Saúde

Suspensão de exame para HIV e Hepatite C prejudica tratamento

Genotipagem é extremamente importante para definir medicação mais eficaz para pacientes com vírus

Por Ana Paula Omena com Tribuna Independente 15/12/2020 07h55
Suspensão de exame para HIV e Hepatite C prejudica tratamento
Reprodução - Foto: Assessoria
Genotipagem. Este é o tipo de exame que está suspenso na rede pública por conta de um atraso no processo de licitação dentro do Ministério da Saúde. O contrato com a empresa que realizava a genotipagem venceu em novembro. O exame é essencial no início do tratamento para a hepatite C e para as mutações do paciente com HIV, porque identifica o tipo do vírus e orienta a combinação de medicamentos que será prescrita aos pacientes. A infectologista Mardjane Nunes explica que esta análise é de fundamental importância e que a falta dela pode custar vidas para o paciente com Aids que interrompeu o tratamento, e para detecção do subtipo de vírus da hepatite C, indicando assim a melhor medicação para a doença infecciosa. “Este exame não é feito nos estados e no caso de Alagoas quem estava realizando era o Centro de Genomas em São Paulo”, frisou. A especialista diz que o exame vinha dando muito certo em Alagoas e há cerca de 30 dias os pacientes encontram-se sem fazê-lo. “A maioria dos pacientes com HIV que precisam iniciar o tratamento conseguem sem fazer o exame de genotipagem, ele não é para confirmar o HIV, mas sim para detectar, no caso da hepatite C, qual é o subtipo de vírus, porque para cada um existe um tratamento diferente. Então esse exame é fundamental para definir o melhor tratamento que vai funcionar no paciente”, salientou. Já no caso do HIV, a médica ressaltou que o exame de genotipagem é para aqueles pacientes que iniciaram o tratamento e, por exemplo, há seis meses com a medicação não respondem, ou seja, que já deveriam estar com carga viral indetectável e vírus controlado. “A genotipagem vai mostrar se o vírus tem alguma mutação, se há modificação na estrutura genética dele e está impedindo a eficácia da medicação. Então este exame é extremamente importante para aqueles pacientes que fazem o tratamento há mais tempo, principalmente os pacientes da primeira geração, que foram expostos a muitas medicações diferentes e antigas que estimularam a mutação do vírus, quando o paciente interrompia”, mencionou Mardjane Nunes. “E mesmo os pacientes mais recentes, eles podem sim ter algum vírus herdado. Isto é, contraído o vírus de alguém que já tomava remédio e esse vírus já ter vindo com alguma mutação. Então se a gente não tiver acesso a genotipagem no momento em que o paciente falhar, pode custar a vida dele, porque é ela quem vai guiar o médico na decisão do medicamento mais eficaz, mostrando as mutações que o vírus sofreu e a partir da genotipagem”, reforçou. Além dos casos de falha no tratamento, a infectologista destacou ainda os grupos vulneráveis por conta das doenças de base. Ela destacou que, por exemplo, um paciente que tenha HIV e tuberculose é preciso que seja feita a genotipagem antes mesmo do tratamento, tendo em vista que não há tantas opções de medicamentos para associar. “Se a gente errar no ajuste de medicação do paciente com HIV, esse paciente pode morrer por falha no tratamento. Outro grupo para o qual a genotipagem é fundamental diz respeito a gestante. Nelas deve ser feita a genotipagem antes mesmo do início do tratamento e com 30 dias do resultado verificar se o tratamento está adequado, porque na gestante há pressa para evitar que se passe o HIV para a criança”, disse. Retorno da genotipagem na rede pública só deve ocorrer em janeiro   Pessoas vivendo com HIV realizam exames periódicos para verificar a carga viral e, dessa forma, o médico infectologista que as atende pode prescrever a medicação adequada, uma vez que cada caso é um caso. Para isso, o Ministério da Saúde (MS) mantinha um contrato com um laboratório que realiza esses exames em todo o Brasil. Entretanto, segundo o próprio MS, em novembro o contrato expirou e eles realizaram um processo licitatório para contratar uma nova empresa, que pode ser a mesma (caso vença a licitação) ou outra. Segundo o MS, a previsão é que em janeiro, o certame tenha sido concluído e a realização dos exames volte à normalidade. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde de Alagoas (Sesau/AL), esses exames são coletados pelos municípios, PAM Salgadinho, Hospital Hélvio Auto e Hospital Universitário (HU), que enviam as amostras para a empresa contratada pelo MS, que posteriormente, repassa os resultados dos exames. A previsão repassada pelo MS do retorno dos exames é a partir de janeiro de 2021. O órgão que faz o monitoramento do quantitativo no país.