Cooperativas

Tribuna Independente: Uma história de resistência

Muitos são os desafios e conquistas, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido, comprometido com sociedade e trabalhadores

Por Sirley Veloso – colaboradora 02/11/2021 11h22
Tribuna Independente: Uma história de resistência
Reprodução - Foto: Assessoria

O jornal Tribuna Independente chega à edição de número 4 mil, recheado de histórias. O veículo de comunicação nasceu junto com a criação da Cooperativa dos Jornalistas e Gráficos do Estado de Alagoas (Jorgraf), com o compromisso de levar uma comunicação de qualidade e independente à sociedade, além de manter empregados os cento e quarenta trabalhadores, à época, que, por desmandos da diretoria da Antiga Tribuna de Alagoas, estavam com salários atrasados e prestes ficarem desempregados.

Era ano de 2007. Funcionários com salários e 13º salário atrasados, ouvindo sempre as mesmas desculpas e promessas, por parte da diretoria da Tribuna de Alagoas, de que a solução estaria chegando, resolvem unir forças e cruzar os braços diante de tamanho desrespeito.

A união de jornalistas, gráficos e pessoal do setor administrativo que faziam a antiga Tribuna, possibilitou a resistência e uma vigília em frente à sede da empresa para exigir os salários atrasados.

Foram dias e mais dias de vigília dos trabalhadores em busca de direitos. À época, o diretor de jornalismo tentava convencer a todo custo, que o retorno aos respectivos postos de trabalho seria o melhor a fazer, já que, segundo ele, os pagamentos dos salários iriam ser feitos brevemente, algo que não aconteceu.

Com promessas de pagamentos não cumpridas, os dois sindicatos que estavam apoiando a greve convocaram uma assembleia em frente ao local ocupado. Em deliberação da assembleia, foi definido que jornalistas, gráficos e demais funcionários não retornariam às funções até que houvesse um acordo entre as partes.

As vigílias aconteciam em sistema de revezamento e a resistência de todos era colocada à prova. A sociedade aos poucos começou a ter ciência do que estava acontecendo, seja por meio da movimentação em frente à empresa, ou por meio de carros de som e faixas. Assim, a população tomava conhecimento da falta de respeito com os trabalhadores da Tribuna de Alagoas, e aos poucos o calote dado pelos empresários nos 140 profissionais da época era descoberto.

Foram várias as tentativas de negociação, mas todas sem êxito. Dívidas com fornecedores, altos gastos, dos donos da empresa, com viagens e festas levaram a Tribuna de Alagoas à bancarrota.

OCUPAÇÃO

Em mais uma assembleia realizada, os trabalhadores decidiram pela ocupação do prédio e também que iriam produzir edições semanais para serem distribuídas nos atos, piquetes e mobilizações das categorias. O propósito, no momento, era que a sociedade ficasse ainda mais informada da situação dos trabalhadores.

Além do impresso, um blog foi criado para compartilhar com a sociedade todas as ocorrências durante as manifestações.

As edições semanais eram publicadas aos domingos ou às segundas-feiras, conforme a realização das ações. A primeira edição do jornal, distribuída nos semáforos da Avenida Menino Marcelo e na Fernandes Lima, causou alvoroço e manifestações de apoio ao movimento dos trabalhadores, por parte da sociedade.

Com os mais diversos credores exigindo receber, assinantes sem exemplares, e funcionários passando por várias dificuldades, surge à ideia da criação de uma cooperativa que reunisse jornalistas e gráficos.

Foi a partir dessa união, que o jornal conquistou independência. Nascia então, com o apoio do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas (Sindjornal) e do Sindicato dos Gráficos do Estado de Alagoas (Sindigraf), a cooperativa e a Tribuna Independente.

Foram muitas propostas, discussões, e a necessidade de continuar no mercado de trabalho. Assim surgiu o jornal para explicar o que estava acontecendo para toda a sociedade – nasceu a Jorgraf, primeira cooperativa de jornal no país com duas categorias juntas. E o seu principal produto: o jornal impresso Tribuna Independente.

Primeira edição do diário foi às bancas em 10 de julho de 2007

A primeira edição circulou no dia 10 de julho de 2007. Hoje são 4 mil edições. A Jorgraf conta com 57 cooperados além de funcionários celetistas. A Tribuna Independente, carro-chefe da cooperativa, circula diariamente com 16 páginas e no fim de semana com 20 páginas.

Em 2021, com 14 anos, o jornal Tribuna é um adolescente convicto do seu papel na sociedade. Único jornal diário do estado, leva aos leitores alagoanos a informação como deve ser: comprometida socialmente com a apuração dos fatos e a qualidade que a população merece. Feita por profissionais capacitados e atualizados com o mercado da comunicação, o jornal mantém assim o nível de competição e qualidade.

RESISTÊNCIA

O fechamento da antiga Tribuna de Alagoas, em 2007, trouxe dor e sofrimento aos cento e quarenta funcionários e a famílias inteiras que dependiam dos salários para sobreviver.

Maraci Marta de Medeiros Goes, Mara para os companheiros de trabalho, era auxiliar administrativa e também atuava como arquivista no setor de fotografias. “O fechamento da empresa foi um momento muito sofrido. Pegou a todos nós desprevenidos, com contas a pagar”, lembra.

Ela descreve o período que antecedeu o fechamento da empresa como angustiante. “Com salários atrasados e constantes promessas de que a situação iria se regularizar. O tempo ia passando e, com as contas atrasadas, nós íamos perdendo as esperanças. O que nos restava era a nossa união de trabalhadores, e foi essa união que não permitiu, inclusive, que cometêssemos desatinos. Passei inúmeras dificuldades, aluguel atrasado, água e energia cortadas por falta de pagamento. Precisei ir morar com minha irmã. Não tinha dinheiro nem para mudança. Tive que fazer no muque”, relata Mara.

Para ela, a criação da cooperativa “foi a luz no fim do túnel. Depois de muitas tentativas para negociar o recebimento dos salários atrasados e também de não permitir o fechamento da empresa, os trabalhadores não tinham mais o que fazer. Foi quando surgiu a ideia da criação da Jorgraf. Eu costumo afirmar que a cooperativa representa a minha vida. Não só a minha, mas também a de muitos companheiros. Eu estava sem rumo”.

Quando perguntada sobre como é trabalhar na cooperativa, o semblante de Mara modifica e ela abre um sorriso. “Esse é o melhor lugar que trabalhei. O clima é de amizade, sem pressão. Antigamente eu ia trabalhar apreensiva, hoje é bem diferente. Tenho prazer e orgulho em trabalhar nesse ambiente”, afirma.

O presidente da Jorgraf, José Paulo Gabriel dos Santos, destaca a importância do jornal Tribuna Independente. “Não foi fácil chegar onde chegamos. É uma luta diária, com muito ainda a ser feito. Mas temos companheiros excelentes profissionais, que não medem esforços para alcançar o objetivo maior da nossa cooperativa, que é a qualidade da informação. Nossa meta agora é a expansão dos nossos projetos, para que possamos avançar ainda mais e absorver novos profissionais neste mercado restrito, que é o de comunicação. A nossa garra nos trouxe até aqui e, com certeza, novas conquistas virão”, salienta.

Jornal Tribuna Independente já conquistou mais de 60 prêmios

Em quatorze anos de existência, a Tribuna Independente, por meio de seu corpo de jornalistas, que compreende repórteres, repórteres fotográficos e designers gráficos, já conquistou mais de 60 prêmios e vem a cada dia se destacando pela qualidade de seu jornalismo, preocupado em oferecer informação independente e bem apurada à sociedade.

Para a jornalista Ana Paula Omena, vencedora de vários prêmios pela Tribuna Independente, é gratificante ter um trabalho reconhecido. “A sensação é de dever cumprido. Que estou no caminho certo na missão. A luta é árdua, uma batalha diária. Então, quando a gente consegue chegar à meta, é uma felicidade”.

A jornalista Thayanne Magalhães diz que se sente realizada profissionalmente quando tem uma reportagem reconhecida com premiação. “A Tribuna Independente é um espaço democrático, onde podemos escrever sobre os mais diversos temas, podendo nos pautar para prêmios não somente do jornalismo alagoano, mas nacionalmente”.

O jornalista Carlos Victor Costa afirma que “ganhar um prêmio já é especial e sendo pela Tribuna, um jornal de credibilidade e respeito, melhor ainda”.

Para o repórter fotográfico Sandro Lima, receber um prêmio sempre é motivo de comemoração. “Porque nos mostra que estamos no caminho certo. Ter um reconhecimento ao lado de tantos outros profissionais que atuam nessa área fortalece a categoria. Sinto-me honrado em poder colaborar com as imagens que dizem algo, que possibilitam uma informação à população.”

Os prêmios não significam apenas o reconhecimento individual, é o reconhecimento enquanto cooperativa, que tem excelentes profissionais, que dão duro para levar um conteúdo com credibilidade.

Adailson Calheiros, também repórter fotográfico premiado, afirma que o reconhecimento, por meio de um prêmio, eleva a autoestima e reforça ainda mais a credibilidade. “Não somente individual, mas representa, principalmente, a qualidade do material produzido pela Tribuna Independente.”

O jornalista Lucas França tem sete anos de formação. “E destes, cinco anos faço parte do quadro de cooperados da Jorgraf, integrando a equipe de produção e reportagem. Nesse período passei pelo impresso, onde atuei em reportagem de rua, e foi justamente nessa época que comecei a ser reconhecido com vários prêmios locais. No total foram sete, todos pela Tribuna Independente e portal Tribuna Hoje. Foram prêmios de jornalismo ambiental, científico, voltados ao setor de seguros, esporte e o último conquistado no dia 25 de outubro deste ano em âmbito nacional foi na área de saúde com a reportagem ‘Hanseníase em Alagoas: Preconceito é maior que a doença’ em parceria com a colega de trabalho que coleciona também muitos prêmios, a jornalista Ana Paula Omena”.

“Isso é importante porque mostra o poder do jornalismo independente e a importância dos conteúdos produzidos para a população. Sou honrado em fazer parte dessa história”, enfatiza Lucas França.