Apesar de permanecer filiado ao MDB, a relação política de Luciano Barbosa com o seu partido parece cada vez mais inviável. Se em outros tempos, relativamente recentes, ele era o braço direito dos Calheiros, tendo ocupado o cargo de vice-governador durante o primeiro mandato de Renan Filho (MDB), hoje ele parece seguir outros caminhos, transparecendo cada dia mais as afinidades com um dos principais rivais do grupo, o presidente da Câmara Federal, Arthur Lira (PP).

Considerando sua candidatura à reeleição para a Prefeitura de Arapiraca, o segundo maior colégio eleitoral do estado, chama a atenção a disparidade entre os investimentos feitos pelo PP e pelo MDB. A doação da direção nacional da legenda a qual Barbosa faz parte, o MDB, foi de R$ 150 mil, de acordo com a prestação de contas na Justiça Eleitoral. O valor parece irrisório se comparado à doação do PP, partido de Lira, que alcançou um total de R$ 2 milhões doados à campanha. Já em Maceió, o MDB generosamente contribuiu com R$ 5 milhões para a campanha de Rafael Brito (MDB), que enfrenta JHC (PL), atual prefeito da capital.

Em 2020, ao lançar sua candidatura à prefeitura, Luciano contrariou os planos do partido. Aparentemente, o nome tinha potencial para suceder Renan no Governo de Alagoas, e a aposta em Arapiraca era no deputado Ricardo Nezinho. Mas a realidade tomou outro rumo com a decisão de Barbosa. O partido não aceitou, tentou inclusive barrar a candidatura judicialmente, tornando pública a divergência interna do partido, o grupo dos Calheiros chegou a vencer na Justiça aqui de Alagoas, e o emedebista concorreu sob a especulação de que, caso eleito, não assumiria.

Uma vitória judicial em Brasília e o resultado expressivo nas urnas arapiraquenses cessaram a briga. Nas declarações públicas, o respeito está presente. Por algum motivo, não houve desfiliação. Mas desde então, os posicionamentos de ambos os lados muitas vezes fazem o eleitor questionar de que lado estão.

Se nacionalmente, e até no âmbito estadual, Arthur Lira e Renan Calheiros estão de lados opostos, em Arapiraca eles dividem o palanque, ao menos por enquanto. Só que os sinais de Luciano levam a crer que sua influência política deve pesar mais para o lado de Lira em relação aos apoios em 2026. Isso poderia explicar o investimento quase simbólico do partido ao qual, apesar de tudo, Luciano segue filiado.

Na política partidária, as reviravoltas são comuns. É muito comum ver antigos aliados se tornando inimigos declarados, e vice-versa. É comum também ver nomes que foram referência em algum partido saírem por alguma divergência. Não é o caso, o que Luciano consegue com essa postura é, até o momento, reunir as forças. Se em Maceió, Arthur Lira (PP), Rodrigo Cunha (Podemos) e JHC se reuniram em uma grande chapa, medindo força e soltando ironias contra o MDB, em Arapiraca eles abraçam o partido, constroem coligação juntos e investem pesado na candidatura de Luciano Barbosa.