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Camiseta pedindo "menos amor" e promovendo agrotóxico repercute na web

Estudantes de agronomia aparecem em imagem durante palestra de órgão estadual ligado à agricultura; Associação diz que não quis fazer apologia ao uso de herbicidas, e que se trata de uma brincadeira com o nome de uma bebida

Por G1 13/07/2017 09h06
Camiseta pedindo 'menos amor' e promovendo agrotóxico repercute na web
Reprodução - Foto: Assessoria

Uma foto com estudantes do curso de agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG) causou repercussão nas internet devido às camisetas usadas por dois deles, com os dizeres: "Menos amor, mais glifosato, por favor". O produto é um tipo de agrotóxico potente usado para matar ervas daninhas em plantações e, se aplicado de forma incorreta, pode causar danos graves às lavouras, segundo especialistas.

A Associação Atlética Acadêmica Agronomia, que confeccionou as vestimentas, informou ao G1 que o intuito não era fazer apologia ao herbicida, e que foi criada uma "polêmica sem sentido" sobre o caso. Segundo o grupo, o "glifosato" da camiseta faz referência ao nome de uma bebida preparada pelos estudantes há anos, e não ao agrotóxico.

O G1 não conseguiu contato com os estudantes que aparecem na foto até a publicação desta reportagem.

A imagem foi feita no último dia 8 de junho, logo após uma palestra da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater). Na ocasião, duas servidoras do órgão, que também aparecem na foto, falaram sobre o uso de soja na alimentação humana. A apresentação ocorreu dentro do Agro Centro-Oeste Familiar (Acof), evento anual que, desta vez, foi organizado e aconteceu dentro da UFG, em Goiânia.

A foto, juntamente com uma reportagem sobre o evento, foi publicada tanto no site quanto nas redes sociais da Emater. Porém, em virtude da repercussão negativa, todas foram excluídas.

Em nota enviada ao G1, a assessoria de imprensa da Emater informou que não tem "qualquer ligação com a produção ou o incentivo ao uso da camiseta". Destacou ainda que, por respeitar o direto à liberdade de expressão, "não realizou qualquer tipo de censura relacionada ao uso da camiseta".

Por fim, a agência pontuou que "reconhece, colabora e incentiva toda e qualquer prática sustentável de produção agropecuária apoiada em procedimentos seguros e ambientalmente corretos, afiançados pela legislação vigente".

A UFG, também por meio de nota, se manifestou dizendo que a instituição não tem "qualquer ligação com a produção ou o uso da camiseta usada pelos estudantes e que defende o uso de práticas sustentáveis de produção, de acordo com a legislação vigente". 'Não é apologia', diz Atlética

O presidente da Assosiação Atlética, o estudante Guilherme Lima, criticou a polêmica criada sobre o caso e disse que a camiseta não tem como ideia fazer qualquer tipo de apologia ao uso da substância. Ao G1, ele afirmou que o termo "glifosato", neste caso, remete ao nome de uma bebida.

"Todo curso tem seu 'mé' (sic), que é uma bebida característica. Cada um coloca o nome relacionado ao curso, algo engraçado e distorcido do que realmente é. A gente usa o sentido contrário das coisas. A polêmica foi criada pelo politicamente correto, que pegaram apenas um lado da história", afirmou.

Ainda de acordo com Lima, a tal bebida do curso de agronomia já é chamado de glifosato há alguns anos. A associação chegou a comercializar as camisetas pelo Instagram ao preço de R$ 30. Porém, o universitário disse que venda se restringiu ao último semestre, uma vez que novos modelos são criados neste período.

Apesar de não acreditar que a situação interferiu de forma negativa, o presidente da associação revelou que ficará mais atento para que situações similares não voltem a ocorrer.

"Vamos tomar mais cuidados. Estamos em um período que qualquer coisa que você diz ou faz, tomam partido e acabam te prejudicando", salienta.

Riscos do glifosato

Um dos defensivos agrícolas mais vendidos no combate a ervas daninhas, o glifosato é considerado bastante forte. Conforme explica o zootecnista e técnico em agropecuária Antelmo Teixeira Alves, sua aplicação direcionada da forma incorreta pode causar danos graves às lavouras. "A aplicação deve ser direto sobre a erva daninha que está causando o problema".

"Se caso houve contato direto com as outras espécies que se quer defender, toda a plantação será eliminada", afirma.

O produto está disponível em lojas agropecuárias e só pode ser adquirido mediante apresentação de um receituário agronômico. Ele pontuou que existem pesquisas que tentam relacionar o uso do glifosato com casos de câncer, mas não há nenhuma comprovação científica dessa situação.

A aplicação deve seguir os padrões do fabricante e ser realizada por profissional qualificado, utilizando todos os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Também devem ser respeitadas questões de horário e climáticas.

Alves, que também é chefe de gabinete da Emater com 30 anos de experiência na área, criticou a exposição dos estudantes e disse que o órgão tem o compromisso de orientar para uma cultura de produção de alimentos cada vez mais saudáveis.