Política

Ex-parlamentares pagavam salários a familiares sem ter vínculo

Haviam também servidores beneficiários da Previdência Social, seguro defeso, entre outras inúmeras situações

30/03/2017 12h52
Ex-parlamentares pagavam salários a familiares sem ter vínculo
Reprodução - Foto: Assessoria

Dezenas de mandados de busca e apreensão foram feitos na manhã desta quinta-feira, na Assembleia Legislativa Estadual (ALE) de Alagoas, pela Polícia Federal de Alagoas e CGU - Controladoria-Geral da União de Alagoas.

Ação policial denominada “Operação Sururugate” teve o intuito de revelar um esquema na folha de pagamento dos servidores da casa, além de pessoas que recebiam salários sem sequer saber que faziam parte da falcatrua.

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De acordo com superintendente da PF em Alagoas, Bernardo Gonçalves, beneficiários do Programa Bolsa Família de outros estados estavam também no ‘bolo’. Discrepâncias exorbitantes de valores foram identificadas na folha de pagamento, segundo ele, a Assembleia informou que determinados servidores recebiam R$ 7 mil, mas durante a análise da PF foi verificado um salário mensal de R$ 20 mil.

“Somente uma análise no contracheque desses servidores é que vai esclarecer o motivo dessas discrepâncias. Por isso as buscas na sede da Assembleia”, disse.  

Bernardo Gonçalves apontou algumas situações pitorescas em alguns dos inquéritos apurados sobre o assunto. De acordo com o superintendente, varias pessoas foram inqueridas, bem como ex-parlamentares, e um deles chegou a afirmar que deu um cargo a seu sogro com um salário porque era doente e inválido, como forma de ajudá-lo.

Equipes estiveram nas salas da ALE para buscar mídias digitais  

A nora de um deputado, conforme o delegado Bernardo, recebeu salário de R$ 6.400 sem nunca ter trabalhado para sustentar o filho do parlamentar e ela. Ainda de acordo com ele, vários supostos servidores confessaram que cederam seus nomes em troca de quantias insignificantes de até R$ 300 por mês.

Uma suposta agricultora, beneficiária do Bolsa Família, recebeu salário de R$ 24 mil durante um ano, e que ficava com apenas R$ 700. Ela não tinha cadastro como servidora da ALE no setor de Recursos Humanos, mas constava na Caixa Econômica como servidora ‘fantasma’ da Assembleia.

Um funcionário cujo salário era de R$ 1.400 chegou a receber em setembro de 2012, as vésperas do pleito eleitoral chegou a receber R$ 50 mil. Servidores doadores de campanha, ganhadores de seguro defesa, beneficiários da Previdência Social, entre outros.

O superintendente da CGU, José William Gomes, informou que dezenas de pessoas já falecidas recebiam salários pela ALE e Reforma Agrária. Num cruzamento de dados com o Detran/AL (Departamento de Trânsito de Alagoas) havia servidor com mais de 15 veículos. “São uma variedade de situações que consideramos indícios que precisam de aprofundamento”, observou.

Investigações tiveram início após denúncia do deputado João Henrique Holanda Caldas (JHC). Devassa na Assembleia envolveu 15 policiais federais e mais cinco audiotores da CGU.

Envolvidos podem ser indiciados por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa resultando em até 35 anos de reclusão.