Cidades

Movimento negro garante homenagem a Zumbi dos Palmares

Sem suporte da Fundação Palmares, lideranças contam com apoio de estado e município para reforçar importância da data

Por Emanuelle Vanderlei com Tribuna Independente 13/11/2020 08h29
Movimento negro garante homenagem a Zumbi dos Palmares
Reprodução - Foto: Assessoria
No dia 4 de outubro de 2020, o presidente da Fundação Cultural Palmares Sérgio Camargo fez uma declaração em suas mídias sociais de que não apoiaria a realização da data mais emblemática da luta e resistência do povo negro no Brasil. “O suporte da Fundação Cultural Palmares ao Dia da Consciência Negra será ZERO”, publicou Sérgio no Twitter. De acordo com o site oficial da instituição, “a FCP [Fundação Cultural Palmares] é referência na promoção, fomento e preservação das manifestações culturais negras”. O 20 de novembro, é considerado o Dia da Consciência Negra em todo o país. A data lembra a morte de Zumbi, líder da resistência do povo negro que foi escravizado no Brasil. O posicionamento do órgão não surpreendeu as lideranças do movimento negro. “Não era de se esperar outra atitude dele. Já sabíamos que dele não podemos esperar nada a não ser crítica ao movimento negro, como ele já fez. Se a gente tem como herói principal que movimenta o 20 de novembro Zumbi dos Palmares, e ele abertamente já falou que zumbi não é nosso herói, o que se pode esperar?”, reagiu Benedito Jorge, coordenador do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô. Jorge afirma que o movimento negro discorda dos posicionamentos do atual gestor da fundação. “Não nos representa, nunca nos representou, nunca nos representará! Foi colocado para cumprir a ideologia contrária às minorias, deste governo fascista”. Sobre a celebração do dia da consciência negra, Benedito Jorge garante que vai acontecer. “A celebração do 20 sempre aconteceu independente desta estrutura institucional. Sou do tempo que subíamos a serra quando nem existia o caminho, era só mato. A serra é nossa, independente da instituição. Zumbi vai estar sempre sendo comemorado”. Marluce Remígio, presidente do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Conepir), explica que há uma articulação dos movimentos e do Governo do Estado para promover a data. “Estamos pensando em pandemia, protocolos e questões de segurança para realizar a festa. Fomos surpreendidas com a informação de que há interesse do presidente da Fundação de participar, apesar das declarações anteriores contra a data”. A postura de Sérgio Camargo é criticada por Marluce. “Ele afirma que não existe racismo no Brasil, não concorda com o dia da consciência negra, desconhece a nossa história, a história de zumbi e do quilombo dos palmares. Desconhece totalmente e não reconhece que existe movimento negro no brasil. Essa atitude deixa o movimento negro a deriva. A raiz afrodescendente faz parte da formação do povo brasileiro, 56% da população do Brasil é negra. Essa fala é um prejuízo enorme na nossa educação”. Fazendo referência à lei 10.639 que, obriga o ensino da história e cultura afrodescendente e indígena nas escolas, ela afirma que falta identidade por parte do gestor. “Ele não é nenhum leigo, sabe que existe o movimento, mas não reconhece. Se tivesse estudado a história afrodescendente e indígena do nosso país, como hoje exige a legislação, teria percebido a importância que tem o movimento negro para todo o povo brasileiro, principalmente para as pessoas negras, como eu e ele”. O mestre de capoeira Ivanildo da Silva, conhecido como Besourão faz coro com as outras lideranças. “O movimento em si, tanto da capoeira, quanto todos os segmentos afros aqui de Alagoas, é totalmente contra. Inclusive fizemos vários protestos e notas de repudio contra a atuação deste presidente da fundação. Ele já deixou claro que quer desconstruir toda a história e legitimidade, todo avanço que o movimento negro conseguiu na sua história do Brasil”. O capoeirista defende a união dos movimentos. “Aí está uma situação que a gente tem que se unir, e estamos unidos sim. Nas últimas reuniões que fizemos, ficou claro que independente da fundação palmares, o município vai sim fazer a semana do 20. Teremos as ações que todo ano a gente faz em homenagem ao povo negro e a Zumbi, independente do apoio”.