Política
Aécio Neves defende aprovar lei de anistia ao caixa 2 e abuso de autoridade
Documentos da investigação da nova fase da Lava Jato revelam conteúdos de conversas de Aécio com Joesley Batista, dono do frigorífico JBS
Documentos da investigação da nova fase da Lava Jato revelam como foi feito o acerto em que o empresário Joesley Batista, dono do frigorífico JBS, promete pagar R$ 2 milhões ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), a pedido dele.
A TV Globo teve acesso à transcrição da conversa entre os dois. Além de Aécio indicar o primo para receber o dinheiro, ele também relata que ficou “dez noites sem dormir direito” e disse que precisa do dinheiro para pagar advogados: “como vou entrar numa merda dessa sem advogado”, disse.
No termo da delação premiada que Joesley Batista firmou com a Procuradoria-Geral da República (PGR) consta também que, na conversa, Aécio defendeu que era preciso aprovar a lei de anistia ao caixa 2 e a do abuso de autoridade.
Aécio teria dito que "só cuidava dessas questões" e que já estava articulando com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e com o presidente Michel Temer pela aprovação desses projetos no Congresso.
Veja como foi a conversa entre Aécio e Joesley, segundo o documento da operação:
AÉCIO: Esses vazamentos, essa porra toda, é uma ilegalidade...
JOESLEY: Não vai parar com essa merda?
AÉCIO: Cara nós tamos vendo (...) primeiro: nós temos dois caras frágeis pra caralho nessa estória é o Eunício [de Oliveira, presidente do Senado] e o Rodrigo [Maia, presidente da Câmara], o Rodrigo especialmente também, tinha que dar uma apertada nele que nós tamos vendo o texto (...) na terça-feira.
JOESLEY: Texto do que?
AÉCIO: Não...são duas coisas: primeiro cortar o pra trás (...) de quem doa e de quem recebeu...
JOESLEY: e de quem recebeu
AÉCIO: Tudo. Acabar com tudo esses crimes de falsidade ideológica, papapá, que é que na, na, na mão [dupla], texto pronto nãnã. O Eunício afirmando que tá com culhão pra votar, nós tamo. Porque o negócio agora não dá para ser mais na surdina tem que ser o seguinte, todo mundo assinar, o PSDB vai assinar, o PT vai assinar, o PMDB vai assinar, tá montada. A idéia é votar na, porque o Rodrigo devolveu aquela tal das dez medidas, a gente vai votar naquelas dez, naquela merda das dez medidas, toda essa porra. O que que eu tô sentindo? Trabalhando nisso igual um louco.
JOESLEY: Lógico.
AÉCIO: O Rodrigo, enquanto não chega nele essa merda direito né?
JOESLEY: Todo mundo fica com essa. Não...
AÉCIO: E, meio de lado, não, meio de leve, não, meio de raspão, né, não vou morrer. O cara, cê tinha que mandar um, um, cê tem ajudado esses caras pra caralho, tinha que mandar um recado pro Rodrigo, alguém seu, tem que votar essa merda de qualquer maneira, assustar um pouco, eu tô assustando ele, entendeu, se falar coisa sua aí... forte... Não que isso? (Livra) resolvido isso tem que entrar no abuso de autoridade... o que esse Congresso tem que fazer. Agora tá uma zona, porquê? O Eunício não é o Renan [Calheiros, ex-presidente do Senado], o Renan...
JOESLEY: Já andaram batendo no Eunício aí né? Já andaram batendo nas coisas do Eunício, negócio da empresa dele, não sei o quê.
AÉCIO: Ontem, até... eu voltei com o Michel ontem, só eu e o Michel, pra saber também se o cara vai bancar entendeu, diz que banca, porque tem que sancionar essa merda, imagina bota cara.
JOESLEY: E, aí ele chega lá e amarela.
AÉCIO: Aí o povo vai pra rua e ele amarela. Apesar que a turma no torno dele o Moreira [Franco, ministro de Temer], [RICARDO] esse povo, o próprio Padilha [Eliseu Padilha, ministro de Temer] não vai deixar escapulir. Então chegando finalmente a porra do texto, tá na mão do Eunício...
[...]
JOESLEY: Esse é bom?
AÉCIO: Tá na cadeira (...) O Ministro é um bosta de um caralho, que não dá um alô, peba, está passando mal de saúde pede para sair Michel tá doido. Veio só eu e ele ontem de São Paulo, mandou um cara lá no Osmar Serraglio [ministro da Justiça], porque ele errou de novo de nomear essa porra desse (...). Porque aí mexia na PF. O que que vai acontecer agora? Vai vim inquérito de uma porrada de gente, caralho, eles são tão bunda mole que eles não (tem) o cara que vai distribuir os inquéritos para o delegado. Você tem lá cem, sei lá, dois mil delegados da Polícia Federal. Você tem que escolher dez caras, né? Do Moreira, que interessa a ele vai pro João.
JOESLEY: Pro o João.
AÉCIO: É. O Aécio vai pro Zé, (...)
JOESLEY: (...) [vozes intercaladas]
[...]
AÉCIO: Tem que tirar esse cara.
JOESLEY: É, pô. Esse cara já era. Tá doido.
AÉCIO: E o motivo igual a esse?
JOESLEY: Claro. Criou o clima.
AÉCIO: É ele próprio já estava até preparado para sair.
JOESLEY: Claro. Criou o clima.
Afastamento e pedido de prisãoO ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), negou o pedido de prisão do senador Aécio Neves e não levará para o plenário a decisão sobre o assunto.
O plenário só avaliará o caso se o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, autor do pedido de prisão, decidir recorrer da decisão de Fachin.
A decisão de Fachin afastou Aécio Neves do mandato de senador. Ele pode ir ao Congresso, mas não pode votar nem fazer nenhum ato como parlamentar. Fachin apreendeu o passaporte do senador e o proibiu de ter contato com outros investigados.
Na delação premiada à PGR, o empresário Joesley Batista entregou uma gravação de 30 minutos na qual Aécio pede ao empresário R$ 2 milhões para pagar a defesa dele na Operação Lava Jato. A Polícia Federal filmou uma das entregas do dinheiro a um primo de Aécio e rastreou a quantia que, segundo a investigação, foi depositada em uma empresa do também senador tucano por Minas Gerais Zeze Perrella.
A delação de Joesley, do irmão dele, Wesley Batista, foi homologada pelo ministro Fachin nesta quinta-feira.
O advogado de Aécio, José Eduardo Alckmin, afirmou em nota nesta quinta que o parlamentar recebeu legalmente um empréstimo de Joesley e que o dinheiro foi destinado a pagar os custos de Aécio com a defesa dele na Operação Lava Jato.
Operação PatmosEndereços ligados a Aécio Neves foram alvos de mandados de busca e apreensão na manhã desta quinta-feira (18) no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e em Brasília. A operação foi batizada pela PF de Patmos, em referência à ilha grega onde o apóstolo João teve visões do Apocalipse.
O acesso aos corredores dos gabinetes dos senadores Aécio Neves e do deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) no Congresso Nacional foram bloqueados pela manhã.
Os agentes da PF chegaram ao Congresso pela Chapelaria, o acesso principal às duas Casas legislativas. Eles carregavam malotes para apreender documentos e possíveis equipamentos eletrônicos.
No Rio, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em três endereços: os apartamentos de Aécio e da irmã dele, Andréa Neves, e o imóvel de Altair Alves Pinto, conhecido por ser braço direito de do ex-deputado Eduardo Cunha. A irmã do senador foi presa em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte.
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