Cidades

Baile da Chita realiza sua 67ª edição

Evento em Paulo Jacinto sobrevive em uma época na qual as celebrações culturais estão desaparecendo em alguns municípios

Por Lucas França com Tribuna Independente 20/07/2019 08h25
Baile da Chita realiza sua 67ª edição
Reprodução - Foto: Assessoria
A cidade de Paulo Jacinto, Zona da Mata do estado está em festa. É que no sábado (20), acontece o 67º Baile da Chita. Com quase 70 anos de tradição, o evento é tema de vários trabalhos escolares, Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), de dezenas de reportagens especiais, e principalmente a maior referência cultural dos paulojacintenses, o 6º Patrimônio Imaterial Histórico e Cultural de Alagoas espera atrair mais de 800 pessoas. O diretor-presidente do Clube Recreativo Cultural Paulo Jacintense, responsável pela organização do baile, disse que está tudo pronto para receber o público local e turistas de várias cidades alagoanas e até de fora do estado. “O Baile da Chita é o maior evento da cidade. Um baile histórico, cultural e sociopolítico do estado. A realização dele é de fundamental importância, porque estaremos dando prosseguimento à cultura da celebração que foi o ponta pé inicial da emancipação do nosso município”, disse Davi Lima. Os menos de oito mil habitantes de Paulo Jacinto, a cerca de 118 km da capital não veem a hora de se vestir de chita e rever os filhos da terra que voltam à cidade nessa época justamente para participar da tradição. Para o assistente social e pesquisador da história do município, Valney Erick, a festa sobrevive até os dias de hoje graças à determinação dos dirigentes do clube. “Sobretudo o apoio incondicional de muitos munícipes e amantes desta cultura, que ao longo desses 67 anos de existência vem se tornando mesmo em meio a tantas mudanças e descaracterizações ainda carrega o poder aglutinador. A existência do Baile da Chita, é saber que ele, foi um grande anfitrião de um sonho que nasceu dos nossos antepassados, com a finalidade de alcançarem a tão sonhada emancipação política”, relembra o pesquisador. Para a cantora, filha da idealizadora do baile e uma das primeiras rainhas, Leureny Barbosa, a tradição é a cultura mais importante para o município.  “É o evento mais importante da nossa cidade, tanto que se tornou patrimônio do estado. Minha mãe foi idealizadora, realizou alguns dos bailes. O evento é indiscutivelmente histórico e importante para o estado. Sou suspeita em falar, fui rainha em 1961, minha irmã foi à primeira rainha. Sobreviver esses anos todos é inexplicável, mas, é um encantamento que envolve a cidade, muitas meninas sonham com esse momento. Eu sempre falo que a rainha deveria ter uma função social na cidade, aproveitar esse momento, ir às escolas, despertar a curiosidade nas crianças e adolescentes. Existe um envolvimento de toda a cidade para esse momento. Talvez o amor com que se foi feito anos atrás pode está ligado a essa sobrevivência”. ANIMAÇÃO O Baile da Chita começará a partir das 23h com a orquestra Golden Time, em seguida o cantor Elminho tomará conta do palco e finalizando Tarcy Monteiro (ex-Baby Som) encerra o evento com muito forró das antigas para o público.  Segundo Davi Lima, foram oferecidas 150 mesas a R$ 170 e destas já foram vendidas 120 mesas. O ingresso individual custa R$ 40. Evento traz grande diversidade de manifestações culturais   No período do Baile da Chita, a movimentação em Paulo Jacinto aumenta, gerando mais renda para o comércio local. “Nessa época a gente ganha mais. Desde maio/junho tivemos encomendas. As pessoas querem se vestir com o tecido que deu nome ao baile”, disse Cícera Monteiro, coordenadora da Associação das Costureiras de Paulo Jacinto. Quem também fatura com o baile são os pequenos comerciantes e ambulantes que acabam vendendo seus produtos nos arredores do clube. MANIFESTAÇÕES CULTURAIS O Baile da Chita surgiu após várias reuniões entre Josefa Barbosa (a idealizadora), José Aurino de Barros (in memorian), e outros membros da comunidade, que discutiam o que fazer para pagar o advogado e emancipar o povoado que pertencia a Quebrangulo. Valney lembra que dona Zefinha Barbosa, como era conhecida, se dirigiu a José Aurino e falou: “Zé eu tive uma ideia, e acho que é bem interessante, vamos fazer um baile para arranjar dinheiro e pagar os advogados, e com ele podemos nomear Baile da Chita, por causa das algodoeiras e do tecido de chita, fabricado com o nosso algodão”. A musicalidade também se tornou importante. Na época, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira estavam fazendo sucesso com a composição Propriá, que carinhosamente ficou conhecida como Rosinha de Propriá pelos paulojacintenses, por se tornar a chamada de abertura do evento. Luiz Gonzaga estava de passagem pela região Nordeste e ao saber que sua música era considerada a chamada de abertura do baile, em agradecimento e por convite do senhor José Aurino de Barros na época prefeito nomeado em 1953 ele fez questão de realizar um show na cidade já emancipada. Até hoje a música Propriá, ainda é tocada pelas bandas e orquestras convidadas, na abertura do baile. Nos preparativos para o primeiro baile, Josefa teve a ideia de colocar uma rainha, uma vez que o baile seria realizado após os festejos juninos, no mês de julho. A rainha era eleita através dos fundos adquiridos, a que mais arrecadasse dinheiro na venda de rifas e bingos seria a eleita. Todos esses acontecimentos se deram por volta da década de 50. Como uma forma de seguir com a tradição, a escolha da rainha ainda acontece, com algumas modificações. Para participar deste momento a jovem tem que obedecer alguns requisitos, a exemplo, ter idade entre 15 e 18 anos, ser natural da cidade ou morar na cidade. Este ano, a escolhida para representar as moças da cidade foi a estudante de 15 anos, Myllena Melo que fala da emoção em participar do evento. “Estou muito feliz! Dia 20 estarei recebendo a faixa de rainha, que sem dúvidas é um título de grande importância para a tradição. Foi um desejo de infância poder fazer parte da história e cultura da minha cidade. Fico muito feliz, desde momento que fui dita como rainha, recebi um carinho imenso de toda a população”, conta Myllena acrescentando  que irá se tornar a primeira  jovem da sua família a receber o título. GRATUITO Para acompanhar a festa privada, a prefeitura da cidade realiza uma festa gratuita com apresentações culturais durante o dia e shows com grandes nomes da música regional. No dia 20, além de shows a partir das 21h com Ranniery Gomes, Gil Mendes e Forró do Muído, durante o dia terá vendas de artesanato, culinária, apresentações culturais e shows com artistas da terra.  No dia 21, a programação também inicia com muita apresentação cultural, culinária entre outras e a noite os shows continuam com Banda Versátil e encerrando a comemoração com a Banda Calcinha Preta.