Cidades
Tutmés Airan se retrata e Adriana Mangabeira enaltece seu trabalho em defesa das mulheres

O desembargador Tutmés Airan contou ao jornal que se retratou das palavras que disse a respeito da advogada tributarista Adriana Mangabeira Wanderley e que ela, formalmente, aceitou o pedido de desculpa. O desembargador forneceu tanto o seu pedido de retratação quanto a manifestação com que a advogada aceitou o seu pedido de desculpa.
Confira a retratação feita pelo desembargador e a manifestação da advogada:
“Pelo presente termo, eu, TUTMÉS AIRAN DE ALBUQUERQUE MELO, devidamente qualificado nos autos da Ação Penal Privada nº 886/DF (2017/0314872-8), em tramitação perante a Corte Especial do eg. Superior Tribunal de Justiça, em que figuro como querelado, sendo querelante ADRIANA MANGABEIRA WANDERLEY, venho formalmente me retratar, retirando, por completo, todas as palavras ofensivas (consideradas pela querelante como injuriosas e difamatórias) que proferi em seu desfavor e que se encontram registradas na petição inicial da ação penal privada acima referida. Nada obstante entenda que apenas proferi as referidas palavras tidas por ofensivas pela querelante em situação de inequívoca emoção e em retorsão às graves ofensas que a querelante me havia irrogado (por exemplo, ela me qualificou como magistrado corrupto e me acusou, levianamente, de receber visitas de advogados com malas de dinheiro), hoje reconheço que, mesmo assim, não deveria ter proferido as palavras que proferi contra a querelante naquela oportunidade. Por isso mesmo, venho manifestar nos autos da ação penal privada em referência formal RETRATAÇÃO e, com efeito, retirar, por completo e de forma cabal, todas as palavras ofensivas (consideradas pela querelante ADRIANA MANGABEIRA WANDERLEY como injuriosas e difamatórias) que proferi em seu desfavor, declarando que assim agi em momento de grande infelicidade, tomado de emoção em face das injustas agressões que me foram dirigidas. Em síntese e objetivamente, retrato-me das ofensas que irroguei à querelante ao qualificá-la de “vagabunda, nojenta e desqualificada”, entre outras expressões reputadas de igual teor ofensivo pela querelante e registradas no e-STJ fl. 10 da Ação Penal Privada nº 886/DF. Brasília/DF, 30 de novembro de 2022
A seguir, a resposta de Adriana Wanderley:
“Sr. TUTMÉS AIRAN DE ALBUQUERQUE MELO eu ADRIANA MANGABEIRA WANDERLEY aceito sua retratação como pedido de desculpas, o perdão fica para Deus, eu sou uma mera humana. A sua atitude de reconhecer o erro é muito importante, espero que tenha sido de grande aprendizado, para que jamais se repita com outras mulheres.
Tenho acompanhado seu trabalho pelo referido TUTMÉS AIRAN DE ALBUQUERQUE MELO frente ao Tribunal de Justiça de Alagoas, onde tem defendido pautas em enfrentamento à violência contra a mulher que visa cuidar de mulheres que estão em situação de vulnerabilidade. Fica aqui registrado que aceito o pedido de desculpas e espero que esteja sendo de grande valia o trabalho realizado pelo referido TUTMÉS AIRAN DE ALBUQUERQUE MELO, mostra que realmente está arrependido. Brasília/DF, 01 de fevereiro de 2023”
Revisitando situações pessoais: um retratamento necessário
Tutmés Airan reflete que é na história de vida das pessoas que se encontra a resposta para uma série de entendimentos de mundo, ou de tomadas de decisões. A materialidade destas experiências pode ser constatada em cada episódio de sua própria trajetória: seja a infância, os lugares em que viveu, as leituras que acessou e mesmo as privações por que passou e que lhe projetaram percepções ainda mais profundas sobre seu lugar nestas demandas.
O desembargador também afirmou encontrar estas compreensões a partir dos pontos que considera definidores de seu amadurecimento. É neste sentido que exemplificou um momento-chave em que sua vida pessoal ganhou contornos públicos. Trata-se do polêmico conflito com a advogada tributarista Adriana Mangabeira Wanderley, iniciado em 2017. Ao ter recebido uma decisão judicial que contrariou seus interesses, a advogada iniciou uma série de acusações contra Airan perante o Conselho Nacional de Justiça.
“À época, me senti extremamente ofendido por ter sido chamado injustamente de corrupto e pela forma grave com que ela me acusou. O problema é que, em meio a todo esse momento, fui procurado por um jornalista e, no auge da minha agonia, terminei por ofender a referida advogada, sobre o que nesse momento me retrato. Hoje, além de ter compreendido a proporção que a situação tomou, entendo que não devo combater qualquer tipo de injustiça, inclusive uma dirigida a mim, ofendendo qualquer pessoa que seja”, diz.
O prolongado ciclo chega ao fim, segundo Tutmés, não só a partir do encerramento das hostilidades, como ainda de mais um aprendizado que recebe. “Tive a oportunidade de aprender com esta situação também do ponto de vista das questões de gênero. Nosso compromisso, enquanto homens e aliados, também está na vigilância cotidiana de nossas palavras, para que elas de fato promovam a igualdade e não qualquer uso de termos que, direta ou indiretamente, desqualifiquem mulheres em função de seu gênero. No fim das contas, esta consciência faz parte da coerência com nossos princípios, que é um caminho para a vida toda”, relata.
“Homens têm obrigação histórica de ser aliados das mulheres”
Lançado desde 2014 pela ONU Mulheres, o movimento HeForShe chegou com um convite para o mundo: a igualdade de gênero é responsabilidade de todas as pessoas. No discurso de seu lançamento, a Diretora Executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, chama a atenção diretamente de líderes homens para que, a partir de suas funções e instituições, busquem promover o que chama de “uma mudança irreversível”, em que deverão utilizar suas influências para reinventar os valores das instituições que representam “e nunca olhar para o outro lado”.
É possível dizer que o desembargador Tutmés Airan se identificou com o chamado antes mesmo de ser feito publicamente pelas Nações Unidas. A autoconvocação é demarcada desde que se entendeu como uma ponte para que as pessoas tenham acesso aos direitos, reafirmando em diversas oportunidades, que “o poder só tem sentido se for para fazer o bem”.
Hoje à frente da Coordenadoria da Mulher e da Coordenadoria de Direitos Humanos do Tribunal de Justiça de Alagoas, Tutmés faz mais do que procurar inspiração na então campanha de quase dez anos atrás: defende a atualidade da pauta internacional, com o critério de que seja fundamentada também em ações concretas.
“As campanhas são extremamente importantes e inspiradoras, mas elas não podem se encerrar no compartilhamento de mensagens ou de textos, não quando temos oportunidade – a partir de nossa posição institucional ou individual – de fazer mais do que isto. Os homens não devem absolutamente querer protagonizar a luta das mulheres, mas temos uma obrigação histórica de nos colocarmos como aliados concretos destas pautas, tanto no discurso como também nas ações, para que os direitos sejam efetivados”.
A partir deste entendimento, Airan relata ter iniciado um caminho de escuta ativa sobre como poderia colaborar concretamente com questões pulsantes para o contexto alagoano, permeado por uma série de desigualdades de gênero. “A ideia sempre foi me instruir de tudo o que fosse necessário, para pensar como me aliar nessa ‘mudança irreversível’ e urgente, a partir das minhas atribuições, do cargo que exerço, ou das funções que ocupo”, explicou.
AÇÕES CONCRETAS A PARTIR DA REUNIÃO DE FORÇAS
Em meio a este movimento, uma das maiores idealizações tomou forma: a Casa da Mulher Alagoana Nise da Silveira. Inaugurada em 2021, a instituição é resultado de uma série de escutas a movimentos de mulheres e entidades vinculadas aos seus direitos, ao longo de todo o ano de 2020, quando Tutmés Airan ocupava a presidência do Tribunal de Justiça.
“Foi possível compreender, a partir das demandas socializadas pelas próprias mulheres, a necessidade de um local que aglutinasse acolhimento humanizado e completo para as vítimas de violência doméstica, com assistência rápida e efetivamente protetiva”.
Hoje registrando o marco de 2 mil mulheres atendidas, a Casa da Mulher Alagoana vem se colocado enquanto referência nacional, com atendimento psicossocial, delegacia especializada, juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Capital, além de disponibilização de Defensoria Pública, abrigo temporário, brinquedoteca e programas sociais do Executivo que priorizam mulheres.
“A Casa da Mulher Alagoana, além de resultante de um esforço conjunto do Poder Judiciário junto às entidades, representa uma compreensão muito forte sobre como essas mobilizações por um bem maior se potencializam quando unimos as forças. É essencial para conseguirmos resultados transformadores e que impactam concretamente na vida das mulheres, a partir de suas necessidades, demandadas individual ou coletivamente”.
NOVOS CAMINHOS
No que depender deste caminho, a peleja ainda deverá render mais alguns resultados – desta vez também de amadurecimento coletivo na instituição em que o desembargador tem trabalhado para construir suas “mudanças irreversíveis”. Através da Coordenadoria da Mulher, tem se reunido junto a um time de juízas comprometidas com a iniciativa de capilarizar os direitos das mulheres em todo o sistema judiciário – que vai, inclusive, para além das portas do Tribunal.
Outras missões também estão na iminência de serem alcançadas, como a instalação da Ouvidoria da Mulher, que já promete ser mais uma ponte junto ao Poder Judiciário. “Mais espaços para ouvir significam também mais possibilidades de mudanças reais. Além disso, com mais mulheres no Poder Judiciário e no Sistema de Justiça, temos as melhores oportunidades para que essa transformação se mantenha sólida em todos os lugares onde tenhamos influência sobre o impacto. Agora, como homem e dentro das funções que exerço, me resta participar ativamente desta revirada necessária de valores”, disse Tutmés Airan.
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