Se os adultos enfrentaram dificuldades para lidar com a pandemia do novo coronavírus, com as crianças não foi diferente. Toda energia acumulada exigiu atenção e muito malabarismo por parte dos pais para entreter os filhos. Mas, em tempos difíceis, novas descobertas também apareceram.

Em Maceió, o estudante do 6º ano, Valmir Gabriel Calaça Calheiros Braga Apolinário, de 11 anos, durante o período de isolamento social, se sentiu assustado com a situação ao ser afastado bruscamente da rotina escolar, do contato com os amigos, e foi no desenho artístico que descobriu seu dom. Hoje, ele já coleciona mais de 200 desenhos e não pensa em parar.

No auge da pandemia, ele reclamou muito para a mãe da falta do cotidiano escolar, das conversas com os amigos nos intervalos, das tarefas, dos trabalhos escolares e da interrupção do contato com os professores.

Valdete Calheiros contou que o filho em mais um dos dias altamente estressantes que a pandemia ofereceu, em um momento em que decretos governamentais proibiram os contatos sociais, o garoto quase chorando disse que estava com tédio, não suportava mais as aulas online e precisava achar algo interessante para fazer no sentido de aliviar a mente, para tentar esquecer o que o vírus estava fazendo com a sua infância, e a infância dos amigos, e acreditar que tudo ia passar.

Foi quando a mãe do menino, também tomada pelo estresse, com as obrigações de casa e do trabalho remoto que a pegou de surpresa, elevou a voz e disse: “meu filho, não temos o que fazer. A situação está difícil, mas é momentânea, vai passar… Até lá vamos tentar fazer coisas diferentes, inovar, pensar em algo que nunca fizemos. Pegue papel e caneta. Vá desenhar, pintar. Coloque no papel o que você está sentindo”, relatou Valdete.

RELUTA

Segundo ela, Valmir relutou esbravejou e se recusou dizendo que não sabia desenhar, que a mãe só teria mandado ele desenhar para não ficar tão triste. Mas no final, o menino se rendeu e iniciou seus traços.

“Foi timidamente no começo, reclamando do resultado, tudo muito amador. Folha tipo A4 lápis escolar, e pinturas com lápis de cor escolar. Mas Valmir foi tomando gosto, se capacitando até que me pediu de presente um curso online de desenho com duração de cinco dias. Foi o suficiente para os seus desenhos serem motivo de alegria”, comemorou.

Ela ressalta que o garoto começou a pedir materiais cada vez mais específicos, papel com gramatura adequada, lápis e canetas apropriados, para se especializar cada vez mais.

“Valmir desenha personagens de Animes, essa é a sua maior inspiração. Mas está buscando aperfeiçoar seus traços em caricaturas e desenhos de paisagens. De um tempo para cá, ele está recebendo encomendas de desenhos. Os primeiros a encomendar foram os amigos da escola”, salientou orgulhosa. “De tanto acompanhar o Anime, Valmir até arrisca algumas frases em japonês”, frisou.

“Nos trabalhos escolares, é sempre apontado pelos amigos para fazer as artes nos desenhos coletivos. Suas maiores produções são inspiradas na cultura japonesa. Ao terminar cada desenho, ele mostra com orgulho à irmã mais velha, Gabriela. Ele espera a irmã chegar das aulas na faculdade para poder dar o aval”, detalhou a mãe.

VIROU HOBBY

Para Valmir Gabriel, o desenho é um passatempo, um hobby, um prazer. Ele se diz muito feliz ao ver seus desenhos finalizados. “Fico impressionado com minha evolução, mesmo tendo noção que tenho muito a aprender ainda. A arte é libertadora, me sinto viajando para qualquer parte do universo através dos meus desenhos”, pontuou o garoto estudioso, que também participa das olimpíadas científicas da escola, em especial as de Matemática, e ainda consegue tempo para se dedicar ao Judô, natação, inglês, flauta e violão.

Valdete e a filha mais velha são as fãs número 1 do Valmir Gabriel. “Sinto muito orgulho em saber que em um momento difícil, ele usou da resiliência e se descobriu em mais uma das artes que tanto gosta. Quando ele está feliz ele desenha e se tiver em algum momento triste desenha também. A arte ressignifica a vida, transforma experiências e Valmir Gabriel tem encontrado seu caminho a cada traço”, completou a mãe.

Valmir é filho da jornalista e psicóloga Valdete Calheiros que se derrete a cada obra de arte feita pelo filho que entre seus desejos futuros está o de desenhar o rosto do avô, o jornalista Valmir Calheiros (in memoriam) e se dedicar a um curso universitário na área de informática.

Quem quiser entrar em contato com o desenhista mirim autodidata, pode fazê-lo pelo telefone 82 99992-6006.