Cidades

Alagoas tem 300 pediatras registrados

Segundo dados da Sociedade Alagoana de Pediatria, 75% atuam na capital e cidades mais próximas a Maceió

Por Valdete Calheiros - colaboradora com Tribuna Independente 27/07/2023 10h11
Alagoas tem 300 pediatras registrados
Uma das maiores lutas dos pediatras hoje é combater as fakes news sobre vacina, diz Marcos Gonçalves - Foto: Edilson Omena

A pediatria é a segunda formação mais escolhida pelos médicos, ficando atrás apenas dos que optam pela clínica médica. Em Alagoas são cerca de 300 pediatras registrados na Sociedade Alagoana de Pediatria. A quantidade não é vista como problema pela entidade, mas sim a distribuição desigual desses profissionais no estado. Setenta e cinco por cento dos pediatras atuam na capital ou nas cidades mais próximas a Maceió, segundo a Sociedade Alagoana de Pediatria.

Uma das maiores lutas dos pediatras atualmente é combater as fakes news sobre os benefícios das coberturas vacinais e fazer com que pais, mães e responsáveis voltem a levar as crianças e adolescentes aos pontos de vacinação.

O presidente da Sociedade Alagoana de Pediatria, médico pediatra Marcos Gonçalves, mostrou grande preocupação com as demandas dos consultórios que voltaram a registrar casos de crianças e adolescentes com doenças imunopreveníveis como é caso de sarampo, influenza e meningite. Segundo ele, a solução para o problema está na vacinação, bem ao alcance da sociedade.

DIA DO PROFISSIONAL

O alerta dado reforça a importância do Dia Nacional do Pediatra, comemorado hoje. Segundo ele, a baixa cobertura vacinal abre janelas para a reintrodução no país de doenças como a poliomielite e o sarampo.

“A taxa de vacinação caiu abruptamente principalmente depois da pandemia. A importância da vacina está sendo negligenciada. Existem os pais que não dão importância à vacina por não terem vivido a realidade de determinada doença como no caso do sarampo. Muitas gerações não viram pessoas morrendo de sarampo. Corremos o risco de ver de volta ao Brasil muitas doenças já erradicadas por conta dessa conduta de negligenciar a vacinação”, afirmou, em tom preocupado.

Na avaliação do médico, toda a sociedade precisa sempre falar nas vacinas, reforçando, relembrando. “Tivemos muitos casos de meningite e a maioria das vítimas fatais são crianças que não receberam a vacinação. Temos que vacinar para reduzir o número de óbitos, reduzir o número de crianças infectadas e de crianças sequeladas. Vacinar é um ato de amor”, aconselhou.

Ainda segundo Marcos Gonçalves, outro ponto bastante discutido pela Sociedade Brasileira de Pediatria é presença de um pediatra tanto nas Unidades Básicas de Saúde quanto nas Unidades de Pronto Atendimento (Upas).

“Criança não é um adulto pequeno. Criança precisa ser atendida por um pediatra. O pediatra precisa ser incorporado a essa equipe”, salientou o representante dos pediatras em Alagoas. Marcos Gonçalves destacou a criação do Cria no estado como um grande avanço nas políticas públicas voltadas às crianças, mas faltam ainda mais ações para se chegar no patamar que a categoria ache razoável.

Outra mudança observada na rotina pediátrica é que a desnutrição deu lugar à obesidade. Atualmente, há uma inversão contou o médico. “Antes tínhamos crianças com desnutrição e hoje vemos crianças obesas que no fundo são desnutridas. São crianças e adolescentes com um aumento muito grade de tecido gorduroso, mas que de saudáveis não têm nada. Não tem músculos, não tem micronutrientes. Tem apenas carboidratos e carboidratos isoladamente não sustentam ninguém”, comparou.

Pediatria é a 2ª especialidade mais popular entre médicos

Conforme a Sociedade Brasileira de Pediatria, no Brasil, existem 44 mil médicos pediatras. É a segunda especialidade médica mais popular (10,1%), ficando atrás apenas da clínica médica (11,3%). Apesar do número expressivo, a distribuição de profissionais pelos estados brasileiros apresenta discrepâncias bastante significativas: no Sudeste estão 54,4 dos pediatras. No Nordeste 16,5%; no Sul concentram-se 16,2%; o Centro-Oeste conta com 8,8% dos especialistas e o Norte tem apenas 4,1% dos pediatras brasileiros.

Dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde sobre a taxa de mortalidade infantil no Brasil entre 2017 e 2019 mostram que algumas regiões sofrem mais com o problema do que as outras – justamente aquelas que têm menor presença de médicos pediatras. Enquanto a média nacional registrada no período foi de 13,3%. O Norte apresentou 16,9%; o Nordeste 15,3%; o Centro-Oeste 13%; o Sudeste 11,7% e o Sul 10,1%.

O Brasil vem observando um declínio na morte de crianças. Segundo o mesmo levantamento, desde a década de 1980, há uma diminuição de 5,5% por ano e de 4,4% desde 2000.

O caminho para se obter o título de pediatra não é fácil. Para se formar em pediatra, o médico passa por uma formação de três anos, depois de ter concluído a faculdade de Medicina. E se ainda quiser definir uma área de atuação mais específica como cardiologia infantil, imunologia infantil soma mais um ou dois anos de preparação.

“O papel do pediatra é principalmente preventivo”

“Pela Sociedade Brasileira de Pediatria, o pediatra atende o paciente desde antes do nascimento, no último trimestre da gestação, é a chamada consulta pré-natal, até os 18 anos de idade. Inclusive, no nascimento tem que ter um pediatra na sala do parto”, detalhou Marcos Gonçalves pediatra com área de atuação também em alergia e imunologia pediátrica.

Os médicos recomendam que, quando possível, o paciente tenha um único pediatra, sempre o mesmo por ser um profissional que já conhece o histórico médico da criança, desde o útero muitas vezes ou pelo menos a partir das primeiras horas de vida.

O pediatra não trata apenas das doenças depois de já instaladas. Cabe ao profissional, compreender sinais muitas vezes desapercebidos pelos pais. O papel do pediatra é fundamental para a saúde da criança, além de prestar auxílio e esclarecimentos aos pais e familiares sobre alimentação, cuidados básicos de saúde e orientações sobre vacinação, proporcionando, no futuro, adultos saudáveis.

“O papel do pediatra é principalmente preventivo. Avaliamos todo o contexto do paciente. Desde aleitamento materno à introdução alimentar adequada, passando pela administração de vitaminas no momento certo, com olhar para o tratamento de anemia. Por incrível que pareça diminuem doenças como câncer, hipertensão arterial sistémica, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral”, considerou.