de Sá Pereira, 80 anos, curte sua vida plenamente, inclusive exercendo normalmente todas as atividades tendo como testemunha o olhar de admiração dos cinco filhos e seis netos.

“Como diz Simone de Beauvoir, não me sinto velho, mas a velhice está em mim. Essa história de terceira idade é um eufemismo de gente boba. Tenho saúde comprometida, acho natural, não as procuro e nem me detenho escrutinando exames. Meus filhos são independentes, não tenho certeza se eles me querem como eu os quero”, filosofou Tito, com um vigor de botar no chinelo qualquer cidadão sessentão mal resolvido com a chegada próxima da terceira idade.

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