Cidades

Papai Noel dos Correios: 5 mil cartas ainda esperam padrinhos e madrinhas

Prazo para adoção e entrega de presentes a crianças que participam da campanha se encerra nesta segunda-feira (19)

Por Emanuelle Vanderlei – colaboradora com Tribuna Independente 17/12/2022 09h49
Papai Noel dos Correios: 5 mil cartas ainda esperam padrinhos e madrinhas
Até a última quinta, mais de 4 mil cartinhas haviam sido adotadas, mas 5 mil pedidos ainda aguardavam por um padrinho ou madrinha - Foto: Edilson Omena

Não tem como não se emocionar ao visitar o escritório do Papai Noel montado na Praça Central do Shopping Maceió. São milhares de cartinhas com sonhos e histórias depositadas por crianças matriculadas do 1º ao 5º ano do ensino fundamental de escolas públicas, creches, abrigos, orfanatos e núcleos socioeducativos. Até a última quinta-feira (15), mais de 4 mil já haviam sido adotadas, mas 5 mil pedidos ainda não tinham achado um padrinho ou madrinha.

De acordo com Rostan Lima, Coordenador da Campanha em Alagoas, os pedidos sempre surpreendem a equipe. “Esse ano a gente teve uma criança que não pediu nada pra ela. Pediu coisa pro gato, porque o gatinho dela estava doente e ela queria dar uma caminha e uma coleira pra ele. Aí a gente conseguiu adoção. Como ela dizia qual era a doença do gato, a gente conseguiu com o shopping a adoção e foi encaminhado pra ela o remédio pra cuidar do gato com as orientações de como usar”.

Fazendo o cadastro das cartas, a equipe encontrou todo tipo de história. Independente da crença, o espírito natalino contamina. Algumas histórias são muito tristes, mas carregam em si a esperança que as crianças alimentam.

“Uma cartinha pedia móveis para a amiga que perdeu tudo na enchente. Outra criança pediu uma cama pra dormir ela e o irmão, porque não tinha espaço para a família. Só tinha uma cama e não tinha espaço, porque era mãe e três ou quatro filhos e não dava pra dormirem todos no mesmo lugar. Então alguns dormiam no chão. Essa carta foi bem forte. E a outra foi o pedido de uma mesa. A criança queria uma mesa pra a família poder almoçar junta, porque eles não tinham mesa. Então almoçava todo mundo em pé ou sentado no chão ou alguma coisa assim”, relata Rostan.

Outra curiosidade que eles trazem são as mensagens das crianças, que até trazem pedidos comuns, como kit escolar ou bola, mas conversam com o bom velhinho de um jeito mais lúdico e inocente. “Eles dizem ‘vou ficar te esperando Papai Noel’. Ou até ‘ano passado eu fiquei acordada esperando você pra ver você e não consegui’. E uma que é um pouco mais pesada, quando a carta não é adotada: ‘todo ano eu escrevo, mas eu nunca ganhei nada’”.

Teve criança pedindo óculos para poder enxergar melhor, menina que o sonho era ser atriz e pediu um curso de atuação, um garoto que o sonho era aprender a tocar violão, outra criança não pediu presente nenhum, só queria realizar o sonho dele que era ir à praia. E até uma carta pedindo que os pais voltassem a se amar e se casassem.

Nos últimos 3 anos, foram mais de 800 mil cartas atendidas. Em 33 anos, o Papai Noel dos Correios, com o apoio dos empregados da empresa, padrinhos e madrinhas de todo o país, já atendeu mais de 6 milhões de cartinhas.

Madrinhas tentam mobilizar mais gente para realizar os sonhos


Ieda Izabelle estava no shopping entregando os presentes das cartas que tinha adotado antes, foram 7 sonhos realizados. “Participo todo ano porque já fui criança, acho muito legal. Às vezes a pessoa queria um presente que não tem e é por isso mesmo. É muito bom presentear alguém que a família não tem condições de dar. Peguei 7 cartas. Teve um ano que eu fiz o pessoal da minha empresa adotar 40. Já trabalhei na Almaviva em 2019, o pessoal pegou 40. Hoje eu falei com o pessoal lá de casa e não conseguiram, mas eu faço por mim”.

Aos 27 anos a jovem prioriza o sentimento de doação e se sente a própria Mamãe Noel. “Eu me emociono pelo texto, as vezes eles falam ‘minha mãe não tem condição de me dar um presente’, eu pego mais por isso mesmo”.

A professora Selme Alpino conta que já ajudou muitas crianças a escrever a cartinha em sala de aula, mas, pela primeira vez, está participando da campanha como madrinha e trouxe as filhas para ajudar. “Eu sempre via, mas nunca tinha tido oportunidade de fazer isso. Este ano eu pensei ‘vou lá ver como é’. Estou aqui olhando. É emocionante. Eu sou professora e já fiz esse trabalho de enviar cartinhas para o Papai Noel das crianças da escola. Mas adotar uma carta, eu não tinha feito isso ainda”.

Professora Selma Alpino com as filhas; ela já ajudou a enviar cartinhas de crianças da escola, agora está no papel de madrinha: “é emocionante” / Foto: Edilson Omena


Ela explica que não adotava cartas da campanha porque na escola acabavam fazendo isso também. “Na escola a gente adotava muitas crianças para trazer presentes. Agora estou olhando aqui para ver a que deixa o coração mais quentinho”, disse ela sorrindo.

Para quem está sem tempo, também é possível adotar cartas de forma on-line pelo blog da campanha. Para tanto, é preciso clicar em “Adoção On-line” e seguir os passos.

A “Família Santos”, como se autointitulam Lucineide e Lucimar Silva dos Santos, mantém uma tradição de solidariedade natalina. “É o primeiro ano que participa do Papai Noel, mas a gente sempre doa. Fazemos doação ou para uma instituição de caridade ou algum lar de idoso ou alguma criança. A gente sempre faz doação”.

Lucimar e a filha Lucineide escolheram suas cartinhas no shopping e garantem, presencialmente a experiência é bem melhor.

“A campanha a gente sempre via na televisão. Este ano a gente viu e pensou: este ano vamos fazer a da criança, que geralmente tem muito pai que não tem condição de dar presente. Eu fui olhando, a primeira que peguei dei uma lida e fui olhando as outras”, disse Lucineide sobre a carta que escolheu. “A história chamou atenção, é muito engraçada. A minha é de uma menina. Ela fala que se comportou muito bem na escola, obedeceu aos pais e queria um tênis”.

Lucimar completou falando sobre a sua. “O meu foi um menino, disse que se comportou muito bem e queria um kit de material escolar. Bem simples”.

Para quem nunca adotou, elas deixam o recado. “São muitos presentinhos baratinhos que eles pedem. Acho que todos que podem deveriam adotar uma cartinha. Acho que a gente olha tanto pros da gente, quer dar um celular, um tênis bom. Aí a gente pega uma cartinha dessas e é tão simples, só um material escolar, uma bola, vi muita bola, que há pais que realmente não têm condições”.