Cidades

Tremores em Maceió: técnicos só falam em 'hipóteses'

Debate promovido pelo Crea-AL reúne engenheiros, geólogos e autoridades, sem contudo chegar a conclusões

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 09/03/2018 08h41
Tremores em Maceió: técnicos só falam em 'hipóteses'
Reprodução - Foto: Assessoria
Especialistas reunidos pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Alagoas (Crea-AL) em audiência, na tarde desta quinta-feira (8), não chegaram a um consenso sobre o que pode ter motivado os tremores registrados em Maceió no último sábado (3) que deixou diversos imóveis e vias com rachaduras. Segundo eles, há apenas "hipóteses". De acordo com o engenheiro civil e geotécnico Abel Galindo, desde 2010 fissuras na região do Pinheiro já intrigavam moradores e técnicos. Além disso, não é a primeira vez que um tremor é sentido no bairro, em meados de fevereiro deste ano, outro de menor intensidade foi relatado por moradores. “Foi no Jardim Acácia em 2010 que eu vi a primeira rachadura, que não levei muito a sério. Mas uns seis meses depois apareceram outras. Apareceram fissuras em casas, e o detalhe é que fiz sondagem e pela resistência apresentada no terreno não era para ter essas fissuras. Tinha poço e mandamos abrir na época e existia a fissura, em uns 8 metros, 10 metros talvez. Na época um prédio apresentava fissuras pequenas e hoje já apresenta grandes por dentro e fora. Mas no dia 15 de fevereiro agora, depois do Carnaval, os moradores testemunharam um tremor com um barulho. Já no dia 3, o estrondo foi testemunhado por muita gente, em outros bairros, deixando as pessoas apavoradas. Nós trabalhamos com hipóteses”, detalha Galindo. O geólogo Ricardo Queiroz, autor de um estudo em 2009 que aponta a existência de fissuras em algumas regiões do subsolo da capital explicou que o fenômeno ocorreu de forma localizada. “O primeiro abalo, foi um abalo sentido, mas não registrado pelos sismógrafos. Agora esse do dia 3 de março foi sentido e registrado, pela USP por 2,5 e pela UFRN 2,4 na escala, o que dá no mesmo. Outra coisa importante, ambos dizem que a profundidade é zero, isso quer dizer que foi na superfície ou em pequena profundidade. Então não é caracterizado como um terremoto, foi um abalo sísmico. Agora se foi uma acomodação, colapso, o serviço geológico é que vai afirmar e reforçar a minha tese ou não. Por ser acomodação eu acredito não ter muita probabilidade, tem probabilidade pequena, mas existe a possibilidade de ocorrer”. Para o geólogo Osvaldo Costa Filho diversas hipóteses podem explicar o episódio dos tremores em Maceió, como as chuvas. No entanto, ele afirma que é preciso tratar o problema de forma emergencial. “De início deve-se salientar que o problema existe e é sério. Ninguém de posse de informações no momento pode garantir que os fenômenos paralisaram ou vão continuar com maior ou menor intensidade. Para que saiba o que realmente ocorreu é necessário que se constitua uma comissão técnica de alto nível. Enfim todos que se achem convenientes para que assim sejam unidos todos os esforços para detecção do problema, tudo isso a ser feito em caráter de emergência”, pontuou. O vereador Chico Filho (PP), cobrou respostas à população em relação ao ocorrido. Segundo ele, moradores das regiões afetadas estão assustados com a possibilidade novas ocorrências. “Tem moradores que estão sem dormir, outros que venderam tudo para comprar uma casa e estão sem casa. Tem outros que têm medo de dormir nos seus prédios e o prédio desabar. É isso que nos deixa preocupados. A iniciativa de realizar um debate é importante, mas precisamos dar respostas à sociedade. Porque começam os boatos e infelizmente a população não sabe e fica perdida”, disse. Para o também vereador Silvio Camelo (PV), o encontro não surtiu o efeito esperado, pois gerou mais incertezas. “Saio daqui com mais dúvidas do que entrei. Até porque cada um que fez uso da palavra e eu quero parabenizar a todos, mas foram unânimes em dizer que não sabiam o motivo e que isso deveria ser estudado em sua profundidade. Tanto o Governo do Estado, quanto a Prefeitura tem que bancar esse custo, trazer técnicos gabaritados, para se juntar aos técnicos que temos aqui para que possamos ter no mínimo algumas respostas. Porque isso vai afetar de forma muita séria, até a questão imobiliária no município vai impactar. E agora? Você vai comprar um apartamento numa região que tem tremedeira? Como vai fazer? Isso é muito sério. Estamos aqui discutindo, e saio daqui preocupado porque segundo um dos palestrantes foi o segundo em menos de um mês. Um em fevereiro logo após o Carnaval e outro agora, de 2,5 de magnitude. Isso é muito sério, são dois eventos que a gente não via em Maceió num curto espaço de tempo. Não podemos deixar que isso caia no esquecimento”.