Brasil
RJ teve tiroteio todo dia de janeiro a julho, com média de 14 alertas diários
São Gonçalo é o campeão de casos, com 217 notificações no aplicativo Fogo Cruzado; Mês de junho teve 650 casos em todo o estado. Mapa mostra locais e vítimas de tiros
Os tiroteios que resultaram na mortes de civis e policiais em profusão em 2017 são uma infeliz e diária rotina para os moradores do Estado do Rio de Janeiro. De acordo com dados do aplicativo Fogo Cruzado, houve ao menos um tiroteio em todos os dias do ano de 2017, de 1º janeiro a 30 de junho. A média, de acordo com os dados obtidos pelo G1, é de 14 alertas de tiroteios por dia em todo o Estado.
O local com mais tiroteios no Rio, segundo o aplicativo, é São Gonçalo, na Região Metropolitana: Foram 217 entre janeiro e junho.
Em segundo lugar, está o Complexo do Alemão, com 106 notificações de tiroteios. Em junho, o G1 apresentou dados da região em uma reportagem especial, que pode ser conferida aqui. O RJTV também apresentou a rotina difícil dos moradores do Alemão com o aumento da violência. Foram 2,6 mil mortes violentas registradas em 10 anos.
O município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, está em terceiro lugar na lista, teve 102 tiroteios confirmados. Em seguida, vêm Penha, na Zona Norte, com 84; Cidade de Deus, na Zona Oeste, com 78; Praça Seca, também na Zona Oeste, com 73.
Alertas de tiroteios no Rio
LOCAL Nº DE TIROTEIOS São Gonçalo 217 Complexo do Alemão 106 Duque de Caxias 102 Penha 84 Cidade de Deus 78 Praça Seca 73 Copacabana 51 Mangueira 46 Tijuca 42 Manguinhos 39 Fonte: Fogo Cruzado/Anistia Internacional Copacabana, bairro turístico na Zona Sul da cidade, surpreende entre as dez localidades com mais tiroteios: foram 51 notificações. A Tijucatambém aparece entre as 10 primeiras, com 42 tiroteios registrados nos primeiros seis meses do ano.O mês de junho foi o mais violento, com 650 tiroteios registrados em todo o Estado. Só nos dias 26 e 27 de junho, foram notificados 89 tiroteios.
O aplicativo e mapa colaborativo foram lançados um mês antes da Olimpíada, e funcionam através de contribuições de usuários, que notificam os servidores do sistema sobre tiroteios. As informações são confirmadas ou descartadas pela equipe, coordenada pela jornalista e pesquisadora Cecília Olliveira.
As notificações de tiroteios podem ser duplicadas, caso mais de uma pessoa faça o registro no aplicativo ao mesmo tempo. Há também tiroteios que duram horas e em muitos locais dentro de complexos de favelas, como no Alemão, que representam múltiplas notificações.
Vítimas
Muitos casos chocaram a cidade, como a morte, na noite de domingo, de uma criança de 6 anos, baleada por causa de uma briga de trânsito.
Ou como o tiroteio registrado na Avenida Monsenhor Félix, em Irajá, durante uma perseguição a criminosos. Na ocasião, a pequena Sofia, de apenas dois anos, foi atingida dentro de uma lanchonete e não resistiu à bala que acertou seu rosto.
No enterro, os parentes estavam revoltados. "É um sentimento de impunidade. A gente não pode levar as crianças para brincar no parquinho. É um sentimento de revolta. O meu coração está despedaçado. Ela era muito intensa, parecia que ela tinha pressa de viver" disse a avó da criança, Sônia Regina Fernandes. Ela disse que a menina estava muito feliz de ir nos brinquedos. "Tomou um tiro lá em cima e não desceu mais", emocionou-se o avô, Gilson Fernandes.
A morte de Maria Eduarda, atingida por três tiros dentro da escola na Zona Norte do Rio, também chocou os moradores do Rio no dia 30 de março. Na última semana, dois policiais foram indiciados pela morte da jovem. O caso motivou até o pedido de um pediu um estudo de caso para a atuação da PM. Um mês depois do crime, já em abril, a família estava bastante desestruturada psicologicamente.
"Eles estão tão desestruturados psicologicamente que querem tirar a Dudinha do chão. Acho que ele, meu pai, queria levar ela para casa", contou Uidson, irmão de Maria Eduarda, emocionado, após um debate sobre segurança na Câmara Municipal do Rio.
"Naquela ocasião, determinei um estudo de caso para verificar se houve falhas para melhorar, e verificar os possíveis acertos e aperfeiçoar os protocolos. O estudo de caso recomendou a mudança das notas de instrução. Com os casos dessa semana, decidi avocar esse estudo que já está sendo feito na instituição para a Polícia Civil e outros órgãos", explicou o secretário de Segurança do Rio, Roberto Sá, acrescentando que o pedido por cautela e a prioridade pela preservação da vida existia desde a sua posse, em outubro de 2016.
Notícias de tiroteios em diversas partes do Rio se tornaram parte da rotina. Sá afirmou que se solidarizava totalmente com as vítimas. Ele alertou, no entanto, que estava "enxugando gelo", e que a quantidade de armas que chegam ao estado faz com que seja muito difícil controlar se haverá ou não confrontos no Estado. No Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, deixou um morto e cinco feridos. O porteiro, Fábio Franco de Alcântara, 39 anos, morreu atingido por estilhaços de granada durante um confronto entre criminosos e policiais da UPP no dia 28 de junho.
"A política não é do confronto. Mas enquanto tivermos no Rio de Janeiro apreensão de 9 mil armas de fogo, de um fuzil por dia, como afirmar que não vai haver confronto? Se a cada apreensão diária das 24 armas de fogo, se a cada abordagem, nós vamos ter tiros por parte dos bandidos, e o policial eventualmente vai reagir ou vai se abrigar. É uma decisão que ele vai ter que tomar na hora", afirmou o secretário após a reunião do conselho comunitário de segurança da Tijuca, na Zona Norte do Rio. Feridos e mortosOutros dados do aplicativo mostram que houve 197 operações policiais durante o período. O número de civis feridos chegou a 294, e 117 policiais foram feridos por balas ou estilhaços nos seis primeiros meses do ano. Em 2017, 86 policiais foram mortos no Rio.
Os tiroteios afetaram também o ensino. Dos 100 dias letivos até a última quinta-feira (6), apenas em 7 houve aula em todas as escolas da rede, devido aos tiroteios. "Eu tenho a lamentar, e mais uma vez digo: eu não consigo mudar lei, mas proponho. Eu queria mais discussão. Eu enxugo gelo o dia inteiro. É trivial eu apreender dois fuzis por dia no Rio de Janeiro?", questionou o secretário Roberto Sá.
O que diz a Secretaria de Segurança?
Veja a íntegra da nota enviada pela assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Segurança.
"As estatísticas oficiais de criminalidade do Rio de Janeiro são provenientes dos registros de ocorrência lavrados nas delegacias de Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro e divulgadas mensalmente pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), de forma sistemática e transparente. Estes dados abastecem o planejamento estratégico para o monitoramento e combate à mancha criminal. Nos primeiros cinco meses de 2017, 19.876 pessoas foram presas pelas polícias e 3.666 armas foram apreendidas, sendo 212 fuzis. Ou seja, em 2017, 24 armas de fogo por dia foram apreendidas pelas polícias.
A Secretaria de Estado de Segurança (Seseg) tem como prioridade a preservação da vida e a redução de índices de criminalidade no estado. Por isso, investe desde 2007 no processo de pacificação nas comunidades e implantação do Sistema de Metas e acompanhamento de Resultados (SIM), dentre diversas outras iniciativas.
Mesmo em um cenário econômico antagônico, sem custos aos cofres públicos, a SESEG criou medidas estruturantes como o Grupo Integrado de Operações de Segurança Pública (GIOSP), no Centro Integrado de Segurança Pública (CICC), e a delegacia especializada para o combate ao tráfico de armas, a Desarme, para atacar as causas da letalidade violenta."
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