Cidades

Enfermeira relata momentos de terror vividos dentro de hospital em Maceió

Profissional foi agredida a chutes e pontapés por suposto paciente dentro de unidade de saúde

12/05/2017 14h11
Enfermeira relata momentos de terror vividos dentro de hospital em Maceió
Reprodução - Foto: Assessoria

“Vivi cenas de filme de terror”, foi assim o começo do relato da enfermeira Maria Sônia Teixeira, vítima de um suposto paciente nesta quinta-feira (11), no Hospital Escola Portugal Ramalho, no bairro do Farol, em Maceió.  Ela que tem 18 anos dedicados àquela unidade de saúde, ainda parece não acreditar na ação criminosa praticada por um homem de 31 anos, identificado como Jair dos Santos, morador da Grota Santa Helena, na Chã da Jaqueira.

Para ela a agressão foi premeditada e o suspeito aproveitou o momento ‘certo’ para agir. “Ele chegou ao PSAM (Projeto Integrado de Saúde Mental) ambulatório do hospital dando escândalo e proferindo palavras de baixo calão, querendo medicação para epilepsia. Dirigi-me até o agressor e o orientei voltar em agosto para buscar a medicação porque não havia médicos, mas ele queria a todo o custo uma receita para a medicação. Estamos com a equipe médica defasada, muitos se aposentaram e não houve a reposição devida, mas ele não aceitou a resposta, disse que éramos vagabundos e preguiçosos...”, detalhou a enfermeira.

 Em tempo, segundo ela conta, o segurança se aproximou do suspeito e pediu sem o tocar para que deixasse a unidade, ele saiu, mas com cerca de 40 minutos retornou ao local, sentou na recepção e esperou que todos os homens se ausentassem, inclusive o vigilante para atacá-la. “E assim ele fez, eu estava na sala de costas quando senti um puxão de cabelo, depois uma rasteira e cai no chão, ele não conformado pegou minha cabeça e começou a bater na quina da porta e contra o chão, sofri várias escoriações e hematomas pelo corpo, meu braço está imobilizado e corro o risco de passar por uma cirurgia no úmero em decorrência do impacto da agressão”, revelou Maria Sônia Teixeira.

Ainda de acordo com a enfermeira, tudo que ela conseguiu pedir foi por socorro, neste momento, a psicóloga Ubiraci de Medeiros Azevedo, que atendia no consultório ao lado, escutou os gritos e saiu para ver. “Fiquei em pânico, ainda tentei retirar o agressor de cima da Sônia, mas não consegui, e corri para chamar o segurança, que também não conseguiu contê-lo, precisaram três homens para imobilizá-lo”, frisou a psicóloga.

 NOVAS AMEAÇAS

Jair dos Santos, não parou por ai, conforme relatos de funcionários do hospital, ele ameaçou retornar a unidade e agredir um a um. “Ele disse que não vai parar, e que quem rir por último rir melhor”. Durante a entrevista, a reportagem ficou sabendo que uma técnica de enfermagem tinha sido agredida por ele novamente no SOP- Serviço de Observação Psiquiatra, onde ele permanece desde ontem medicado.

A enfermeira que está traumatizada com a situação sofrida, disse que ainda não pensou em retornar ao trabalho após o episódio, contou também que pediu para que salvassem a sua vida porque queria ter a honra de participar da colocação de mestrado de seu filho de 24 anos, que está no Canadá.

“Estou com receio de que precise operar o braço, fiz o Boletim de Ocorrência na polícia, estou com o resultado do exame de corpo delito e vou levar na Delegacia da Mulher”, declarou.

“Fraturei o úmero e pode ser que precise operar, quero acreditar que não vá precisar, até porque meu filho conclui o mestrado no final deste mês, somos eu e ele, e gostaria muito de comparecer neste dia especial”, disse a enfermeira emocionada.

Pesquisa

Enfermeiros não se sentem seguros nas unidades hospitalares

O Sindicato dos Enfermeiros do Estado de Alagoas (Sineal) ressaltou que a violência nas unidades de saúde contra enfermeiros é constante, lembra que uma pesquisa do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), em parceria com a Fio Cruz, indicou que 19,8% dos profissionais entrevistados no país relataram alguma experiência de violência física no trabalho e 66% disseram que já sofreu algum tipo de violência psicológica. No total 70% das pessoas disseram que não sentem segurança ao trabalhar em unidades hospitalares.  

A vice-presidente do Sineal, Renilda Barreto, frisou que este índice de profissionais que convivem com este tipo de violência seja maior. “Os enfermeiros são os que mais sofrem agressão, estão mais vulneráveis na linha de frente. Os profissionais precisam denunciar e não podem se calar, a instituição tem que dar condições de trabalho e resguardá-los, por isso a importância do Sindicato ficar sabendo para defender e assegurar o direito desse trabalhador”, mencionou. “O Sineal irá tomar as providências cabíveis, a impunidade não pode ser uma rotina na vida dos trabalhadores, o governo deve ser responsabilizado pela falta de segurança”, avisou.      

Reitoria diz que vai redefinir segurança e número de pacientes             

A reitora da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas, Rozangela Wyszomirska, ressaltou durante uma reunião ocorrida nesta sexta-feira, que presta total solidariedade à enfermeira Maria Sônia Teixeira, destacando que irá redefinir a locação da vigilância no hospital psiquiátrico, bem como o número de pacientes atendidos para assim reorganizar o fluxo na unidade.