Cidades

Maceió: 63% dos adolescentes usaram álcool

Dado reflete público escolar com idade média de 14 anos; consumo está diretamente ligado a problemas de saúde e desenvolvimento

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 06/08/2022 10h12
Maceió: 63% dos adolescentes usaram álcool
Venda e oferta de bebidas alcoólicas a menores é crime e prevê sanções ao estabelecimento e multa - Foto: Imagem ilustrativa

O consumo de bebidas alcoólicas é realidade para 63% dos adolescentes maceioenses do 9º ano do ensino fundamental com idade média de 14 anos. O percentual é 14% maior que o observado em 2012. Além disso, 28% dos adolescentes afirmam já ter ficado bêbados. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em pesquisa que avalia a saúde dos jovens no brasil.
Outro dado que chama a atenção é a quantidade de adolescentes que afirmam ter tido problemas com a família pelo uso de álcool, 11%. Além disso, 62% experimentaram bebida alcoólica antes dos 13 anos.

O consumo de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos é crime e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê sanções tanto para a venda como para a oferta de bebidas alcoólicas resulta em detenção de dois a quatro anos, aplicação de multa de até R$ 10 mil ou interdição do local de venda.

As punições se estendem para familiares ou amigos que incentivarem ou ofertarem para crianças e adolescentes.

Ingestão precoce

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a ingestão precoce de álcool é a principal causa de morte de jovens de 15 a 24 anos de idade em todas as regiões do mundo.

A ingestão precoce de álcool é prejudicial porque influencia no desenvolvimento cognitivo uma vez que o cérebro ainda está em formação, como também aumenta a possibilidade de vício e consumo abusivo.

O Sindicato dos Trabalhadores da Educação em Alagoas (Sinteal) classifica as estatísticas como preocupantes.

“Vemos com preocupação o resultado da pesquisa, pois o consumo de bebida alcoólica nessa fase da vida ainda é prematuro e pode ser prejudicial. Mas na prática, no dia a dia do nosso contato com os trabalhadores e trabalhadoras da educação e nas visitas às escolas públicas aqui em Alagoas não temos recebido relatos de comportamentos relacionados ao álcool entre os estudantes no contato com a escola”, afirma a dirigente da entidade Consuelo Correia.

Quanto mais cedo o contato, mais risco de ficar dependente


A psicóloga Monysy Sarmento destaca que o consumo de álcool é extremamente prejudicial para essa fase e está ligado diretamente na saúde e na qualidade de vida destes adolescentes que não tem maturidade física e emocional para a exposição as bebidas.

“Os adolescentes tem ficado cada vez mais expostos, de forma precoce, ao consumo de bebidas alcoólicas, bem como ao contato com outras drogas como o cigarro, hoje na maior parte os eletrônicos. Nessa fase, a busca por novas experiências e sensações, facilita esse primeiro contato, que muitas vezes é estimulado pela sociedade em que esse adolescente vive, sendo considerado normal, no entanto está sendo deixado de observar o que esse consumo pode acarretar na vida desse jovem. Quanto mais cedo essa experiência com a bebida e o cigarro acontece, maiores são as possibilidades de se tornarem um usuário dependente na vida adulta, pois nessa fase parte do cérebro ainda está se formando e o comportamento impulsivo é muito grande”, salienta.

Ainda segundo a especialista as bebidas alcoólicas nesta fase “abrem a porta” para outros problemas como a agressividade e comportamentos de risco.

“Essa exposição precoce pode deixar sequelas no desenvolvimento de suas habilidades, emocionais, ficam mais suscetíveis à agressividade, ao comportamento sexual de risco, sem falar na chance de desenvolver transtornos psiquiátricos. É preciso que os pais ou responsáveis estejam atentos ao comportamento de seus filhos, proibir apenas não adianta, é preciso manter um diálogo aberto sobre esse tema mostrando os impactos negativos, que esse consumo precoce e muitas vezes de forma excessiva pode trazer para a vida dele.

A orientação de Monysy Sarmento é que as famílias estejam atentas ao comportamento dos adolescentes, companhias e procurem ajuda nos casos onde o consumo abusivo está estabelecido.
“Que fortaleça esse vínculo com seu adolescente, esteja atento para ouvi-lo, conheça seus amigos e o contexto familiar deles, esteja atento sempre aonde e com quem seu filho está, e como está se comportando, pois apesar das orientações e da base de confiança construída no vínculo familiar, é bom sempre fazer esse acompanhamento. Se perceber que ele bebeu ou consumiu o cigarro, converse e escute o que o levou a esse comportamento e relembre-o das regras estabelecidas, usando argumentos concretos para mostrar seu ponto de vista. E se você identificar que esse adolescente já está fazendo uso de alguma substância de forma abusiva não hesite em procurar ajuda profissional. O melhor a fazer para esse adolescente, é retardar a iniciação desse contato com qualquer substância psicoativa, ainda que legalizadas”, salienta.

Conscientização é melhor saída para as famílias apoiarem os adolescentes


A psicóloga clínica e escolar Aldynne Fernandes explica que a fase da adolescência é marcada pela busca de aceitação, isto se traduz em problemas de autoestima, irresponsabilidade e teste de limites impostos.

“Na prática existe esse comportamento de risco entre os adolescentes. Estamos vivendo tempos difíceis que esses dados tem aumentado cada vez mais tanto em relação ao uso precoce da bebida alcoólica como também do cigarro eletrônico. E aí tem todo um contexto que leva o adolescente a buscar por essa nova experiência, com dificuldade em tomada de decisões mais responsáveis, em habilidades sociais, em saberem se posicionar né? Mesmo que isso algumas vezes esse posicionamento seja ao contrário de outras pessoas, então cada vez mais eles estão buscando pertencimento de algum grupo e se não faz é o careta, o medroso. Existe a necessidade de autoafirmação. E aí eles não medem os prejuízos a curto médio longo prazo que isso tudo pode causar”, destaca.

Outro ponto destacado pela especialista e a influência das mídias sociais com exposição a comportamentos de risco.

“Então tem a questão do marketing também, está tudo muito ligado com essa questão da comunicação a prevenção ela é muito ligada com a comunicação então eles tem um acesso a comunicação de uma forma diferente que traz o álcool como forma de prazer, de lazer, de embelezamento. Então isso encanta de certa forma. Então tem todo um contexto”, reforça.
Considerando todos esses aspectos a psicóloga salienta que a conscientização ainda é a melhor saída para as famílias apoiarem os adolescentes. Ela reforça que as famílias precisam preparar o entendimento deles para que compreendam a importância de resistir a comportamentos que coloque em risco sua saúde ou segurança.

“O relacionamento pai e filho adolescente precisa ser feito com muito cuidado de forma bem leve, natural, tranquila, eles não podem sentir os pais apenas como autoridades. Pais autoritários que estão ali sempre pra julgar, fiscalizar e pra dizer o que é errado eles precisam ter essa relação de de parceria e os pais precisam entender que não conseguem colocar o filho numa bolha pra que ele não tenha acesso a coisas ruins do mundo. E ele vai ter acesso. Ele precisa realmente de orientações claras pra isso. Que ele vai pra um ambiente, que vão ter outras pessoas que fazem uso, quais são os prejuízos disso, manter ele consciente pra que ele realmente venha a tomar uma decisão responsável então mantendo um tranquilo em casa. A base do diálogo é naturalizando o processo de adolescência e entendendo que não é trancando seu filho em casa e impedindo que ele vivencie algum momentos que são importantes pra fase de adolescência que ele vai evitar alguma coisa. O filho precisa ter acesso a esse mundo mais orientado, seguro, mais confiante. Confiando nas orientações de casa”, enfatiza.