Turismo

Pontal da Barra é maior centro de produção artesanal ao ar livre de AL

Por Claudio Bulgarelli – Sucursal Região Norte / Tribuna Independente com Tribuna Hoje 10/05/2023 08h43 - Atualizado em 24/05/2023 15h27
Pontal da Barra é maior centro de produção artesanal ao ar livre de AL
São dezenas de lojas espalhadas pela rua principal do Pontal da Barra e algumas ruas laterais do tradicional bairro - Foto: Edilson Omena

A convite do Grupo de Rendeiras do Pontal da Barra, criado durante a pandemia da Covid-19 para ajudar artesãs do bairro e também de Marechal Deodoro, a equipe da Tribuna Independente e da TV Tribuna Web visitou o maior centro de artesanato ao ar livre de Alagoas.

Na oportunidade, a equipe entrevistou uma das mais atuantes rendeiras do bairro, com quase 40 anos dedicada à arte do bordado filé, Adriana Gomes, conhecida como a rendeira das celebridades. No Pontal da Barra, em Maceió, às margens da lagoa Mundaú, o artesanato foi sempre motivo de orgulho e ao mesmo tempo, um chamariz para turistas e visitantes.

O bairro, que nasceu em torno de uma colônia de pescadores, conseguiu se consolidar, durante os últimos 30 anos, como o maior centro de produção do bordado filé, rendado genuinamente alagoano e que reúne atualmente algumas das melhores lojas para comprar artesanato em Maceió.

Peças

Pela rua principal do bairro é comum ver as habilidosas rendeiras traçando o filé, desenvolvido e aprimorado desde o século XVIII. Produzido a mão; passadeiras, toalhas de mesa, colchas, saídas de praia, cangas, chapéus, xales, blusas e até peças para decoração; as peças que são consideradas quase obras de arte do artesanato, e um dos pontos altos da tradição alagoana.

São dezenas de lojas espalhadas pela rua principal, e algumas ruas laterais, muitas em frente às casas das próprias artesãs, empregando centenas de pessoas que movimentam a importante cadeia produtiva do artesanato do Pontal, famoso não somente em Alagoas, como no resto do mundo.
Para o turista que visita o Pontal quase todos os dias em excursões planejadas, sobretudo, no verão, o lugar se transforma numa experiência realmente original e única em Alagoas.

O comércio funciona diariamente, das 9h às 18h. Depois disso, dá para curtir o mais belo pôr do sol de Maceió. E a noite tem alguns bares abertos e bons restaurantes que servem uma culinária dedicada às peixadas e aos frutos do mar.

Rendeira das celebridades é do “Alagoas Feita à Mão”

Quarenta e quatro anos de idade, dos quais 38 dedicados ao bordado. Natural do Pontal da Barra, Adriana Gomes aprendeu o ofício na infância vendo a mãe e outras rendeiras trabalharem na porta de casa. Ela foi homenageada com a placa do Programa Alagoas Feia à Mão, recebendo em seu ateliê a Secretaria Extraordinária da Primeira Infância do Governo de Alagoas e Presidente da Comissão do Alagoas Feito à Mão, que fez questão de reafirmar a importância do programa e muito mais para o artesão, que passa a ter um referencial pelo reconhecimento do trabalho.

Adriana Gomes, que aprendeu o ofício na infância vendo a mãe e outras rendeiras trabalharem na porta de casa, traz, ao longo desses anos, muito trabalho, dificuldades, superação e orgulho.
Superação que começou cedo, já que ela se arriscou para se livrar de um relacionamento abusivo ainda na adolescência.

“Casei aos 15 anos de idade, grávida da minha filha e fui morar longe da minha família, o que foi muito difícil. Meu casamento era com um homem que me prendia em casa, não deixava eu ir para lugar nenhum e nem podia falar com ninguém. Um belo dia aproveitei que ele foi trabalhar e fugi de casa de madrugada, voltei pra casa dos meus pais e recomecei", conta.

Como mãe solteira passou por muitas dificuldades. Trabalhou como vendedora no Pontal, vendeu cocada, suspiro, e até abriu uma lojinha de doces.

Depois começou a focar no bordado e só depois de um tempo que abriu a própria loja. Assim o filé entrou na sua vida. Patrimônio Cultural Imaterial de Alagoas desde 2014, o filé vem conquistando reconhecimento e se transformando em objeto de desejo de grandes marcas e de nomes famosos.

Mas nem sempre foi assim. “O filé até pouco tempo atrás era usado só para fazer toalhas de mesa, passadeiras. Ele é um trabalho manual, delicado, demorado e não é fácil trabalhar com arte manual, a gente sabe que as pessoas não entendem e não valorizam o trabalho das rendeiras”, conta Adriana. Com a ascensão do bordado e com a ajuda das redes sociais, pouco a pouco a empreendedora foi trilhando seu sucesso. “Através das mídias sociais tem sido mais fácil de conhecer nosso trabalho, meu foco hoje é vender pelo Instagram e foi por ele que consegui chegar tão longe, não dá para depender só de quem vem na loja comprar”, explica.