Política

Renan vai à Justiça contra ‘Abin paralela’

Senador destacou que existem novos fatos ocorridos na gestão Bolsonaro que podem culminar na reabertura da CPI da Covid

Por Tribuna Independente 13/07/2024 08h05 - Atualizado em 13/07/2024 10h41
Renan vai à Justiça contra ‘Abin paralela’
De acordo com a Polícia Federal, ‘Abin paralela’ espionou o senador Renan Calheiros para obter informações que seriam utilizadas pelo governo Bolsonaro - Foto: Reprodução

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) afirmou, na última sexta-feira (12), que pretende entrar como assistente de acusação em processos que investigam a chamada “Abin paralela”. O congressista foi um dos alvos monitorados ilegalmente por servidores lotados na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante a gestão Jair Bolsonaro.

“Vou entrar na Justiça, até em cortes internacionais, como assistente da acusação no escândalo Abin. A grampolândia na cúpula da CPI mostra que a investigação pode ter sido embaraçada na ação marginal de órgãos de Estado. Fatos novos para PGR reabrir partes engavetadas por Aras”, escreveu o alagoano, referindo-se ao relatório final da CPI da Covid, da qual ele foi relator.

Conforme relatório da Polícia Federal, a suposta organização ainda monitorou Arthur Lira (PP-AL), atual presidente da Câmara dos Deputados, e outros alvos, entre políticos, magistrados e jornalistas. Até o fechamento desta edição, Lira não havia se manifestado sobre a espionagem da Abin durante o governo Bolsonaro.

Vale lembrar que Arthur Lira, enquanto esteve na presidência da Câmara Federal durante os últimos dois anos do governo Bolsonaro, sempre se mostrou um grande aliado do então presidente.

Do Poder Legislativo, foram alvos ainda o deputado Rodrigo Maia, então presidente da Câmara dos Deputados, os deputados federais Kim Kataguiri e Joice Hasselmann; e os senadores Alessandro Vieira, Omar Aziz e Randolfe Rodrigues.

Na quinta-feira (11), o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes derrubou o sigilo da investigação que integra a quarta fase da Operação Última Milha. Nesta nova fase, a apuração está robustecida por dados encontrados nos aparelhos celulares de ex-integrantes do órgão, que falam, inclusive, em usar monitoramento ilegal para “explodir” adversários.

As investigações evidenciaram a ocorrência de inúmeras ações clandestinas no período entre 2019 até 2022 e indicaram que os recursos humanos e técnicos empregados pela estrutura paralela valiam-se de sistemas oficiais e clandestinos.

Os investigadores chegaram até o nome de Lira após conversas entre os investigados Giancarlo Gomes Rodrigues e Marcelo Bormevet. “O militar Giancarlo destaca ao superior Bormevet que a ação de estirpe delituosa já teria sido realizada em relação a ‘Lira’ e ao ‘pessoal do Renan’”, revela o documento da decisão.

CENÁRIO ELEITORAL

Apesar de não ser um tema da eleição municipal, a operação deflagrada pela Polícia Federal sobre a Abin paralela pode ter efeito negativo para candidatos apoiados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

Aliados do político temem, por exemplo, a divulgação do conteúdo do áudio citado nos relatórios da PF que registra uma reunião entre o ex-presidente e Alexandre Ramagem – que era diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no período investigado.

A depender do que está gravado, a força política de Bolsonaro pode ser afetada durante as eleições municipais, principalmente nas grandes capitais como São Paulo, Rio e Belo Horizonte.

Segundo um interlocutor de Bolsonaro, uma eventual conversa do então presidente no sentido de tentar ajudar, de forma irregular, seu filho Flávio Bolsonaro (senador, PL-RJ) pode ter um efeito explosivo – e deixar Jair acuado.

É possível prever, desde agora, um efeito imediato: danos à pré-candidatura do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) à prefeitura do Rio. Ramagem foi lançado na disputa pelo ex-presidente, mas agora a cúpula do PL já avalia se faz sentido manter ou não o ex-diretor-geral da Abin na eleição municipal.