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Praia do Gunga: faixa de areia deve encolher mais de 60m em 77 anos

Orla alagoana está entre as 10 do continente sul-americano que mais devem perder parte do litoral

Por Luciana Beder - colaboradora com Tribuna Independente 10/08/2023 09h53 - Atualizado em 10/08/2023 14h14
Praia do Gunga: faixa de areia deve encolher mais de 60m em 77 anos
Conforme estudo, Praia do Gunga ficou na 10ª colocação entre as praias do continente sul-americano que mais devem perder litoral até 2100 - Foto: Edilson Omena

Uma análise produzida pelo site de hospedagem Hawaiian Islands com base em dados do Centro Conjunto de Pesquisa da Comissão Europeia aponta que a Praia do Gunga, no município de Roteiro, no Litoral Sul de Alagoas, deve perder 63,3 metros de faixa de areia até o ano de 2100.

Além da Praia do Gunga, outras praias brasileiras estão entre as que mais devem perder litoral do continente sul-americano, como a Praia de Morro Branco, localizada no município de Beberibe, no Ceará, que lidera a lista, com encolhimento de 224,6 metros, e a Praia dos Carneiros, em Pernambuco, que deve perder 166,4 metros de faixa de areia.

Na análise, a Praia do Gunga ficou na 10ª colocação entre as praias do continente que mais devem perder litoral. As mudanças climáticas são apontadas como os principais fatores que provocarão o estreitamento da faixa litorânea brasileira.

De acordo com o coordenador de Gerenciamento Costeiro do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA-AL), Ricardo César, o fenômeno da erosão marinha é recorrente, praticamente, em todo o litoral de Alagoas e é devido, principalmente, ao déficit de sedimentos e às mudanças climáticas.

“Nós temos o déficit de sedimentos, que há uma necessidade de fornecimento do continente para o oceano, para a formação das praias, porque é através dos rios e nós não temos rios com velocidade nem volume suficiente para jogar muita areia para praia para que essa areia seja retrabalhada e também as mudanças climáticas, principalmente, de eventos mais graves, de tempestades, ventos e ondas. Então, tudo isso se soma e é refletido na costa, agravando o avanço do mar”, explicou.

Ainda segundo Ricardo César, há algumas formas de evitar e diminuir a erosão marinha. “Nas áreas já urbanizadas podem ser adotadas medidas adaptativas, como a implantação de obras de contenção, já que é inexequível tirar a população da beira do mar e realocar para uma área mais interna para que o mar vá invadindo e vá formando outras praias. Já nas áreas que ainda não são ocupadas, que são poucas em nosso litoral, podem ser adotadas medidas preventivas, como um planejamento de ocupação, observando a vulnerabilidade de suscetibilidade daquela área ao avanço do mar, estudos para identificar a elevação do nível dos oceanos, quais faixas vão ser invadidas pelo mar para que se façam recuos grandes que perdurem por mais tempo”, afirmou.

Com a possibilidade de encolhimento da faixa de areia, muitos frequentadores da Praia do Gunga lamentam, como é o caso do empresário brasiliense Ney Gomes. “Não ouvi falar sobre esse encolhimento, mas acho que é possível, sem sombra de dúvidas. É muito ruim, infelizmente, nós, seres humanos, vamos destruindo tudo. Isso é reflexo da ação humana”, disse.

O marinheiro Lucas Eduardo da Silva frequenta a Praia do Gunga desde pequeno e afirmou já ter percebido diminuição da faixa de areia. “Antes, a faixa de areia daqui era muito maior. Por conta das marés altas, junto com o vento, a gente vai tendo um fechamento. E a saída do rio faz com que também traga areia do rio e a gente vai tendo assoreamento e perdendo a faixa. É um processo natural, mas acho que, na natureza, quanto menos a gente mexer, melhor, deixar seguir o seu ciclo”, contou.