Economia
Café: dólar e clima amargam preço e consumo reduz
Valor da segunda bebida mais popular entre os brasileiros atinge maior patamar dos últimos 25 anos e ainda deve subir
A disparada de preços dos alimentos chegou ao cafezinho, bebida que está presente em vários momentos do dia dos brasileiros. A alta do produto se deve a diversos fatores, entre eles, o aumento do dólar e fatores climáticos. O valor da segunda bebida mais popular no país atinge o maior patamar dos últimos 25 anos: o preço do café moído e torrado teve alta de 56,87% nos últimos 12 meses, de acordo com dados do IBGE. Para a economista e professora Natália Olivindo, pode-se dizer que o café nunca esteve tão alto. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), a tendência é que o produto continue a subir em 2022, podendo chegar ao valor mais alto em 25 anos. “O fato casa com o período ter sido o de menor safra histórica”, frisa.
Ela explica que cabe destacar dentre as causas do aumento, a estiagem do ano de 2021. Tendo em vista que o nível de produção depende de fatores climáticos, com condições menos favoráveis, como ausência de chuvas ou geadas, a produção cai e em consequência há um aumento do preço.
Segundo a especialista, a diminuição da produção a nível mundial e o aumento do dólar impactou o preço do produto negociado no mercado internacional. “Ao tempo que o real desvalorizado estimula os produtores a exportar o bem, a baixa oferta faz os preços subirem, bem como há aumento nos custos de produção, sendo estes repassados para o consumidor”, salientou.
Ela cita ainda o aumento da demanda por café no período de pandemia e a questão especulativa, já que a baixa produção atual e a perspectiva de valores reduzidos ainda em 2022 pode impulsionar o produtor a antecipar a produção e estocar, buscando auferir maiores lucros futuros com a alta de preços.
Luana Nunes, jornalista e empreendedora, confessa que, como consumidora acima da média deste produto, o aumento do valor a assustou bastante. “Notei que, desde os cafés mais simples aos premiums, os valores superaram e driblá-los tem sido o meu maior desafio, pois me considero dependente da bebida. A solução que encontrei foi diminuir minhas idas às cafeterias da cidade e alternar o consumo entre a minha casa e o meu trabalho, tanto o coado quanto o de cápsulas”, conta.
Ela que toma de 4 a 7 cafezinhos ao dia, todos sem açúcar porque gosta de saborear a bebida e sentir seus aromas, destaca que ainda não conseguiu diminuir o consumo, mas encontrou alternativas mais econômicas para evitar tomá-lo nas cafeterias da cidade. “Quando vou a uma cafeteria, procuro ir àquela que oferece refil de café, como na Milkee, por exemplo”.
“Nunca desperdicei o café. Agora, eu estou mais seletiva. Sou criteriosa demais quanto ao sabor. Então, hoje, peso muito a relação custo x qualidade. Em casa, sempre faço a quantidade que sei que vou consumir naquele horário. Na agência em que trabalho, sempre faço uma cápsula por vez e nunca sobra”, brinca.
A jornalista diz que substituiu a marca do café, mas não para uma mais inferior. “Eu ponderei o valor e comparei à qualidade. Então, agora, tomo um café melhor porque aquele que eu tomava está quase o mesmo valor da marca que é superior a ele”, conclui.
É possível economizar com ofertas ou cupons de desconto
Para a economista Natália Olivindo uma das maneiras do consumidor economizar, tendo em vista que o café é um produto difícil de ser substituído, é pesquisar os preços em diferentes lugares antes de realizar a compra. Outra forma é comprar no atacado, produto para um mês ou mais, por exemplo, e aproveitar ofertas, cupons de desconto.
O presidente da Associação dos Supermercados de Alagoas (ASA/AL), Raimundo Barreto, também confirma essa alta de preço e alega os mesmos motivos que a economista. “Quando se tem uma boa safra, segura o preço. Mas, quando falta o produto que neste caso é o café, a tendência, infelizmente, é aumentar. Outro ponto que precisa ser observado diz respeito ao aumento de energia elétrica, diesel, tudo isso acaba por influenciar a alta de preço de qualquer produto”, ressalta.
Paolo Calanchini, proprietário de uma cafeteria em Maceió, observa que em suas lojas deu para manter o mesmo valor de antes e que não precisou repassar o reajuste para o consumidor.
“O agro está em crise com o aumento de gasolina, precificação das commodities, alta do dólar, geadas, pandemia, entre outros, todos estes contribuíram para a alta do café. No entanto, conseguimos manter a clientela, não tivemos muita diferença, as pessoas não abrem mão do cafezinho moído na hora”, garante.
O empresário diz que trocou há pouco a marca do café com investimento em grãos especiais 100% arábicos, “um pouco mais caros, mas de qualidade muito melhor e os clientes estão adorando”, afirma.
PAIXÃO
O tipo de café preferido dos brasileiros é o café expresso (opção pura do café e sabor mais forte). Em segundo lugar está o pingado ou café com leite (mistura de 80% de leite com 20% de café).
O capuccino fica na terceira posição, e é uma mistura de café, leite, chocolate, noz-moscada e canela. O macchiato (50% expresso e 50% creme de leite) e o café latte (versão encorpada do cappuccino), estão na quarta e quinta posição, respectivamente.
Com relação à produção de café, o Brasil está no topo no ranking mundial, e é o país que detém este título por mais de 150 anos. Aproximadamente 40% de toda produção mundial vem do Brasil. Os principais estados produtores são Minas Gerais, São Paulo e Paraná.
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