Saúde
Pediatra da Sesau diz que chupeta e mamadeira podem trazer prejuízos à saúde
Elas podem causar amigdalites, otites e adenoides, além de atraso no início da fala
A oferta da mamadeira e da chupeta se difundiu amplamente na sociedade. Trouxeram consigo conveniência e comodidade, sendo uma estratégia na tarefa dos adultos em acalmar os bebês. Muitos não sabem ao certo se devem ou não oferecê-las. Desinformação, falta de tempo, busca por facilidades imediatas e tantos outros motivos popularizou-se e fizeram com que formas naturais e gentis de lidar com o choro e as demandas dos pequenos fossem deixadas de lado. Mas não se engane: efeitos danosos advindos dos seus usos existem, e aumentam em quantidade e gravidade ao longo do desenvolvimento infantil.
O alerta é da pediatra da Supervisão da Saúde da Criança da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), Sirmani Frazão. Uma vez que, segundo ela, o bico artificial nunca vai ser igual ao do seio materno. Isso porque, a sucção ao seio é diferente da chupeta e, quando é oferecida muito cedo ao bebê, o desmame é precoce. Outro fator relevante segundo a médica é que a posição da língua durante a amamentação é diferente do processo de sucção da chupeta ou bicos de mamadeira, havendo então confusão de bicos quando o bebê volta a sugar ao seio.
Na visão da pediatra da Sesau, por incrível que pareça, sugar ao seio exige menos esforço do bebê, já que é um ato natural. Com a interferência dos bicos, o bebê geralmente não consegue extrair o leite de sua mãe, ficando irritado, com fome e sede, rejeitando o peito da mãe, assim diminuindo a produção láctea. “Quando o bebê mama no seio da mãe, a língua vem para frente, onde é feito todo um movimento de ordenha. Já na sucção de um bico artificial, a língua fica para trás. Além disso, existem evidências de que usar chupeta e mamadeira diminui a produção de leite, pois o bebê solicita menos o seio, o que acaba interferindo até mesmo no seu ganho de peso”, explicou.
(Foto: Agência Alagoas)
Sirmani Frazão afirma que o tempo de uso da chupeta e mamadeira está diretamente associado com um tempo menor de amamentação, ou seja, com um desmame precoce. O que é preconizado pelo Ministério da Saúde (MS) é que as mães mantenham a amamentação exclusiva até os seis meses de vida, visto que o leite materno reduz em até 13% a mortalidade de menores de 5 anos em todo o mundo por causas evitáveis.
“Com o leite humano, o bebê fica protegido de infecções, diarreias e alergias, cresce com mais saúde, ganha peso mais rápido, além de ficar menos tempo internado. O aleitamento materno também diminuiu o risco de doenças como hipertensão, colesterol alto, diabetes e obesidade. A amamentação reduz o peso da mãe mais rapidamente após o parto e ajuda o útero a recuperar seu tamanho normal, diminuindo o risco de hemorragia e de anemia. As chances de se adquirir diabetes ou desenvolver câncer de mama e de ovário também caem significativamente”, ressaltou a pediatra da Sesau.
Além de todos esses benefícios à saúde, estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, comprovou que quanto mais duradouro o período de amamentação na infância, maiores os níveis de inteligência e renda média na vida adulta até os 30 anos. Foi o primeiro estudo no Brasil a mostrar o impacto no QI e o primeiro internacionalmente a verificar a influência na renda. A pesquisa foi divulgada pela The Lancet, uma das publicações científicas mais importantes do mundo.
Mais e mais problemas...
Além de alterar a postura e tonicidade dos músculos da boca, o uso de bicos artificiais causa deformidades. “Quando ela estiver com dois ou três anos de idade, a mordida aberta e a consequente respiração oral, favorecerá a um aumento da incidência de uma série de patologias, especialmente as amigdalites, otites e adenoides hipertróficas. A criança também pode atrasar a fala, pois sempre vai estar com um objeto na boca”, afirmou Frazão, ao acrescentar que outros riscos são os de acidentes, obstrução das vias aéreas e estrangulamento por correntinhas, fitinhas e fraldas de tecido amarradas na chupeta.
(Foto: Agência Alagoas)
Assim que decidiu engravidar, Quitéria Tavares, 29 anos, sabia que teria de ser firme em suas decisões. Isso porque, ela sempre deixou claro que seria diferente da maioria das mães corujas, quanto aos costumes e a alimentação dos seus filhos. Ela priorizou o aleitamento materno e se distanciou o máximo que pôde das chupetas e mamadeiras logo na sua primeira gestação.
Embora seja contrária quanto ao uso dos bicos artificiais para as crianças, ela precisou ceder, mesmo com dor no coração, na segunda gravidez, visto que, com o fim da licença maternidade no próximo mês, precisa voltar ao trabalho e deixar Enzo, o caçula, de apenas três meses, sob os cuidados da avó.
“Quando tive meu primeiro filho descobri que teria de aprender a educá-lo sem o uso da chupeta e mamadeira. Nunca simpatizei muito com a ideia de bicos artificiais, e estou tendo dificuldades com o Enzo. Ele cospe nas poucas vezes em que ofereço. Ele chora bastante e pega um pouquinho só quando está com fome. Por isso, para facilitar minha vida, lambuzo a chupeta com mel, a fim de fazê-lo parar de chorar, porque traz uma sensação de conforto e acalma a criança, segundo minha mãe”, revelou.
Prática que a pediatra da Sesau discorda. “O açúcar e o mel devem ser evitados na introdução de alimentos, com prejuízos nutricionais e odontológicos”, recomenda. Questionada se a chupeta vier a fazer parte do cotidiano do filho, caso ele goste, Quitéria foi enfática ao dizer que vai deixar o pequeno usar até um ano de idade. “Depois disso, os problemas avançam, conforme as leituras que eu fiz na Internet e nas conversas que tive com profissionais, podendo implicar nos dentes tortos e comprometer, principalmente, a fala dele no futuro próximo”, garantiu.
Segundo Sirmani Frazão, quanto mais cedo houver estratégias dos adultos para retirar a chupeta, melhor e mais fácil. “Sempre elogiar, cumprir promessas e assim quando for retirar, a criança vai entender. Fácil não é, mas é possível. O adulto deve se preparar para as birras, e com muito amor, não ceder”, orienta.
Exceção
Porém, há situações, de acordo com ela, em que a chupeta e a mamadeira são necessárias, como, por exemplo, nos casos de mães com HIV positivo, herpes com lesões mamárias, tuberculose não tratada ou ainda quando é preciso deixar a criança com algum familiar.
Para os bebês, a dica é substituir a chupeta e a mamadeira gradualmente por outra peça ou atividade que supra o conforto e a segurança que ela oferece ao filho. “Por exemplo: em vez de dar o objeto para acalmá-lo, é necessário conversar, cantar uma música, contar uma história e dar colo. Se ele tem o hábito de dormir com a chupeta na boca, tire assim que pegar no sono, para evitar a sucção durante a noite”, recomenda Sirmani Frazão.
Se a criança já tiver mais de dois anos, é necessário diminuir o uso gradativamente, um pouco menos a cada dia. Para isso, é necessário estabelecer que em lugares públicos, por exemplo, ou na casa dos parentes não devem ser usadas. “Depois, acerte de usar só à noite, tirando a chupeta e a mamadeira durante o dia, ou vice-versa. Tudo isso contribui para ela ir se acostumando com a ideia de que deve se separar do objeto”, acrescenta a pediatra da Sesau.
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