Cidades

Moradores dos Flexais criticam gasto de R$ 64 milhões em revitalização

Eles insistem na realocação e dizem que projeto é inviável, pois o bairro de Bebedouro perdeu poder econômico

Por Tribuna Independente 11/11/2023 08h10 - Atualizado em 11/11/2023 09h16
Moradores dos Flexais criticam gasto de R$ 64 milhões em revitalização
Moradores dos Flexais de Cima e de Baixo, localizados no bairro de Bebedouro, protestam contra projeto de revitalização e pedem realocação - Foto: Edilson Omena / Arquivo

Os moradores dos Flexais estão insatisfeitos com a destinação de R$ 64 milhões ao Município de Maceió para a implementação do projeto de reurbanização da região, que vive hoje em uma situação de ilhamento socioeconômico provocado pela atividade da mineradora Braskem. Segundo o morador Valdemir Alves, pouquíssimas pessoas querem a revitalização.

“Esse dinheiro pertence a gente e eles querem fazer isso. A Prefeitura não está fazendo com os impostos que são pagos, é com o nosso dinheiro que está lá, que era para pagar as nossas indenizações. Nós queremos realocação, indenização justa, para que a gente possa viver a nossa vida onde a gente quiser”, afirmou.

Alves considera o projeto inviável para a população dos Flexais. “Eles querem fazer um projeto, que estão obrigando a gente a aceitar, que não tem viabilidade para a gente porque o bairro perdeu o poder econômico. Quando você tem poder econômico no bairro, você mora porque a sua casa, a qualquer momento, você vende e alguém compra. Ninguém quer morar aqui mais, temos os nossos imóveis que ninguém compra, ninguém consegue vender o imóvel aqui”, disse.

Para o líder comunitário Antônio Domingos, o isolamento é pior do que o afundamento. “Quem já saiu do afundamento está vivendo sua vida e quem está no isolamento vai permanecer isolado. Por mais que coloque aqui, eu vou dizer na linguagem do matuto, ouro em pó, a gente vai permanecer no isolamento. Não somos a favor da revitalização porque não traz a nossa dignidade, não traz o valor da nossa residência, não tem mais”, afirmou.

Segundo o Ministério Público Federal (MPF/AL), a situação dos Flexais é um processo que já vem sendo discutido e efetivado há bastante tempo, com participação dos moradores e Defensoria Pública da União (DPU). E chegou-se à revitalização pois foi o meio que juridicamente era viável. A realocação, no caso dos Flexais, não era prevista legalmente.

“O processo de realocação deve ser evitado sempre que possível, de acordo com as recomendações de instituições nacionais e internacionais. O objetivo é: preservar os vínculos entre as pessoas, o espaço e a cultura local. Especialmente em situações nas quais, seja possível reestabelecer a dinâmica socioeconômica da região. Está previsto no acordo”, destaca o órgão.

Na última semana, os moradores dos Flexais afirmaram temer uma nova tragédia, após a Defesa Civil de Maceió registrar dois eventos sismológicos na área evacuada do bairro do Mutange, na segunda-feira (06).

“O mais grave é que a gente aqui dos Flexais não tem nenhuma rota de fuga, a gente não tem ponto de encontro. Se acontecer um desastre, para onde vamos correr? Não tem nenhuma indicação, a população não tem nenhuma preparação. Esses abalos estão deixando a população com medo, preocupada e sem dormir direito porque, do mesmo jeito que aconteceu durante o dia, pode acontecer à noite”, afirmou Domingos.