Educação

Ensino Médio Integral avança no Brasil e Alagoas está entre os estados que se destacam

Na rede pública estadual, 45% das unidades escolares ofertam a modalidade em tempo integral

Por Ana Beatriz Rodrigues e Fátima Almeida / Agência Alagoas 11/10/2025 10h08 - Atualizado em 11/10/2025 11h18
Ensino Médio Integral avança no Brasil e Alagoas está entre os estados que se destacam
Investimento em infraestrutura escolar é um dos pilares do ensino em tempo integral - Foto: Alexandre Teixeira / Seduc

O Ensino Médio Integral (EMI) no Nordeste vem avançando a cada ano, puxando para cima o gráfico geral do país em relação a essa modalidade. Dados de um levantamento recente da organização Todos Pela Educação, mostram que o número de matrícula nessa modalidade mais que triplicou nas redes estaduais, entre 2016 e 2024, passando de 1,3 milhão de estudantes.

E na dianteira desse desempenho, o levantamento aponta seis estados nordestinos : Pernambuco, Ceará, Piauí, Paraíba, Sergipe e Alagoas, com percentuais acima da média nacional, que é de 22%, na cobertura de matrículas no EMI. Em matéria publicada no Valor Econômico (30/9), a avaliação é de que experiência nesses estados mostra, na prática, “que planejamento e compromisso político sustentado elevam indicadores de aprendizagem”.

A matéria destaca que, na expansão do EMI, modelo em que os alunos permanecem na escola por 35 horas ou mais por semana, o Nordeste é referência nacional. Entre os nove que aparecem acima da média nacional, apenas os estados do Espírito Santo, São Paulo e Amapá, não estão localizados na região.

No ranking nacional, Alagoas ocupa a 7ª posição, com um percentual de 29% (28.342 alunos matriculados no EMI), à frente de grandes estados como São Paulo (24%), Minas Gerais (15%), Rio de Janeiro (14%) e Rio Grande do Sul, que tem apenas 6% dos alunos da rede pública matriculados no Ensino Médio Integral.

Crescimento acelerado

Os dados divulgados pela Superintendência da Rede Estadual, vinculada à Secretaria de Estado da Educação (Seduc), comprovam que a oferta do ensino integral vem avançando rapidamente, em Alagoas. Para se ter uma noção, o número de matrículas dobrou, desde 2020. E hoje, segundo a Seduc, 45% das unidades de ensino da rede estadual oferecem a modalidade EMI. São 112 escolas de ensino médio integral em 2025, com previsão para aumentar de cinco a dez por cento, em 2026.

Na verdade, de acordo com a secretária de Estado da Educação, Roseane Vasconcelos, os investimentos em ensino integral vêm se tornando constantes na rede de ensino desde 2015.

Fazendo a diferença

Na matéria publicada pelo Valor Econômico, a gerente de políticas educacionais do Todos Pela Educação, Manoela Miranda, destaca que os estados nordestinos não apenas ampliaram a cobertura do EMI como sustentaram avanços consistentes. “O modelo tem uma proposta pedagógica diferenciada, que traz um olhar integral para o jovem. Ele sai mais preparado para qualquer passo depois da escola, seja o ensino superior, a formação técnica ou o mercado de trabalho”, afirma.

O estado de Alagoas vem se destacando não só na implantação do EMI, mas também nos investimentos agregados, em outras áreas de suporte à educação.

“Desde o início, fizemos investimentos importantes. O governo do estado de Alagoas é um dos poucos estados a oferecer cinco refeições diárias – do café da manhã ao jantar - porque sabemos da necessidade e da vulnerabilidade do povo alagoano em relação à alimentação. A escola que oferta essa modalidade precisa se reinventar: criar disciplinas eletivas, projetos integradores, clubes juvenis, tutores, um professor por sala acompanhando o desenvolvimento e o componente do Projeto de Vida. É todo um acompanhamento. Melhoramos a estrutura das escolas, ampliamos refeitórios e cozinhas”, destaca a secretária Roseane Vasconcelos.

Destaque no Enem

Quando se fala de Ensino Médio, é impossível não associar ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), prova responsável por permitir a entrada dos estudantes nas universidades. Em 2025, Alagoas foi o estado brasileiro com o segundo maior percentual de estudantes inscritos no exame, de acordo com dados do Ministério da Educação (MEC): 29.299 alunos da rede pública, o que representa 92,84% do total de matriculados na 3ª ou 4ª séries do ensino médio na rede estadual e no Instituto Federal de Alagoas (Ifal). Alagoas ficou atrás apenas do Ceará, que registrou 96,87%.

O número pode ser ainda maior, uma vez que a plataforma não contabiliza os concluintes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) do ensino médio.

Projeção nacional

Além dos destaques nas inscrições do Enem, outra importante iniciativa que o Governo do Estado vem investindo é o Programa Alagoano de Ensino Integral (Palei), cujo objetivo é aprofundar a formação dos estudantes, promovendo o protagonismo juvenil e a construção de um projeto de vida autônomo e responsável.

O Palei nasceu da necessidade de ampliar o máximo do conhecimento dos alunos. “Estudos comprovam que um aluno que estuda em escola de tempo integral tem, têm, em média, 40% mais de aprendizagem. Ou seja, quanto mais tempo permanece na escola, mais conhecimento adquire. E é um conhecimento que ninguém tira: pertence à pessoa, não depende de governo ou de família, e ela transfere para o seu futuro”, explica a secretária de Educação do Estado.

E quem trabalha na sala de aula, entende que o ensino integral é sinônimo de oportunidade e avanço para a educação alagoana.

“Falo com entusiasmo sobre o ensino integral porque vivi essa experiência de perto: minha antiga escola foi uma das pioneiras na implantação desse modelo no ano de 2016, e pude acompanhar o impacto social e educacional que ele gera. A diferença está em uma proposta pedagógica que enxerga o estudante em sua totalidade — não apenas como alguém que aprende conteúdos, mas como sujeito que desenvolve autonomia, protagonismo e projeto de vida”, conta o Superintendente da Rede Estadual de Ensino da Seduc, Artur Ferreira.

Além das disciplinas regulares, os alunos têm acesso a estudos orientados, disciplinas eletivas, clubes juvenis, projetos integradores e outras atividades que ampliam horizontes e fortalecem vínculos. “É um investimento que transforma a rotina escolar em uma experiência formativa completa, preparando nossos jovens para o futuro com mais oportunidades e sentido”, completa Artur.

O Palei foi um dos destaques da Mostra Nacional de Experiências Inspiradoras de Gestão e Projetos Pedagógicos de Educação Integral em Tempo Integral, que ocorreu em Belo Horizonte (MG). Quem levou o programa para o evento foi o gerente especial de Fortalecimento da Educação em Tempo Integral e Complementar, Erivaldo Valério. Na mostra, o gerente focou na consolidação do Palei na Rede Estadual de Ensino.

“O nosso Programa Alagoano de Ensino Integral em Tempo Integral, agora política de Estado, demonstra que, quando há compromisso político, gestão democrática e planejamento territorializado, é possível transformar realidades e garantir equidade e justiça curricular para nossos estudantes em todas as regiões”, destacou Erivaldo.

Na sua avaliação, esse reconhecimento nacional fortalece ainda mais a convicção de que a escola pública pode e deve ser um espaço de desenvolvimento integral, de protagonismo juvenil e de esperança. “Ser referência para o Brasil é resultado do trabalho coletivo de gestores, professores, estudantes e comunidades, que acreditam e constroem, diariamente, uma educação pública de qualidade em Alagoas”, reforçou o gerente da Seduc.