Polícia

Comissão de delegados e perícia apuram que Márcia Rodrigues cometeu suicídio

Caso do assassinato do pai dela, Milton Omena, ocorrido na sexta, foi esclarecido

30/01/2017 19h51
Comissão de delegados e perícia apuram que Márcia Rodrigues cometeu suicídio
Reprodução - Foto: Assessoria

A comissão de delegados formada por Lucimério Campos e Fábio Costa, que deu apoio ao delegado Tarcizio Vitorino, da regional de Paripueira, elucidou com a ajuda de peritos criminais o caso da jornalista Márcia Rodrigues, encontrada morta com dois disparos de arma de fogo em um condomínio de Paripueira no dia 14 de agosto de 2016. As investigações mostram que ela se suicidou.

O delegado Lucimério Campos detalhou a investigação e disse que a cena do crime foi preservada num dos quartos da casa do delegado aposentado da Polícia Federal, Milton Omena Farias. A casa foi fechada após a fato. A Polícia Civil recebeu a ocorrência de vítima de arma de fogo e deslocou equipe junto com a Perícia Oficial de Alagoas para o condomínio Porto di Mare.

O inquérito foi instaurado no 13ªº Distrito Policial, em Paripueira. Lucimério revelou que a estimativa dos investigadores é de que o fato tenha ocorrido antes das 10h16 da manhã e que apenas ela e o pai estavam na residência no momento. A hora foi estabelecida, pois é nesse horário que Milton Omena comunica a morte da filha à polícia. Na data inclusive era comemorado o Dia dos Pais.

O delegado afirmou que o condomínio seria pouco frequentado, pois é um local de italianos. “Na época, apenas quatro casas estavam ocupadas. Não tinha uma grande quantidade de pessoas que pudessem nos ajudar a entender o que poderia ter acontecido”, revelou.

O celular de Márcia foi recolhido, as imagens de videomonitoramento do condomínio, além da realização das oitivas de moradores e funcionários do Porto di Mare o que levou os investigadores a confirmar que se tratou de suicídio. “Precisávamos do laudo técnico dos peritos que realmente confirmasse ou, se fosse o caso, não. Confirmou porque não havia nenhuma contradição ou algo que indicasse que o pai teria tirado a vida da filha. Tudo está envolto em um desajuste familiar”, divulgou Lucimério.

A família teria um problema de convivência, conforme a apuração revelou. Havia uma relação conflituosa entre Márcia e o pai. Antes de 2016, ambos passaram mais de quatro anos sem se falar. A relação deles havia sido retomada quatro meses antes da morte dela. “Eles tiveram uma empresa e após o fechamento desse estabelecimento a relação começou a ruir”, frisou o delegado.

Após devassa realizada na vida de ambos, os investigadores encontraram no celular da jornalista uma conversa onde ela questionava o pai sobre uma quantia em dinheiro no valor de R$ 136 mil em precatórios. Por conta do valor ser do período em que Milton era casado com a mãe de Márcia, ela questionou que a mãe tinha direito a parte do dinheiro. A mãe chega a aconselhar a filha a não tocar no assunto com Milton.

O inquérito apurou que Milton Omena ligou o carro para sair da residência junto com Márcia. A filha avisou que ia ao banheiro e não voltou mais. Uma vizinha confirmou ter visto o delegado aposentado sozinho no carro. Milton testemunhou que ficou no veículo esperando a filha enquanto estava com o ar-condicionado ligado, ouvindo música e mexendo em seu aparelho celular. Ele relatou não ter escutado os disparos.

Perícia apresenta laudo e diz que primeiro tiro não foi fatal

A maior dúvida para sustentar o caso de suicídio era a questão de dois tiros terem atingido a jornalista. Segundo o perito Jeiely Ferreira, foram três horas no local no dia do fato. Ao todo, quatro tiros foram desferidos no quarto. De acordo com o investigador, Márcia não tinha experiência com arma e os dois primeiros tiros foram chamados de ‘tiros-teste’. O primeiro perto do teto do quarto a uma altura de 2 metros e 30 cm. O segundo, na altura 1 metro e 30 cm.

Em seguida, Márcia sentou na cama, pegou o revólver e posicionou no pescoço. O perito chamou a posição de cervical lateral direita e disse que o tiro foi dado a curta distância e de baixo para cima. O tiro saiu pouco acima e atingiu a mesma parede, só que a 2 metros e 40 cm do solo. Esse primeiro disparo deixou manchas em vários locais do lençol e um travesseiro.

O segundo, o tiro fatal, foi posicionado próximo ao peito esquerdo da jornalista, visando atingir o coração. Esse foi desferido quase encostado ao corpo e de cima para baixo. A bala saiu na região lombar esquerda e se alojou no colchão. Márcia, sem vida, caiu para trás após o disparo, deixando manchas desse disparo no chão do quarto. Apenas um vizinho chegou a escutar disparos e ouviu apenas dois deles em sequência.

Jeiely disse que a posição de Márcia e a ausência de sinais de outras marcas que outra pessoa pudesse ter feito indicavam suicídio. As manchas no corpo dela também eram compatíveis com empunhadura de suicida.

O perito disse que até o momento é aguardado o exame residuográfico feita em Márcia e em Milton. O material foi enviado a Brasília, mas por conta de uma máquina quebrada, não foi concluído e o resultado não tem previsão para ser divulgado.

Delegado aposentado morto pelo neto foi quem empunhou faca, diz delegado

O delegado de Paripueira, Tarcizio Vitorino, detalhou como ocorreu o assassinato do delegado federal Milton Omena pelo seu neto Milton Omena Neto. Ele contou o depoimento do jovem que afirmou que a faca usada no homicídio foi empunhada pelo próprio avô durante discussão e troca de agressões.

“O neto chegou no local dizendo ‘admita que você matou a minha mãe’. O avô então reagiu com palavras de baixo calão e após a discussão o neto empurrou Milton Omena e eles entraram em vias de fato”, relatou Tarcizio.

Quando Milton Neto chegou, o avô lavava alguns talheres na cozinha. Com a discussão piorando, o delegado aposentado puxou a faca e o neto o jogou no chão. Para se defender, Milton cortou o neto algumas vezes com a arma branca. Este revidou com vários socos até remover a faca do avô e dar um golpe fatal no peito. Após esfaquear, o delegado disse que Milton Neto continuou dando socos.

Após se dar conta do que tinha feito, o jovem foi até a portaria e pediu para que o Serviço de Atendimento Móvel (Samu) fosse chamado. Quando ele voltou para dentro do condomínio, funcionários correram atrás dele. Em depoimento, testemunhas disseram que ele tentou reanimar o avô, sem sucesso. O jovem não citou em nenhum momento estar arrependido do que fez

“O inquérito continua, o telefone dele foi apreendido e a delegada Teíla Nogueira deve terminar as investigações do caso em 30 dias”, falou Tarcizio.

O jovem Milton Omena Farias Neto teve a prisão em flagrante convertida em preventiva neste domingo (29). A decisão foi do juiz Diogo de Mendonça Furtado, da Vara do Único Ofício de Maragogi.

Na decisão, o juiz explicou que a prova da materialidade e os indícios de autoria se encontram presentes nos autos. A decisão foi proferida durante o plantão judiciário.