Cidades
Bairros que afundam: moradores reprovam diagnóstico sobre impacto da realocação
Lideranças veem erros graves em estudo sociourbanístico que avalia efeito da desocupação devido ao afundamento do solo

“Nós saímos indignados com o que foi apresentado. O diagnóstico não tem rigor científico, com sérios problemas na metodologia e usam termos de forma indevida com o intuito de ‘maquiar’ a gravidade da situação”. A avaliação é de Neirevane Nunes, integrante do Movimento Único Vítimas da Braskem (MUVB), que participou da primeira Escuta Pública que apresentou análise das condições de acesso às políticas sociais de saúde, educação, assistência social e segurança urbana, e impactos da realocação gerados pela desocupação dos bairros afetados pelas rachaduras do solo.
Segundo Nunes, existem erros graves de metodologia que podem tornar inválido o diagnóstico. “Estamos estudando o documento. São mais de 600 páginas. Mas o que nós vimos já de início é problemático. Eles fazem tudo menos ciência. Além disso, em nenhum lugar do documento a Braskem é colocada como responsável”, afirmou.
Nunes disse ainda que o Município é citado várias vezes, apontando suas deficiências, sendo que a culpa é da Braskem. “Infere uma culpa ao Município de não conseguir atender às novas demandas que foram geradas devido ao crime da Braskem. Também não fica claro quem irá custear as ações que são propostas no diagnóstico. Será que a Braskem, a infratora, está tirando o corpo de fora e jogando essa responsabilidade também para o Município?”, questionou.
Liderança considera metodologia incompatível com complexidade do caso
O presidente da Associação de Empreendedores do Pinheiro, Alexandre Sampaio, considera a metodologia usada para fazer o diagnóstico sociourbanístico incompatível com a complexidade e dimensão do problema, que atingiu 60 mil pessoas, 6 mil empresas e 30 mil trabalhadores em cinco bairros.
“Ela é propositalmente excludente com lideranças que detém mais informações e seletiva para entrevistar pessoas menos preparadas para falar do crime da Braskem. A Diagonal [empresa responsável pelo estudo] se declara falsamente isenta e independente para poder realizar este diagnóstico exigido pelo acordo com o MPF. A Diagonal é a mesma empresa que trabalha para a Braskem levantando e precificando valores dos imóveis, tendo, portanto, vínculos comerciais suspeitos no mesmo caso dos cinco bairros afetados pelo crime”, afirmou Sampaio.
Sampaio disse ainda que, uma fonte ligada à Odebrecht, principal controladora da Braskem, informou a ele que a Diagonal acompanha a empreiteira em diversos estados do Brasil e até em outros países, sempre fazendo o papel de mediar os conflitos com as comunidades locais afetadas.
“Outro ponto importante é a linguagem usada pela Diagonal para descrever o crime da Braskem, chamando-o de evento ou fenômeno, tal qual a propaganda da Braskem, que mostra um alinhamento suspeito com os interesses da mineradora de maquiar a gravidade do crime com eufemismos”, destacou.
“Documento é um embuste em todos os sentidos”
Para o economista Elias Fragoso, o documento é um embuste em todos os sentidos e um acinte aos alagoanos. “Urbanístico, sociológico, territorial, econômico, patrimonial. E os vários especialistas presentes na Escuta Pública deixaram isso tão claro que a única opção foi a sua rejeição pelos presentes. A proposta é de tal indecência que levou ao cúmulo de, após mais de 650 páginas, propor que a Prefeitura assuma a responsabilidade de elaborar e executar os projetos que eles sequer propuseram”, afirmou.
A primeira escuta pública foi realizada na terça-feira (7) pela Diagonal Empreendimentos e Gestão de Negócio. Segundo a empresa, o diagnóstico apresentado servirá como base para a construção coletiva das medidas que irão compor o Plano de Ações Sociourbanísticas, como previsto no Termo de Acordo Socioambiental, assinado em dezembro de 2020 entre a Braskem e o Ministério Público Federal em Alagoas (MPF/AL), com a participação do Ministério Público do Estado de Alagoas (MP/AL).
Os próximos encontros serão realizados nos dias 14, 21 e 28 de março, sendo cada dia destinado a um eixo específico. Cada evento tem duração total de quatro horas, para a apresentação, perguntas e respostas.
No dia 14, serão debatidos os impactos sobre a geração de trabalho e renda, inclusive na comunidade pesqueira, e a oferta de comércios e serviços. Já no dia 21, análise das condições urbanas e ambientais e os impactos nas dinâmicas dos lugares, com ênfase no planejamento urbano, espaço público e centros de bairros. E, no último encontro, o impacto sobre a cultura, o patrimônio cultural e a memória dos bairros afetados.
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