Economia
Mais um: reajuste de plano de saúde assusta alagoanos
Teto de correção a ser aplicado pelas operadoras começa a valer no próximo mês (maio)
Depois do reajuste de até 10,89% no preço dos medicamentos, os consumidores devem se preparar para o aumento dos planos de saúde individuais que deverá ser anunciado no próximo mês. O teto de correção a ser aplicado pelas operadoras de saúde começa a valer em maio de 2022 e deverá ser definido ainda em abril pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) estima um reajuste de 18,3%.
Mesmo sendo um serviço privado que somente chega a uma parcela menor da população, a elevação de seus valores deverá impactar na área da saúde, na medida em que muitos de seus usuários deverão reduzir o uso, principalmente no caso dos planos que utilizam a “coparticipação” e buscar atendimento na rede pública. Os usuários de planos privados de menor renda deverão fazer companhia a maioria absoluta dos alagoanos, que só podem recorrer ao Sistema Único de Saúde (SUS) para as suas demandas na área da saúde. Essa maioria da população, pela pobreza e preço mais elevado dos serviços privados, forma o conjunto de 2,5 milhões de alagoanos inscritos no SUS, que recorrem regularmente à rede de assistência básica do sistema público de saúde.
Para Jackline Santos o novo reajuste implicará no cancelamento do seu plano familiar que comporta ela, o esposo e o filho. “Meu plano de saúde era individual (pessoa física), mas quando casei acrescentei o Neto e depois Biel e tornou-se familiar", disse.
“Sempre acho o reajuste um absurdo, ano passado quase cancelei o meu e o do Neto, porque estava muito alto. Esse ano, a mensalidade baixou R$ 110 e foi o que fez eu ainda continuar no plano. Mas se houver aumento, irei de certeza cancelar e ficar no SUS mesmo. Até porque, particular está igual ao SUS. Esperamos dois meses para uma consulta e quase um mês para fazer exames”, criticou a usuária.
Mara Regina, também usuária do plano de saúde, contou que ficou um tempo sem o recurso e que era agregada de sua mãe. Já pelos dois filhos se submetia a valores altíssimos para mantê-los com o plano.
“Agora conseguimos refazer de todos através do CNPJ de Júnior (filho mais velho) e os desligamos do da mainha. A diferença do de Matheus (filho mais novo) era quase o dobro desse que é plano empresa, mas está difícil demais. Morria de medo de eu ou Jorge (esposo) no tempo da Covid sem plano, apesar de que quando ele teve a suspeita, foi preciso pagar médico e exames, porque ainda não tínhamos o plano. As vezes penso em cancelar, mas tenho medo por Jorge que é diabético”, detalhou.
Para Cícero Filho, que tem uma empresa de vendas de planos de saúde, os reajustes são necessários para o equilíbrio das contas, principalmente após a pandemia. Ele confessou que muitos cancelamentos foram registrados por conta da situação mundial pela covid-19, mas também enfatizou que novos usuários estão chegando.
“Devido ao susto que passamos muitos deixaram porque perderam rendas e ficou insustentável a permanência nos planos”, lembrou.
Aumento implicará em maior inadimplência nos contratos
De acordo com o economista, Cícero Péricles, o aumento nos planos de saúde individuais, que poderá chegar até 18,3%, numa conjuntura de inflação crescente, deverá aumentar a inadimplência nos contratos em vigor e diminuir ainda mais a atratividade para a oferta destes planos, mesmo para os serviços mais baratos.
Em Alagoas, o aumento afetará a vida financeira de 376 mil pessoas, os 12% da população que têm planos privados de saúde.
“Esse aumento recorde, o maior dos últimos vinte anos, bem mais alto que a inflação acumulada nos doze últimos meses de 10,8%, é justificado pelas empresas vinculadas a Associação Nacional de Planos de Saúde, pela elevação nos preços dos medicamentos e do material descartável, dos procedimentos, pelo crescimento da utilização dos recursos dos planos e incorporações de novos procedimentos obrigatórios para os planos”, explicou.
Para o especialista, o anúncio de que este aumento entra em vigor no próximo mês, depois de ser aprovado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, a ANS, é uma notícia ruim para a economia, pelo provável impacto na inflação; e péssima para as famílias e consumidores, que veem seus custos com saúde subirem de forma significativa.
“Esse novo reajuste vem se somar a recente elevação de 10,8% nos preços dos remédios, dificultando mais ainda a vida da população que necessita desses serviços e desses produtos. A elevação na mensalidade dos planos é, inicialmente, destinada aos contratos individuais, mas que, nos próximos meses, deverá chegar aos planos empresariais e coletivos”, salientou Péricles.
O advogado, que atua em operadora de plano de saúde, Gustavo Uchôa, argumentou que existe uma regulação da ANS que dita o parâmetro de preço de pessoa física, e que, esse percentual tem a ver com a pandemia. “Os custos assistenciais no Brasil e no mundo subiram de forma considerável e fora do comum, totalmente atípica em correspondência à pandemia que fugiu do controle durante muito tempo”, observou.
“Então em suma e justificando implicitamente, esse reajuste definido pela ANS está em linha com o aumento assistencial dos custos do sinistro, das despesas que as operadoras tiveram no Brasil para fazer frente à covid, na internação, na UTI, na acumulação de cirurgia eletiva com covid”, completou.
Ele explicou ainda que todo plano de saúde - pessoa física somente pode ser reajustado em seu percentual máximo anualmente pela ANS, órgão regulador do Governo Federal. “Se ela determina 10%, o plano só pode colocar 10, cinco, cinco, treze, treze, dezesseis, dezesseis e assim sucessivamente. É algo regulado e referenciado por essa agência”, disse.
Gustavo Uchôa ponderou que os planos não têm como fazer algo diferente já que além da pandemia há uma taxa de inflação de 10 a 12%. “Então realmente houve algo inflacionário para além da pandemia e esse conjunto de fatores fez com que a ANS autorizasse esse reajuste alto, mais alto do que a média, mas tem essa justificativa legal. Para o consumidor é ruim? Claro que é ruim. Sendo que a realidade mudou, tanto pelo aumento dos custos como pela inflação”, salientou.
O advogado conclui lembrando que no ano passado o reajuste foi negativo. “Então o que foi negativo aquele ano, esse ano foi positivo, entendeu? Então esse é o contexto”.
IMPACTOS
Marcos Novais, superintendente executivo da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), ressaltou que o setor registra um aumento de custos no período e foi observado um novo padrão de utilização dos serviços após a pandemia.
“As altas nos preços dos medicamentos, em 2 anos, somam quase 24%, o que é significativo para as operadoras", destacou. “Os custos de material descartável e equipamentos importados também têm impacto significativo para os serviços dos planos de saúde”, emendou.
Já a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) informou que diversos fatores influenciam no reajuste dos planos de saúde, como o aumento do preço de medicamentos e insumos médicos, o crescimento da utilização de recursos dos planos e incorporação de novas coberturas obrigatórias aos planos de saúde, como medicamentos e procedimentos.
A FenaSaúde diz ainda que, além da alta da inflação, alta da sinistralidade e forte retomada dos procedimentos eletivos, são esperados ainda os impactos de tratamentos da chamada Covid longa, que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atinge 10% a 20% dos que contraíram a doença, o que significa até 6 milhões de pessoas no Brasil.
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