Saúde

Desde a chegada do zika em Alagoas, foram registrados 140 casos de Guillain-Barré

Números foram contabilizados desde surgimento do surto de zika no Estado

Por Tribuna Independente 17/08/2017 11h41
Desde a chegada do zika em Alagoas, foram registrados 140 casos de Guillain-Barré
Reprodução - Foto: Assessoria

Desde o início do surto do vírus zika em Alagoas, já foram registrados 140 casos de Guillain-Barré. A informação é do médico hematologista Wellington Galvão, responsável pelo acompanhamento da síndrome no Estado.

Agora, um estudo produzido por pesquisadores brasileiros confirma a relação do zika vírus ao desenvolvimento de síndromes neurológicas em adultos.

Para Wellington Galvão, a pesquisa é importante para reforçar as suspeitas dos médicos que atuam no tratamento de pacientes, principalmente de quadros como a síndrome de Guillain-Barré.

A pesquisa produzida por especialistas da Universidade Federal Fluminense indicou que do universo de 40 recrutados 88% apresentaram anticorpos para o zika. Sendo 29 com síndrome de Guillain-Barré, sete com encefalite, três com mielite transversa e um com polineuropatia crônica.

O hematologista afirma que desde o início do surto de zika havia a hipótese de relação com outras complicações.

“Acredito que isso é verdadeiro, porque em dois anos cheguei a atender 140 casos, algo que era muito raro. O zika aumentou a incidência. Na época se descobriu que o zika aumentava em 20 vezes a chance de surgimento da síndrome de Guillain-Barré. De junho deste ano para cá já tratei sete casos. A incidência da síndrome é bastante elevada”, destaca.

Além disso, desde o início da circulação do vírus no país os pesquisadores constataram que houve aumento de casos com complicações neurológicas. Os dados foram coletados de pacientes no período entre dezembro de 2015 e maio de 2016.

A probabilidade de casos de síndrome de Guillain-Barré entre pacientes infectados pelo zika é de um em 4.000.

No ano passado foram 60 casos da doença reportados à Secretaria de Estado da Saúde (Sesau). Desde janeiro deste ano outros 30 foram informados. 

Segundo Galvão, a dificuldade, no entanto, está em reunir provas substanciais que relacionem as doenças. O que só pode ocorrer com o avanço das pesquisas.

Ainda de acordo com o médico, antes do surto de zika, praticamente não havia registro da síndrome. Com o avanço dos casos de zika, foram registrados 140 notificação da síndrome até o momento.

“Inclusive eu fui quem mais tratei Guillain-Barré no surto do zika. Tive mais de 140 casos. Não tenho a comprovação se foi por zika, até pela dificuldade de se provar que o paciente teve a doença. Apesar de o paciente relatar sintomas de zika e ter tido Guillain-Barré eu não tenho como comprovar a relação. Clinicamente os relatos eram disso, teve semana de ter 10 casos”, pontua.

Ao longo da vida, tratamentos custam mais de R$ 1 milhão

Ao mesmo tempo em que essa informação é divulgada, um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) apresentado esta semana avalia os impactos socioeconômicos do zika vírus na América Latina. Nele, figuram as previsões de custos de Guillain-Barré no Brasil.

Segundo a projeção, existem custos diretos que envolvem os cuidados médicos e os custos indiretos que se refere à perda de produtividade e mortalidade prematura. Cada paciente ao longo da vida tem despesas estimadas em USD 400 mil ou algo em torno de R$ 1,2 milhão. O montante de despesas estimadas no país desde 2015 chega a USD 222 milhões, quase R$ 700 milhões.

O médico acrescenta que Alagoas foi um dos estados pioneiros no tratamento diferenciado para pacientes com a síndrome. Para Galvão, a adoção de uma técnica de transfusão e filtragem do plasma sanguíneo contribuiu de forma significativa.

“Nosso estado foi o com menor mortalidade. Todos os pacientes daqui não morreram porque foram tratados com plasmaférese terapêutica. Enquanto o Brasil inteiro tratou com imunoglobina. Essa foi a diferença”, acrescenta.

A síndrome de Guillain-Barré é uma doença autoimune que ataca o sistema nervoso. É decorrente das complicações infecciosas, a exemplo da arbovirose zika.

“A Guillain-Barré pode acontecer após qualquer quadro viral ou bacteriano, das diversas formas, desde a mais simples a mais grave. Os sintomas são paralisia dos membros inferiores e depois superiores podendo paralisar o corpo e também os mais graves que acometem a parte do sistema nervoso central. Ela é uma doença autoimune, o anticorpo que é produzido para combater a infecção começa a reconhecer o organismo como invasor”.

A encefalomielite também é uma síndrome autoimune que atua contra o sistema nervoso central e provoca sintomas similares aos de esclerose múltipla. A mielite transversa provoca perda de movimentos do corpo, pois ataca a medula. Já a polineuropatia crônica provoca dor e fraqueza e perda de sensibilidade no corpo, por atacar os nervos periféricos.