Saúde

Dentista é investigada por usar silicone industrial em procedimentos estéticos ilegais em Alagoas

Pacientes tiveram complicações graves após aplicação nos glúteos; profissional foi suspensa pelo CRO e pode responder por lesão corporal gravíssima

Por Lucas França com Tribuna Hoje 08/10/2025 13h15 - Atualizado em 08/10/2025 16h06
Dentista é investigada por usar silicone industrial em procedimentos estéticos ilegais em Alagoas
Pacientes tiveram complicações graves após aplicação nos glúteos; profissional foi suspensa pelo CRO e pode responder por lesão corporal gravíssima - Foto: Reprodução

A Polícia Civil de Alagoas investiga uma cirurgiã-dentista suspeita de realizar procedimentos estéticos ilegais com silicone industrial, substância proibida para uso em humanos. A profissional teria realizado intervenções na região dos glúteos, causando complicações graves em pelo menos duas pacientes, que seguem internadas em um hospital de Arapiraca.

De acordo com o delegado Edberg Oliveira, da Delegacia Regional de Arapiraca, em alguns casos foi necessário realizar cirurgias para retirada do produto, devido a processos de necrose nos tecidos afetados. O inquérito está em andamento para reunir provas, ouvir testemunhas e apurar a responsabilidade criminal da dentista.

Caso as denúncias sejam confirmadas, ela poderá ser indiciada por exercício ilegal da medicina e lesão corporal gravíssima, diante das sequelas provocadas nas vítimas.

A Polícia Civil reforçou o alerta à população sobre os riscos de realizar procedimentos médicos ou estéticos com profissionais não habilitados.

“Qualquer atalho pode significar um risco enorme à saúde — e até à vida”, alertou o delegado Edberg Oliveira, ao destacar a importância de verificar a formação do profissional, a regularização do local e a autorização dos produtos pela Anvisa.

O nome da dentista ainda não foi divulgado oficialmente, e a polícia não confirmou se ela já foi ouvida no inquérito.

CRO-AL suspende dentista por 30 dias


Paralelamente, o Conselho Regional de Odontologia de Alagoas (CRO-AL) determinou a suspensão cautelar da profissional por 30 dias, válida em todo o território nacional, tanto no serviço público quanto no privado.

Segundo o presidente do CRO-AL, Carlos Macedo, a medida foi tomada após uma denúncia anônima recebida na última sexta-feira (4).

"Recebemos essa denúncia na sexta-feira, meio-dia. De imediato, pela gravidade, liderei a equipe de fiscalização para constatar o fato. Infelizmente, era real", afirmou Macedo.

Durante a inspeção, duas pacientes foram encontradas hospitalizadas após os procedimentos. Diante da gravidade, uma plenária emergencial foi convocada e resultou na decisão de afastamento.

"Com essa plenária, de imediato foi determinada a suspensão cautelar, que é exatamente o afastamento dela como cirurgiã-dentista na realização de qualquer procedimento na área de odontologia, durante 30 dias, em todo o território nacional", explicou.

Macedo também destacou que nem todos os procedimentos na face estão liberados para cirurgiões-dentistas, mesmo no contexto da harmonização orofacial.

"O nome já está dizendo: é na face. Mas não quer dizer que todos os procedimentos estão liberados. Existe uma resolução (230) que proíbe blefaroplastia (pálpebras), rinoplastia (nariz), otoplastia (orelhas). Tatuagens e pigmentações também não são permitidas", esclareceu.

Riscos do silicone industrial


A aplicação de silicone industrial no corpo humano é considerada crime contra a saúde pública, podendo ser enquadrada como exercício ilegal da medicina, curandeirismo e lesão corporal, segundo o Código Penal.

De acordo com o CRO-AL, há entre 10 e 12 pacientes que podem ter sido submetidas aos mesmos procedimentos e que ainda não apresentaram sintomas. O presidente do Conselho fez um alerta:

"A tendência é que o organismo não aceite aquele corpo estranho, porque não são medicamentos absorvíveis. É um tipo de produto permanente. Então, o organismo vai rejeitar isso", alertou Carlos Macedo.

O caso segue sob investigação ética e criminal, podendo resultar em sanções mais severas à profissional.