Saúde

Especialistas no HGE presenteiam criança que há mais de 12 anos não abria a própria boca

Ela nasceu com uma má formação que impedia a fala, o sorriso, dificultava a alimentação e causava infecções orais

Por Ascom HGE 03/10/2025 14h54
Especialistas no HGE presenteiam criança que há mais de 12 anos não abria a própria boca
Mãe só percebeu que algo estava errado quando começaram a nascer os primeiros dentes - Foto: Beatriz Castro

Imagine nascer sem conseguir abrir a boca e ficar assim por mais de 12 anos. Foi isso o que aconteceu com Luan Pedro Pereira da Silva, filho da empregada doméstica Ana Pereira da Silva, de 36 anos. Mas, essa limitação foi superada no Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió. Hoje, a criança já está em casa, em Santana do Ipanema, e em breve poderá realizar o seu sonho: comer uma pizza.

A mãe do menor conta que só percebeu que algo estava errado quando começaram a nascer os primeiros dentes, com quase um ano de vida. Ela lembra que o bebê ficava procurando um jeitinho para sugar o leite da mamadeira, o que causava muita irritação. Com o quadro de desnutrição, o pequeno chegou até a ser internado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI); e, com o passar dos anos, a única opção para manter o filho alimentado era o uso de dieta líquida ou pastosa.

“Foi quando, em uma festa do Dia das Crianças, no Instituto Filho de Davi, uma médica ficou sensibilizada com a situação do Luan e pediu uma avaliação de um bucomaxilofacial amigo dela. Ele encaminhou para um hospital particular da capital alagoana, onde vários exames foram feitos e me explicaram o problema. Depois de um tempo, fomos ao ambulatório do Projeto Respirar, no Hospital da Mulher, para mais uma avaliação. Até que chegou a tão esperada notícia da realização da cirurgia de correção, indicada para o HGE”, resumiu Ana.

Nesse momento, ela lembra que muita gente a fez ficar com medo, pois diziam que ele iria ficar pelos corredores da maior unidade de urgência e emergência em Alagoas, referência, entre outras linhas de cuidado, em traumas. “Isso jamais aconteceu! Desde quando entramos, nós fomos muito bem tratados e só usamos os corredores para o nosso deslocamento. Quando ele foi levado para a primeira cirurgia, no último dia 11, a mais complicada, eu fiquei muito preocupada. Fiquei com ele quatro dias na UTI Pediátrica, rezando para ele ficar bom para a segunda cirurgia”, recordou a mãe com emoção.

A missão foi construir todo o maxilar de Luan


O cirurgião bucomaxilofacial Luciano Nogueira explica que Luan nasceu com uma anquilose da ATM (articulação temporomandibular), ou seja, a sua mandíbula era colada ao crânio, por isso não permitia a abertura da boca para se alimentar, para falar, para poder sorrir. O seu irmão, Pedro Thalles Nogueira, que também participou da cirurgia, acrescenta que essa condição também prejudicava a higiene oral, com quadros recorrentes de infecções.

“Isso o atrapalhava demais, não só a qualidade de vida do Luan, como a qualidade social que ele tinha com as pessoas, com os seus relacionamentos. Tudo dificultava o seu desenvolvimento. Nós ficamos muito sensibilizados, principalmente os nossos residentes. Então, articulamos uma força tarefa que uniu as equipes de especialistas da cirurgia bucomaxilofacial, da cirurgia torácica, da anestesia, da residência médica, entre outros profissionais, na montagem de uma estrutura viável para a realização dessa cirurgia, tão complexa e desafiadora para a gente”, disse Pedro Thalles Nogueira.

Luciano Nogueira destaca que o caso não era “apenas abrir a boca”, a missão foi construir todo o maxilar da criança. Nessa área, a equipe do cirurgião torácico Wander Cardoso, coordenador do Projeto Respirar, foi imprescindível, pois viabilizaram a retirada de um pedacinho de osso da costela direita, que foi usada pelos bucomaxilofaciais na reconstrução da articulação, devolvendo, assim, a movimentação da boca.

“Conseguimos devolver para a criança a dignidade de viver, de comer, que é um ato tão básico e tão essencial para a gente. O Luan vai poder se alimentar melhor, vai poder sorrir melhor, vai poder se comunicar melhor com as pessoas e o melhor de tudo, vai realizar o seu maior sonho que é comer uma pizza. Estamos muito felizes com o resultado dessa união de profissionais, que incluem enfermeiros, técnicos de enfermagem, farmacêuticos, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeuta e outros”, acrescentou Luciano com satisfação.

Vale reforçar que o diagnóstico e tratamento foi cumprido exclusivamente pelo Governo de Alagoas, por meio da rede de serviços da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), o que comprova a sua atenção com a qualidade de vida para os alagoanos. Neste momento, a criança se recupera em casa, seguindo as recomendações dadas no momento da alta hospitalar, junto aos seus pais e cinco irmãos; a consulta de avaliação do pós-cirúrgico também está alinhada e a expectativa é de que em breve possa voltar às aulas na escola.

“Nós queremos agradecer a todas as pessoas envolvidas na realização desse sonho, que era uma necessidade para manter a vida do meu filho. Ele, com 12 anos, tinha apenas 18 kg, e eu, como mãe, não sabia mais o que fazer para melhorar a sua vida. Ele é muito inteligente, eu sei que logo logo estará falando, comendo e sorrindo. Os corações da nossa família estão cheios de gratidão e com muita vontade de encerrar esse ciclo com uma deliciosa pizza”, falou Ana com emoção.