Brasil
Morre o escritor, jornalista e professor Leonardo Valente aos 50 anos

O professor, escritor e jornalista Leonardo Valente viveu intensamente em seus 50 anos de vida, com uma sagacidade, inteligência e afeto raros. Dono de um jeito simples e carismático, ele cativava a todos por onde passava, construindo amizades sólidas e deixando um legado de boas histórias. Eu tive o prazer de trabalhar com Leonardo no jornal O Globo. Chegamos juntos em 1998 ao “jornalão” da Rua Irineu Marinho, no Centro do Rio. Ele, iniciando como estagiário na Editoria Internacional; eu, como editor-adjunto do Rio.
Nascido em Niterói, em 1974, Leonardo começou sua vida profissional como jornalista. Visionário, soube adaptar sua carreira para o mundo acadêmico, dedicando-se às Relações Internacionais e tornando-se um renomado professor na UFRJ, sua alma mater no jornalismo.
A versatilidade de Leonardo era admirável. Enquanto se aprofundava na Ciência Política, ele também se revelava um prolífico escritor, deixando cinco obras publicadas: Charlotte Tábua Rasa (2016), Apoteose (Mondrongo, 2018), O beijo da Pombagira (Mondrongo, 2019) – finalista do Prêmio Rio de Literatura –, Calote (Mondrongo, 2020) e Criogenia de D. ou manifesto pelos prazeres perdidos, que até virou peça de teatro. Em 2017, foi um dos vencedores do Prêmio José de Alencar da União Brasileira de Escritores com um romance inédito e foi um dos organizadores da coletânea Antifascistas (Mondrongo, 2020), que reuniu grandes nomes da literatura lusófona.
Em uma de suas belas entrevistas, para Cefas Carvalho, do site Típico Local, Léo – como era carinhosamente chamado – compartilhou sua visão sobre a literatura brasileira:
“Em minha opinião a literatura brasileira, paradoxalmente, vive um dos melhores momentos de sua História, nunca se publicou tanto, com tamanha diversidade. Parte relevante dessa literatura contemporânea é de uma qualidade extrema, e tenho certeza de que ficará para as futuras gerações. O mercado independente possibilitou a emergência de escritoras e escritores que em outras épocas não teriam chances, e que felizmente hoje nos enriquecem com suas obras. Sim, há espaço, há editoras e meios de se chegar aos leitores, mesmo que de forma modesta. Reajo com boca torta para as lamúrias dos que afirmam que se publica demais no Brasil.
Uma Carreira Brilhante na Academia
Assim como seu amor pelos livros, Leonardo dedicou-se incansavelmente à academia, sempre na universidade pública. Foi professor associado e diretor do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (IRID/UFRJ). Doutorou-se em Ciência Política pelo Iesp/Uerj (2012) e obteve seu mestrado em Relações Internacionais pela UFF (2005).
Entre 2015 e 2018, coordenou a graduação do curso de Relações Internacionais da UFRJ.
A vida de Léo, repleta de projetos e sonhos, foi tragicamente interrompida aos 50 anos. Ele nos deixou hoje, após uma batalha de oito meses contra uma pneumonia e uma superbactéria. Sua partida deixa uma lacuna imensa, mas seu legado de sabedoria, humanidade e paixão pela vida e pelo conhecimento viverá para sempre. Ele tinha mãe, um irmão e o companheiro, o cineasta André Pinto.
Foi no jornalismo que fez uma legião de amigos e leitores. Alguns deles enviaram seu depoimento, a pedido do QUARENTENA NEWS.
Simone Gondim, jornalista e assessora de imprensa da Prefeitura de Niterói:
“Conheci o Leo quando entramos juntos para o estágio do Globo. Fomos amigos por mais de 20 anos. Era uma pessoa muito inteligente e divertida, com grande talento para a escrita, fosse jornalística, acadêmica ou de ficção. Tive o prazer de ler e revisar dois de seus livros, cujas histórias ganharam o mundo. Um deles, “Criogenia de D.”, foi adaptado para o teatro, com Tânia Alves no papel principal. Em 2023, ele havia fundado o selo editorial Besouros Abstêmios, voltado para ficção e não ficção, com parte da tiragem voltada para projetos de estímulo à leitura. Léo vai fazer muita falta, uma pena ter ido tão novo e com tantos projetos em andamento”.
Entre 2015 e 2018, coordenou a graduação do curso de Relações Internacionais da UFRJ. Sua experiência profissional incluiu 11 anos (1998-2009) como repórter internacional e redator do Jornal O Globo. Seu vasto conhecimento abrangia teorias das Relações Internacionais, Geopolítica, Política Externa do Brasil, América do Sul, Relações Sul-Sul e a integração entre Relações Internacionais e Comunicação. Foi editor-chefe da revista científica Sul Global (IRID/UFRJ) e coordenador do Laboratório de Estudos Asiáticos da UFRJ (LEA-UFRJ), além de um incansável organizador de eventos acadêmicos no Brasil e no exterior.
Mais lidas
-
1Aumento
Preço do fumo renova esperança dos produtores do Agreste de Alagoas
-
2Na divisa
Tremor de terra é detectado entre as barragens de Xingó e Paulo Afonso
-
331 anos
Policia Militar de Alagoas lamenta falecimento do sargento João Paulo Freitas de Vasconcelos
-
4Sorteio
Sorteio das unidades de residencial na Santa Amélia que seria nesta quinta (12) é adiado
-
5Tá chegando!
Vem por aí! Quais personagens voltam para 'Êta Mundo Melhor!'